sexta-feira, 22 de maio de 2015
QUEM É VIVO NUNCA APARECE
quinta-feira, 30 de abril de 2015
POLITICA
TRATADO DE PEQUENA POLÍTICA.
-Sobre a aparência das coisas.
Se você‚ um iniciante dessa nobre arte da política deve primeiro pensar um pouco, que a coisa não ‚ nada fácil. Vocêˆ vˆ um desses políticos da velha guarda e fica logo imaginando que ‚ uma boa carreira a seguir, mas tem l os seus percalços. Como dizem os conselheiros de pequena política:
"Vocêˆ vˆ as pingas que eu bebo, mas não vˆ os tombos que levo."
O que segue são conselhos, tirados da experiência.Muito mais um "Vademecum" dos procedimentos e posturas de um candidato a político, do que um tratado completo sobre o assunto política, como um livro teórico de verdadeira política, mas são regras básicas e tiradas dos mestres mineiros e nortistas dessa verdadeira arte de enganar o povo e ainda por cima fazer parecer que está ajudando. Siga os conselhos e tenha a certeza de que no fim acabar ajudando a si mesmo e a seus parentes, bem como a esta gente simples, na aparência, que parece acreditar em tudo que dizem, mas que no fundo são mais velhacos do que você pensa: eles tambem estão tentando melhorar a vidinha deles e esperando ganhar alguma coisa que no fundo são apenas migalhas. V em frente e boa sorte.
Regra básica:
"Não confie em excesso sobre a imagem que vocêˆ pensa estar criando na cabeça dos eleitores." vocêˆ, por exemplo, cria um perfil daquilo que imagina ser:
-Sou um cara honesto..., cumpro o que prometo.
-Tenho princípios..., não posso negar minhas convicções, sou sincero.
-Eles acreditam em mim, não abro mão de minhas opiniões, não mudo de partido.
-Não sei mentir...
Isso tudo, são desejos daquilo que gostaria de ser ou afirma ser. O povo, entretanto ‚ que faz a sua imagem, ele ‚ o seu verdadeiro cliente, na acepção da palavra. Lembre sempre dos conselhos úteis:
"Vocêˆ não ‚ o que ‚ completamente, mas o que parece ser." (Maquiavel Nicola, em O Príncipe, conselhos para)
"• mulher de Cezar, não basta ser honesta, tem de parecer honesta." (Cícero, talvez...)
Muitos, à boca pequena, devem estar dizendo de vocêˆ:
"Aquilo, não passa de um poltrão!... (não se desespere coragem!)
"Caboclinho bom ta aí¡, mas duro de pagar conta..."
"Ele fala assim, diz que faz e acontece, mas na hora do vamos ver: tira o c£ da seringa; mija pra traz ou pra fora do penico..."
"Em Política, mais vale a versão do que o fato." (dizia o sábio José Maria de Alkimin, ministro do governo parlamentarista, governador e vice de muitos cargos elevados.)
"Nada acontece em política como em outros campos, se não der na televisão ou no radio."
Conselhos úteis:
Ar range gente paga (ou troque por favores) para falar bem de você: nunca fale de você por você mesmo. Fala como o Dr. Philadelfo, personagem do livro "Redemunho", de Victor Hugo Rumo:
"Escute, prometa e engavete o processo, não fala mais nada: espere o acaso trabalhar por vocêˆ."
Sobre este conselho £til, tem uma historia muito própria para ser contada,… título de esclarecimento. Ha uns bons tempos atrás, havia um barbeiro, no bairro de Santana, S. Paulo, cuja fama corria de ser amigo do Major e "assim com os homens" do quartel do CPOR, em frente ao qual ele exercia o seu ofício, bem como o de "quebrador de galhos" para aqueles jovens coitados que estavam para servir o ex‚rcito. Cobrava 15 contos de r‚is por consulta, sempre assiduamente procurado. Chegava o Jovem convocado, com os 15 contos na mão e em vão tentava marcar entrevista com dito Major do corpo médico, responsável pelos exames de saúde:
-Você está ficando louco, sô! O Homem ‚ temperamental e pode dar o maior Boró, dizia o barbeiro. Pode tirar de cabeça, que civil não entra em quartel. Deixa comigo, que na próxima vez que for fazer a barba do Major eu acerto tudo. E assim embolsava os 15 contos e simplesmente não fazia nada: deixava o tempo correr.
Acontece que, via de regra, 80 por cento dos convocados era dispensada do serviço militar por falta de alojamento. Aqueles que coincidentemente eram dispensados por este motivo nunca ficavam sabendo e ficavam muito agradecidos, fazendo a propaganda do barbeiro. Aos outros, por infelicidade convocados, dizia ter acontecido uma sindicância, o Major preso para averiguações. -Naquele dia mesmo estava levando cigarros ao major na cadeia, dizia compungido.
Está aí, um exemplo de como o tempo e o acaso pode ser aproveitado em favor de políticos, como o Dr, Philadelfo, um truque muito usado por passadores do "Conto do Vigário". Outro exemplo, usado por advogados chicanistas:
O Cliente chega no escritório com a proposta de dar um presente ao Juiz, afim de ter sentença favorável numa pendenga, diz ao "adevogado" de pedir audiência:
-Vocˆ est ficando maluco, s“! O Homem ‚ sistem tico e danado de ranzinza, diz o advogado. Na audiencia, vocˆ fica sentado perto daquela janela grande do Forum: observe a cara do Juiz, quando eu falar com ele. Na audiencia, o advogado vai at‚ o Juiz e fala baixo, com muito respeito, no ouvido da autoridade:
-Meret¡ssimo, o tempo nÆo anda nada bom, _ato cont¡nuo que aponta em dire‡Æo do seu constituido_posso fechar aquela janela l do fundo? O Juiz, um tanto impaciente, faz o gesto caracter¡stico de concordancia com a cabe‡a.
