A VOLTA DO JUSTINO
– Que jeito esse Polico? Me admira muito o que o povo andam dizendo! Diz que nesse tempo que passei nas Neves você virou num valentão? Escutei umas prosa, que você anda cantando de galo pras vendas, rastando mala: que num tem homem procê nessa terra; que é muito macho e coisa e tal... me digue se é verdade que você tem treis bago como que anda dizendo...Me admira muito falar desse jeito, pq se é verdade, me mostra, pq somos dois: eu sim é que tenho treis tentos. Por isso q sou macho maxixo maduro e doce, está sabendo.E tem mais: tenho treis e dos grandes, num é pra me gabar nada não.
– Ara, seu Justino, invencionice do povo pra me indispor com a sua excelência. Reverenciou o Polico ainda encolhido num canto.
– Cumo é que é? Tem ou tem, desembucha logo. Deixa de ser subalterno, sô. Mostra logo a macheza que vive alardeando. ...Se tem, mostra logo, deixa de mamparra.
– Baguico atoa, seu Manoel Justino, coisica de nada, mais parece uma íngua. Num passa de ser uma mula, coisa de doença venérica mal curada, consquência dum cancro duro. Agora sua excelência sim é q tem treis bagos, pra fazer justiça às sua grandezas machas. Merece de ter. Se sua excelente pessoa diz q tem é pq tem , gemeu o Polico cheio de dedos, a voz afinada de propósito, se pondo muito inferior.
Trecho do cordel mineiro: Histórias Safadas, por Vitor Hugo Romão, poeta e decifrador.
– ah! É assim é? Possa ser q seje. Tem outra coisa: como q andam dizendo q vc anda desrespeitando minha amásia, rabejando ela na minha ausência. Isso num ta certo! Me digue logo duma vez.
– Ara seu maximiniano, invencionice dessa gente alcoviteira q num tem o que fazer. Pois quer saber? Eu até q sou meio chibungo. Sou viado de tudo. Pois num é q , pelo fato esse até me puzeram o apelido de Póla Curiango, num sabe não? Num dá confiança pra essa prosa de rua não seu Manoel Maximiniano Justino, q num paga a pena, num vale a canseira de vossa excelência, me disculpe.
– A pois então enfia a viola no saco e some! E vamos parar de prosear! E não me chame disso você falou que num gosto. Sabe lá se isso é nome feio, coisa de gente fresca? Tambem não sou teu íntimo, a ponto de dar essas liberdade, tamos conversado? Aceito os michimentos . Num torna noutra que senão vai se aver comigo, some das minhas vistas, desaparece!
Mas, o Polico era potroso mesmo, leva o povo a pensarem que que sesse homem macho de verdade, em respeito ao volume. Ele era homem baixo gordo e rendido. Caminhava com dificuldade , pelo inc^modo do rendimento, o passo arrastado, causo do saco uma enormidade, rescindiva de cachumba recolhida, pode que desceu pros bagos, ele era potroso.Durou pouco o reinado do Polico.
O Justino era o tipo do valentão carranca: quando ria, se ria...era uma crueldade de dentes.
Trecho do cordel mineiro: Histórias Safadas, por Vitor Hugo Romão, poeta e decifrador.