Volta o caus¡dico e comenta com seu cliente:
-Viu como que ‚ a coisa, o homem j est debaixo do balaio, pode ficar socegado que esta j est no papo. NÆo faz simplesmente nada e deixa o caso correr ao sabor da corrente.
Dal¡, o advogado velhaco ia direto ao opositor do cliente e arquitetava proposta semelhante. Um dos dois lados tinha seten‡a favor vel. Ao perdedor, dizia ter havido uma testemunha inoportuna, imposs¡vel de prever …quela altura dos acontecimentos. Lamentava:
-Sempre se pode recorrer, que estas coisas levam tempo.
Tem uma outra, do vigarista que aposta com dois jogadores de xadrˆs, sem entender nada do assunto senÆo que apenas o registro das posi‡äes das pe‡as e as regras fundamentais do jogo: um amador. Com o jogador mais fraco, uma importancia substancial, alguns contos de r‚is. Com o jogador mais forte, um verdadeiro campeÆo, aposta apenas um conto.
Tudo combinado, o jogo ‚ realizado simultaneamente sem que qualquer dos lados fique sabendo, apenas que em lugares diferentes e em decurso de tempo suficiente para o malandro se movimentar entre as jogadas sucessivas. O vigarista apenas transmite a cada jogador a jogada do outro, criteriosamente anotada no caderninho. Como s¢e acontecer, no fritar dos ovos, ganha o campeÆo que recebe o seu conto de r‚is, tirado dos muitos contos de r‚is ganhados do outro contendor. O saldo, fica como prˆmio pela ast£cia do vigarista.
Conselhos £teis:
NÆo se preocupe em dizer o ¢bvio: ‚ do que o povo mais gosta. Afinal. a maioria nÆo terÆo sutileza bastante para compreender nuances. Mas, nÆo acredite no que fala, exemplo:
-NÆo v na onda de que pobre ‚ virtuoso. O pobre ‚ igual a quarquer um: todos velhacos. Pobres mentem e roubam pouco, compat¡vel com sua condi‡Æo. Ricos roubam muito: ‚ tudo proporcional.
Tem coisas que passam desapercebidas:
-É mais fácil aprovar projetos que causam um pequeno prejuizo para muitos. Veja o sucesso das religiões que nÆo obrigam ao d¡zimo: -Dˆ aquilo que puder, de acordo com a sua consciencia, dizem os pastores, os milagres nÆo sÆo cobrados, mas se por coincidencia a doen‡a se cura por acaso, como na maioria dos casos, o fiel fica "mensalmente" agradecido e manda contribui‡Æo …s escondidas. Veja o apelo dos Bingos, das loterias, rifas e doa‡äes, quase sempre disfar‡adas de ajuda humanitaria aos mais carente. ReligiÆo e tr fico sÆo os melhores negocios de todos os tempos.
"Concorde sempre na aprova‡Æo de propostas que diluam a despesa entre muitos, desde que concordem em aprovar o seu: assine concordando e deixe tudo em banho Maria. Arrisque: afinal a maioria dos projetos acaba engavetada, o processo ‚ sempre lento. No fim cai mesmo ‚ nas costas do povo, mesmo porque nÆo tem outras costas dispon¡veis para cair (exceto os extrangeiros, como querem alguns, se eles deixarem).
Vale sempre o 2§ princ¡pio da termodinƒmica:
"Deixado ao sabor do acaso, o mundo tende para a desordem (alta entropia)."
A sele‡Æo de uma ra‡a de gado ‚ sempre dificultosa e demanda tempo e perspic cia. Desmanchar um plantel ‚ coisa de pouco tempo: ‚ s¢ deixar ao acaso. Conta-se que foram doados duzentas mil cabe‡as de ovelhas geneticamente selecionadas aos assentados de uma reforma agraria no Peru. Ao final de dois anos quando as autoridades vieram constatar a efic cia do assentamento, sabe o que aconteceu com as ovelhas de ra‡a? simplesmente foram comidas pelos assentados, poucas cabe‡as restavam.
Fa‡a discursos com frases bomb sticas mas de sentido vago, como por exemplo:
"A gente, o Homem faz for‡a, usa de bom senso para fazer a escolha certa, pensando estar fazendo melhor para a comunidade, pra depois, chegar num ponto que nÆo era bem aquilo que estava imaginando de fazer no princ¡pio: Qual o quˆ! a vida ‚ emsmo feita de arrependimentos. Mas, nÆo h de ser nada e nÆo tem importancia: Viver o passado ‚ sofrer duas veses. F‚ em Deus e p‚ na t bua ( como dizia o velho Ademar de Barros"
O homem comum adora frases de efeito. Colecione algumas para as ocasiäes oportunas, como por exemplo, diga com voz embargada pela como‡Æo:
-"O que est feito, nÆo est por fazer!..."
"A gente fazemos de tudo para nÆo fazer m figura. Capricha pra nÆo montar em porco: evem o destino e nos prega uma pe‡a, colocando nos diante de um rid¡culo irremediavelmente irremov¡vel., tenho dito!
Maxima:
"O bem deve ser adiministrado em conta-gotas, j o mal duma veis, deve chegar de-repente. As nome‡äes devem ser deixadas para todo o mandato. J as demissäes, tudo duma vez, nos primeiros 100 dias de mandato. Depois fica dif¡cil, porque os atingidos se arregimentam e pedem prote‡Æo pros adversarios da pol¡tica.
Isto, faz lembrar o Ministro Jos‚ Linhares do supremo tribunal, ocupando interinamente o cargo de presidente, que foi muito criticado por nomear parentes e por este fato conhecido como Jos‚ Milhares, dizia:
-Vocês falam assim ‚ porque não conhecem os meus parentes: de caraj vou nomeando todos para que me dêem sossego para governar tranquilamente.
Nomeou todos os parentes e um só do partido adversário, para servir de desculpa. Inquirido dizia:
-Nomeei para ficar livre: aquela gente ‚ terrível, não me deixa governar. Fiz tudo que fiz por puro patriotismo.
Arrange um apelido complacente, antes que ponham algum ridículo, que para estas coisas o povo tem muita sabedoria: acabam colocando o apelido que adapta perfeitamente a sua personalidade. Isto pode ser fatal.
-Nunca esteja presente numa hora de comunicações extremas. Telegramas funcionam bem, lembre aniversários.
Diga sempre o nome do eleitor. Não tem nada que mais agradedo que escutar o próprio nome repetido varias vezes.
Não tema nunca perder aquela sua mais cara ideologia. As idéias estão sempre mudando, nada é tão importante para ser definitivo. Escolhendo uma vocˆ corre o risco de carregar aquela cruz pro resto da vida: vocˆ vira o pai da crian‡a e conhecido por sua parte ruim. Assistimos nestes tempos a queda de conceitos ideol¢gicos que pareciam a £ltima palavra em pol¡tica e que levou de cambuiada os ideais de jovens e velhos que ainda carregam o triste fardo de defender tais conceitos e morrem velhos sem possibilidade de mudar os pensamentos.
NÆo tenha vergonha de renegar princ¡pios e se tornar um vira casaca: sempre ‚ poss¡vel dizer que acompanha os ventos novos da pol¡tica. os concweitos precisam ser renovados, o povo gosta de renova‡Æo ainda que nÆo entenda bem o seu significado. Mude de partido sempre que for conveniente, nÆo se deixe arrastar por uma id‚ia em decadencia, pode ser a sua ruina pol¡tica. Nada ‚ mais agradavel do que ver jogado por terra uma velha teoria, uma cren‡a antiga que se preza muito no momento, mas que ‚ pesada demais para continuar carregando. Sacode a poeira, disfarce e jogue terra por cima.
Fuja daquelas pessoas de convic‡äes inabalaveis. Geralmente essas, quando sustentadas por gente do poder, leva ao sacrificio de inocentes que essas convic‡äes pretendiam defender. Seja moderno, mas sem ostenta‡Æo. O pior de tudo ‚ que nunca temos certeza do quanto leva para uma boa teoria ou doutrina cair em desuso ou ser desmascarada. Nesse interim muita gente ‚ sacrificada. Uma teoria ‚ apenas um modo muito particular de explicar a realidade. NÆo existe a verdade absoluta e definitiva. UMa teoria ‚ igual a quarquer outra como meio de enxergar a realidade.NÆo se esque‡a de que o conhecimento das coisas est muito disperso e em estagio diferente pra muitos. NÆo se envergonhe de ser conservador, posto que a maioria o ‚. Nossa percep‡Æo do mundo ‚ muito simplificada e limitada pelo pequeno alcance dos nossos sentidos. Muito daquilo que percebemos pelos nossos sentidos (vemos ou sentimos), nÆo passa de disfarce ou visagem distorcida da realidade, como acontece nos desertos, que est muito alem da nossa capacidade. Quando olhamos o firmamento, estamos convictos de perceber a realidade. Julgamos estar percebendo a realidade pela luz das estrelas, quando na verdade estamos vendo luzes de estrelas que deixaram de existir ha bilhäes de anos, a luz delas s¢ agora chegando … nossa percep‡Æo. Pode estar segura que um dia chegar em que qualquer teoria ser negada. A verdade das coisas ‚ transit¢ria: s¢ serve enquanto uma teoria melhor nÆo se apresente e a substitua. NÆo existem mais inven‡äes, o mundo muito complicado: as belezas estÆo por a¡: n¢s ‚ que descobrimos um meio de chegar perto delas. uma sequencia banal de numeros: 1, 3, 9, 27, ... , esconde uma realidade de indescritivel beleza. Opera‡äes simples com numeros podem levar a desenhos de beleza iniginavel do Caos. As figuras do caos, produzida pelas itera‡äes repetidas de numeros complexos, existiam antes que estes numeros tivessem sido inventados. A estrutura complexa das folhas e galhos de um vegetal ‚ feita por leis de aparencia extremamente simples. Por isto, nÆo se deixe enganar por pessoas com ares de intelectual. Ali s, como diz o velho reclame:
"Na vida, tudo ‚ passageiro: de menos o cobrador e o motorneiro."
Tambem em pol¡tica tudo ‚ passageiro. No dizer do velho s bio pol¡tico MagalhÆes Pinto:
"Pol¡tica ‚ como nuvem, que forma aquelas figuras estranhas no c‚u: vocˆ olha parece uma coisa, daqui a pouco a coisa ‚ outra."
Ou como dizia o ilustre colunista social e mestre da obviedade Ibraim Sued:
"Na Inglaterra, o chofer ‚ o outro."
Ou ainda como dizia o mestre Joelmir Betting:
"Na pr tica, a teoria ‚ outra."
Pol¡tica ‚ uma coisa est tica: as veses passa tempo e nada acontece. De repente tudo ‚ o contrario do que era antes.
Um pol¡tico em fim de mandato, precisa tomar o cuidado de arrranjar alguma coisa para por no lugar, senÆo corre o risco de ir para o "Ostracismo". Est sujeito a "ficar no sereno, a pÆo e agua de eleitor", sujeito a chuvas e trovoadas como diz o homem do tempo. Isto acontece, porque a pol¡tica ‚ uma pe‡a cuja representa‡Æo‚ feita com os atores que estÆo em cena no momento: os dispon¡veis. No mais das veses nÆo est escrita, depende dos "desdobramentos", como dizem os cientistas e comentaristas pol¡ticos, ou sÆo escritas pelos pr¢prios atores e autores da pe‡a.
Por isso ‚ que o pol¡tico tem de estar preparado para essas eventualidades da vida. Se o cavalo passar arriado, amonte. pode ser esta a £ltima oportunidade, outra ‚ improv vel. Tem pol¡ticos que duram anos: alguns mais cem como o nosso velho Barbosa Lima Sobrinho, sempre dizendo bobagens e escapando milagrosamente da aposentadoria compuls¢ria. A pol¡tica ‚ surprendente como a morte:
"Uma velha careca que passa de vez em quando, e que fica escondida atraz de alguma moita: se for a sua vez, babau!... Pode ir tratando de liquidar os pendentes, se der tempo..."
A respeito dessa questÆo de tempo, tem aquela do aviÆo em turbulencia, os passageiros todos saltando de paraquedas, vira um rapaz para a senhora idosa, £nicos
que ainda restavam:
-,... desta vez n¢s à! e fez o gesto caracter¡stico da mÆo batendo no buraco feito pela outra mÆo. Ao que a velhota muito espevitada perguntou:
-Ser que d tempo?
As veses quando nada acontece em pol¡tica, carece de criar fatos novos, nem que seja de mal para a gente ficar falando, senÆo os eleitores logo esquecem. Uma boa coisa ‚ trazer a baila fatos corrqueiros como briga de galos e bikinis, como fazia o Dr Janio Quadros. Ou entÆo com cinto de seguran‡a e cigarro, como o Dr Maluf. SÆo fatos que nÆo custo-beneficio: se prejudica uns, outros ganham, o resultado final sendo nulo. Apenas sÆo expedientes para o pol¡tico se manter na berlinda, no noticiario da televisÆo.
sempre bom lembrar que embora o bom senso seja a coisa mais bem distribuida pelas pessoas, o pol¡tico deve ter em conta que o conhecimento ‚ disperso e nÆo uniforme, nÆo chegando junto para todo mundo.
Por outro lado a pol¡tica ‚ dinƒmica: de repente muda tudo sem nenhum aviso pr‚vio, como lembrava o querido Tancredo Neves, ministro pela situa‡Æo e presidente pela oposi‡Æo. O pol¡tico quase nunca ‚ o agente das mudan‡as. Quase sempre tem de se adaptar ao decorrer dos acontecimentos.
"As formigas num tronco descendo a correnteza, duma enchente, tˆm a n¡tida impressÆo que estÆo conduzindo o processo. O verdadeiro pol¡tico ‚ est¢ico: deve estar acostumado … priva‡äes que a campanha faz emergir e deve aprender a "engolir sapos". No fim, resumindo: "pra quem gosta, ‚ um prato cheio". Tem de se habituar a beneficiar-se do acaso das situa‡äes d£bias: nÆo falar nada, as veses ‚ solu‡Æo. Ou entÆo quando prejudicadopela situa‡Æo, inventar. Vale muito a presen‡a de esp¡rito, como no caso do pol¡tico que mandou abra‡o ao pai do eleitor, normalmente chamado de progenitor. Tomado de surpreza quando o eleitor disse ser imposs¡vel, porque o pai havia morrido antes da £ltima elei‡Æo, saiu-se com esta p‚rola:
"Morto para vocˆ, mas continua vivo e pulsando aqu¡ ¢!, neste cora‡Æo velho de guerra", gesticulava vigorosamente, a mÆo batendo contra o peito.
Prometa sempre, as coisas mais imposs¡veis: para o pol¡tico nÆo existe nada imposs¡vel, desde que haja tempo. Enquanto isso v engambelando o coitado do eleitor, tendo ele sempre no cabresto ou debaixo do balaio como eles dizem. Diga que est assim com os homens no federal e no estadual e pode quebrar os galhos mais dificeis. Mas nada de levar o clliente junto na hora de resolver situa‡äes dif¡ceis que envolvam uma certa dose de corrup‡Æo porque a¡ o pol¡tico l de cima fica velhaco e cheio meios termos: precisa tambem demonstrar que ‚ honesto como convem a todo pol¡tico que se preza., isto ‚: parecer honesto, embora transija com algumas falcatruas. Se o cliente eleitoral manifestar o desejo de ir junto, demova-o ou invente uma impossibilidade:
-"Que o Homem ‚ temperamental e coisa e tal, muito sistem tico e coisa e loisa, nem ‚ boa coisa ficar exposto … curiosidade dessa gentinha bisbilhoteira._ Deixa por minha conta que j estou acostumada com as formalidades das autoridades da alta pol¡tica: andam sempre ocupados e vivem na corda bamba, o ambiente perigos¡ssimo e quem nÆo for de circo, nÆo sobrevive l nas alturas dos palacios: aquilo tem uma estrutura hier rquica muito bem definida, cada palmo de poder disputado com unhas e dentes. L ‚ que moram as verdadeiras raposas da pol¡tica. Cuidado, nÆo exponha os chefes a quarquer risco. Sempre tem alguem … espreita, as veses at‚ "quinta coluna", trabalhando em surdina para o adversario. Quem pensar que vida de pol¡tico ‚ f cil se engana redondamente. O trabalho ‚ rduo por incr¡vel que pare‡a e a clientela, da pior esp‚cie: s¢ gente pobre precisando das coisas.
Visitas de cortezia, sim, que nesta hora ‚ at‚ um descanso pro chefe. Ele vai abra‡ar demoradamente o capiau da ro‡a e perguntar pela sa£de dos familiares com com mem¢ria prodigiosa, recitando o nome de cada um. Nisso eles sÆo bons. As veses podem ocorrer situa‡äes constrangedoras, quando o capiau, muito esperto, resolve por a prova a capacidade do pol¡tico em lembrar nomes. Durante o encontro fica astutamente esperando que o chefÆo decline o seu nome pr¢prio, se o correligion rio ainda nÆo preparou o caminho para o chefe. Quando a situa‡Æo acaba chegando a uma esp‚cie de confronto, o chefe pegunta: -Qual ‚ mesmo a gra‡a do seu progenitor e de sua "senh“ra", o nome completo, senhor Silveira? estou completando aqu¡ os dados pessoais para a eventulidade de uma solicit‡ao burocr tica de alguma reparti‡Æo, o senhor como esta gente ‚, nÆo ‚ mesmo?
Isto ele faz, j empunhando a caneta dourada, na esperan‡a de alguma luz relacionada com o nome do pai. Ou entÆo ele questiona com ar distra¡do o nome completo do pr¢prio eleitor, como se cumprisse tarefa extenuante. Vˆ-se na expressÆo aflita, o cenho carregado, que a¡ o pol¡tico sofre. Mas o eleitor maroto nÆo se deixa vencer:
-Fale o senhor o primeiro nome que eu completo.
Nessas alturas dos acontecimentos, necessaria se torna uma interven‡Æo salvadora do correligionario al¡ do lado. Vocˆ, que entende dessas coisas e j passou por situa‡Æo semelhante, saber usar de artif¡cio pr¢prio, como chamar a aten‡Æo do compadre para algum fato corriqueiro acontecendo al¡ por perto. O chefe, aliviado, ficar muito agradecido pela providencia salvadora e saber recompens -lo na ocasiÆo oportuna.
Combine uma senha com o cliente para o encontro com a autoridade. Uma gravata dada de antemÆo ao chefe, que vocˆ pedir a ele na v‚spra que faz questÆoque a use na ocasiÆo do encontro ou da audiˆncia. Essa visitas de cortezia sÆo muito proveitosas porque os basbaques gostam de mostrar intimidades com as autoridades. De bom alvitre seria, que nestas ocasiäes se tirassem fotografias junto com os chefes pol¡ticos, necessarias tambem para o correligionario para mostrar prest¡gio junto …s bases. Esteja sempre atento ao ritual da pol¡tica que ele ‚ cheio de meandros. Nestas ocasiäes fa‡a visitas cansativas … camara de vereadores e assembl‚ia legislativa: o correligionario vai ficar exultando de felicidade. Cumprimente efusivamente os deputados nos corredores. Pode ter certeza que corresponderÆo …s sauda‡äes, mesmo nÆo conhecendo quem sa£dam. O ambiente nestas casa ‚ sempre de muita cordialidade, para aquele que est frequentando pela primeira vez sentir um certo gosto pelo poder que emana dos predios faustosos e mo¢veis s¢brios: o cliente fica estupefacto, como se fizesse parte daquela engrenagem de poder e gl¢ria. Vai ter muito que contar aos parentes e amigos na volta: isso para ele representando tambem uma parcela do poder que coleu do conv¡vio com autoridades tÆo ilustres.
Minta ao cliente que a confirma‡Æo do "acerto", ser indicada pelo uso da horrivel gravata de tric“, feita com todo carinho por sua sogra e presenteada na ocasiÆo da visita … cidade natal de ambos. Mesmo que constrangido, o chefe jamais deixar de atender ao pedido de us -la na ocasiÆo do encontro.
-Combine do cliente ficar sentadinho num canto e v l cheio de desculpas e pergunte uma bobagem qualquer sem rela‡Æo com o caso em tela. Pondo a mÆo na cadeira, se abaixe e segrede no ouvido da autoridade. Aponte no rumo do cliente, dando a n¡tida impressÆo de que fala sobre ele. Isto funciona. NÆo imagina com as pessoas do povo sÆo simples e tolas de associar a concordancia com o gesto simples de meneio de cabe‡a da autoridade, levantada naquela dire‡Æo. Mas nÆo fa‡a absolutamente nada: deixe o acaso operar milagres para vocˆ. Seja paciente.
J contei a historia do barbeiro de Santana, zona norte de SÆo paulo, conhecido como grande quebrador de galhos em todo o territ¢rio nacional. Ele procedia da forma que vocˆ, pol¡tico deve sempre proceder: nÆo fa‡a absolutamente nada. Engavete os pedidos dos eleitores que afinal ‚ humanamente imposs¡vel de atender a todos. Cumpra s¢ alguns, os que chamam mais aten‡Æo, como cadeira de rodas, ¢culos e dentaduras: imposs¡vel esconder um objeto dessa natureza quando o eleitor se fazer presente: eles sÆo muito vis¡veis.
Eis alguns exemplos de esperteza usados por camel“s para tirar vantagens de incautos:
Nem todo mundo sabe que a m‚dia aritim‚tica ‚ maior do que a m‚dia geom‚trica. Use isto em seu favor. Exemplo, dados tres numeros: 4, 6, 8.
M‚dia aritim‚tica = 6 e media geom‚trica = 5,7. Todo mundo pensa que ‚ a mesma coisa.
Outro exemplo:
Nem todos sabem que numa conta paga em parcelas, os juros incidem sobre a m‚dia do principal e nÆo sobre o capital pr•priamente dito. Ao propor o neg¢cio vocˆ pode argumentar que os juros sÆo ¡nfimos. A maioria nÆo se importa em pagar juros. Quer apenas saber se pode pagar a presta‡Æo.
Imobiliarias inescrupulosas oferecem a venda im¢veis com prest‡Æo inferior ao aluguel, como se isto fosse poss¡vel. Vocˆ sabe que o limite m¡nimo da prest‡Æo ‚ o juros do capital, nÆo tem como ser inferior. Use truques dessa natureza para angariar votos.
Neste pequeno tratado de pol¡tica vocˆ deve aprender e estar familiarizado com promessas:
Procure mostrar que tem sentimentos elevados: reclame das injusti‡as, porque h muita gente em situa‡Æo dif¡cil. Mas procure situ -las num terreno abstrato, dificil de caracterizar. Fale sempre no plural e no gen‚rico. Demonstre que tem ideais edificantes. A maioria ainda acredita nessas baboseiras.Por mais dif¡cil que lhe pare‡a, cite o ¢bvio, personalize a questÆo, demostre as coisas no terreno do pessoal, perguntando:
-Se fosse vocˆ, ..., no meu lugar nÆo faria o mesmo?
Brade com voz gutural e embargada contra a desonestidade ,.dos outros, é claro.
Conselho útil:
Mostrar com veemência que dá muito valor aos direitos humanos e direitos de minoria, mas jamais acredite nessas coisas, até o eleitor sabe que é pura baboseira. Mas é de bom tom que todos acreditem nelas. Valem muito como campanha, alardeie o fato.
Acredite em pesquisas e na boca de urna. Nada mais eficaz do que pesquisas, especialmente se manejadas com habilidade, arma que você deve usar comprando pesquisas fajutas contra o adversário ou que lhe dão ligeira vantagem sobre ele. Não apregoe que você está muito na frente porque alem de pouco convincentes tem o efeito de esmorecer o trabalho de correligionários, tambem para estimular o ânimo do adversário fazendo-o gastar energia com um setor já ganho por ele. No caso de eleito para vereador, use a tática de dizer que fulano, do lado contrario já ganhou, principalmente se for candidato forte, cujo valor não vale a pena contestar. Sempre se pode pedir numa familia a reserva de uns preciosos votos para voc^, uma vez que o candidato oposto nem vai perceber a perca dos votos. Este processo ‚ altamente destrutivo, chegando as veses ao caso da não elei‡Æo de candidatos tidos como fortes.
Procure se inteirar dos movimentos do seu adversario e das conversas. Mantenha quintas-coluna trabalhando no campo do adversario …s suas espensas., nÆo despreze nenhuma possibilidade, por remota que pare‡a: lembre que em elei‡Æo tudo ‚ permitido, menos perder.
Evite de adotar as novas id‚ias, muito revolucionarias. Pareça adepto de novas idéias apenas para o fim de parecer moderno, jamais as pratique, sobretudo porque a maior parte das realizações possíveis já é sobejamente conhecida e pouco coisa existe para realizar, considerando a exigüidade dos orçamentos. Muito mais importante ‚ que realiza‡äes nÆo desperta o m¡nimo interesse, o que realmente importa ‚ vocˆ ser identificado como va¡culo de uma vingan‡a ou repara‡Æo de injusti‡a: o eleitor sanciona a repara‡Æo. Em £ltimo lugar porque id‚ias novas fornecem material para o ataque e zombaria dos adversarios, combatendo vocˆ, deturpando-as. Mas nÆo caia em contradi‡Æo quando os feitos forem evidentes demais para poderem ser desvalorizados: Diga que foram poss¡veis gra‡as a sua ajuda e pelo montante de verbas que você conseguiu, ajudando em prol da causa comum, mas que vocˆ sempre faria melhor ainda.
Jamais seja equânime elogiando obras do adversário: sempre você ˆ poderia fazer melhor. Jogue duro e deslealmente se poss¡vel, porque muito pouco se tem para colher, alem de mingueras. Tenha sempre em conta a máxima do Valadares:
"Aos correligionários tudo, aos inimigos a lei." Nunca diga que já ganhou, seja modesto e responda como o mestre Tancredo:
"A política é uma garimpagem de votos escondidos: eleição e mineração, s¢ depois da apuração."
Evite os comícios e aglomerações de porta de venda: é lá que mora o perigo. O eleitor alcoolizado ganha coragem para fazer graçolas cujo desfecho é inesperado: escape do assédio de bebuns. Mas, se de tudo for imperativo, diga nos comícios só lugares comuns e frases bombásticas de efeito local. Piada, só de político distante, sem possibilidade de contestação. Como aquela do velho Ademar de Barros que, tropeçando de bêbado ao descer do trem na chegada para o comício, cai estatelado. Ao que prontamente o repórter anuncia ao microfone:
"Emocionado, Ademar beija o solo de nossa querida Taquaritinga."
Outra que contam do velho Ademar aconteceu num comício na cidade de Santos, o velho guerreiro discursando:
"Gente da minha terra, povo da Baixada Santista: enquanto o rico dorme em cama de colchão mole, o pobre dorme em cama de pau duro."
Continuando:
"Nestes bolsos aqui, até hoje nunca entrou dinheiro público"
E gesticulava revirando os bolsos em gesto conhecido. Ao que um gaiato completou:
—Calça nova em Ademar!
—Damascu!..., Damascu!...
Gritava a multidão, vivando o nome do candidato a vereador da região.
Use expressões patriarcais como a dos padres: cruze os braços, aperte a mão contra outra, em atitude de união e calma protetora. Faça gestos solenes, fechando um discurso de frases de efeito edificante, mas sentido preciso:
"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe."
O Zé povinho adora provérbios e brocardos, para eles uma demonstração inequívoca de conhecimento. Procure dizer da cidade que você ama, chamando de Torrão natal: que por ela faz qualquer coisa, até ser candidato contra a sua vontade, inclusive com o sacrifício da própria vida se preciso for. Tudo balela, mas impressiona o eleitor da roça.
Refira-se ao seu arquiinimigo como interesseiro em bens materiais e destituído de patriotismo, ao contrario de você que não precisa do cargo, mas se sacrifica em prol do bem comum. Amedronte o adversário alardeando gastar fortuna imensa com a campanha. Isso tem dois propósitos: primeiro, o adversário fica obrigado a gastar quantia equivalente e caso ele ganhe, fica arruinado e sem forças para enfrentá-lo na próxima. Procure demonstrar que vai ganhar a eleição, ainda que isto seja remoto: lembre-se que quem entra na política é para sempre, uma viagem sem volta. Tem sempre uma próxima campanha, esta dagora, sendo apenas uma batalha de uma guerra interminável. Ademais o eleitor adora votar no vencedor. Todos os artifícios são permitidos, o que não pode acontecer é perder as eleições. Nunca comece a visita voltando sua atenção para os filhos, respeite o patriarca e dono dos votos. Converse a sós com os membros da família repisando a necessidade de votação maciça em nome do velho: nada de repartição de votos, isso quem decide é o velho. Se o velho propõe de repartir os votos, então pode tirar o cavalo da chuva que aqueles são votos do outro. Neste caso quando tudo está mesmo perdido, a¡, sim mostre grandeza elogiando o adversário: na próxima, com certeza, aqueles votos poderão vir a ser seus. Em política nada pode ser perdido, inclusive promessas futuras: pol¡tica ‚ um jogo pra valer.
O candidato deve conhecer profundamente como se distribuem os eleitores por bairro, nÆo s¢ a quantidade exata, como a sec‡Æo eleitoral, para fazer marcas e massos, como no jogo de baralho, cartas padrÆo indicadoras da companhia de cartas boas. Por exemplo: os mais velhos sempre pertencem … mesma sec‡Æo eleitoral, como seria ¢bvio de se esperar. Assim tambem acontece nas novas sec‡äes dos eleitores novos, cujos nomes você já deve ter de antemão para o caso da qualificação e dos famosos retratos que você vai oferecer gentilmente na ocasião do alistamento eleitoral. Estes jovens eleitores não precisam de grande investigação, porque são sinceros, ainda não aprenderam o jogo sujo da política. Já os mais antigos são sempre os mais velhacos: vendem caro seus votos, porque sabem lidar com o assunto. Quanto às conclusões e anotações, jamais revele qualquer coisa, nem para correligionários: vocêˆ pode correr o risco de um correligionário vira folha bandear com o segredo para hostes adversárias. Guarde tudo a sete chaves, no mais profundo segredo, ou então decore tudo e rasque para não deixar vestígios. Estes conhecimentos são a base para futuras eleições.
Cuidado com cabos eleitorais: eles são muito úteis, mas perigosos. Os profissionais são sempre melhores, pois prezam a profissão: não vão por em risco o valor que se lhes ‚ atribuído como trabalhadores do processo eleitoral. Melhor ainda se forem simpatizantes da causa do adversário: ao longo da campanha são os melhores informantes. Como dizia o Algemem, do velho PSD:
"Dos inimigos cuido eu: medo mesmo, eu tenho é dos amigos"
Procure ter o máximo de ajudantes zelosos para fazer o corpo a corpo da boca de urna e dos últimos dias de campanha que ‚ quando acontecem as viradas: muita eleição já foi decidida nessa hora. Mande acompanhar o eleitor at‚ a sessão eleitoral: não s¢ para ensiná-lo evidentemente, como para se assegurar que cabos adversários se acerquem dele. O lugar mais importante ‚ o da chegada do caminhão: o ponto crucial. Destaque alguém para evitar que dispersem, troque as cédulas todas. Daí¡ para frente o eleitor ‚ sua propriedade, não deve ser deixado sozinho um instante sequer. Para aqueles eleitores mais rebeldes, utilize o expediente da fila boba, que ‚ mais ou menos assim:
Combine de comparecer à sessão, assinar, mas não votar com a cédula oficial, guardá-la no bolso e votar com uma cédula de imitação. Este voto fica perdido, mas a partir d i, o processo ‚ repetido, com a diferença de que a cédula de imitação agora ‚ aquela devolvida pelo anterior e assinada pelo mesário, só que agora devidamente preenchida com X, "adequadamente". Sempre cada eleitor traz de volta uma cédula oficial em branco, como recibo e garantia da compra do voto. Explique bem:
-O papel que vocêˆ vai colocar na urna ‚ este daqui¡. O que mesário te der vocêˆ não abre: guarde na algibeira e traz de volta, se quiser receber o dinheiro da compra. Não tem perigo de quebrar a corrente, o risco existe de um fura fila do adversário que conhece tambem a jogada: paciência! Com a cédula em branco vocêˆ faz u'a marca indelével, num canto, mas insuficiente para anular o voto, como um cagado de mosquito. Assim você tem um meio de conferir, na hora da apuração, qualquer deslize do eleitor que quiser "mijar pra fora do penico". Ao £ltimo da fila ele entrega a c‚dula com o X e pede para o eleitor votar com as duas: assim se recupera o voto perdido com o primeiromda fila. NÆo ‚ fora de prop¢sito dizer que este £ltimo dever ser um correligionario ultra-fiel, para evitar maiores surpresas
Aos eleitores influentes em determinada regiÆo envie cartas de pr¢prio punho, pelo correio: matuto adora receber cartas. Isso mostra que ele ‚ pessoa importante, uma vez que a maioria nÆo sabe ler. Ademais, o caminho percorrido pela carta ‚ longo e cheio de intermediarios: recadeiros, mensageiros, carteiros, etc. e todos do lugar acabam sabendo da ocurrencia. Como o Povinho nÆo mais o que fazer a carta do s“ fulano acaba por se tornar o assunto do dia.
Para o caso de um numero maior, existem cartas padrÆo em tipos de caligrafia manuscrita, mas que encerram um grande perigo: Cartas de conte£do e aparencia iguais recebidas por vizinhos de bairro. Tenha de estoque cartas padrÆocom escritos diferentes para evitar repeti‡äes constrangedora. Mas o melhor mesmo ‚ a carta de pr¢prio punho: d trabalho mas ‚ seguro. A importancia da carta chegar pelo correio e ser manuscrita d ao eleitor a impressÆo de exclusividade, inda mais se for muito pessoal e coincidir com as datas de aniversario e casamento que devem certamente constar de sua agenda pol¡tica. Mas nada de confidencias ou abordagem de assuntos melindrosos porque sua carta acabar se tornando de dom¡nio p£blico.
Durante a campanha, fuja dos bares das aglomera‡äes de portas de venda, que sÆo locais prop¡cios para explora‡Æo financeira do candidato. Com a cabe‡a cheia de pinga os roceiros perdem o acanhamento e se tornam irreverentes. Perdem o respeito e acabam fazendo gracejos inconvenientes. Eleitor de porta de venda não é de ninguém. Nunca se lembra de quem pagou a cachaça.
Ao chegar numa casa, se certifique antes de perguntar por parentes que porventura já hajam falecido para evitar constrangimento e a cujo velório você não compareceu como manda o figurino: dá ensejo a muitos constrangimentos. A regra é‚ comparecer aos velórios com conhecimento dos verdadeiros parentes do finado para não "amontar em porco". Mas todo cuidado é pouco: não vá dar pêsames à pessoa indevida.
Nestas ocasiões mostre uma cara séria e compungida. Jamais faça brincadeiras que o momento exige respeito. Cumprimente cada um com abraços demorados, batendo amigavelmente com as mãos em concha nas costas do correligionário e sacudindo vigorosamente para dar maior segurança e conforto, dizendo aqueles surrados cumprimentos de praxe:
-Pêsames! Não há de ser nada comadre. Deus quis assim: Deus o levou. Deus haverá de lhe dar conforto nesta hora extrema.
Seja breve e pouco original: enganos, nestas ocasiões, acabam sendo fatais.
-Sobre a aparência das coisas.
Se você‚ um iniciante dessa nobre arte da política deve primeiro pensar um pouco, que a coisa não ‚ nada fácil. Vocêˆ vˆ um desses políticos da velha guarda e fica logo imaginando que ‚ uma boa carreira a seguir, mas tem l os seus percalços. Como dizem os conselheiros de pequena política:
"Vocêˆ vˆ as pingas que eu bebo, mas não vˆ os tombos que levo."
O que segue são conselhos, tirados da experiência.Muito mais um "Vademecum" dos procedimentos e posturas de um candidato a político, do que um tratado completo sobre o assunto política, como um livro teórico de verdadeira política, mas são regras básicas e tiradas dos mestres mineiros e nortistas dessa verdadeira arte de enganar o povo e ainda por cima fazer parecer que está ajudando. Siga os conselhos e tenha a certeza de que no fim acabar ajudando a si mesmo e a seus parentes, bem como a esta gente simples, na aparência, que parece acreditar em tudo que dizem, mas que no fundo são mais velhacos do que você pensa: eles tambem estão tentando melhorar a vidinha deles e esperando ganhar alguma coisa que no fundo são apenas migalhas. V em frente e boa sorte.
Regra básica:
"Não confie em excesso sobre a imagem que vocêˆ pensa estar criando na cabeça dos eleitores." vocêˆ, por exemplo, cria um perfil daquilo que imagina ser:
-Sou um cara honesto..., cumpro o que prometo.
-Tenho princípios..., não posso negar minhas convicções, sou sincero.
-Eles acreditam em mim, não abro mão de minhas opiniões, não mudo de partido.
-Não sei mentir...
Isso tudo, são desejos daquilo que gostaria de ser ou afirma ser. O povo, entretanto ‚ que faz a sua imagem, ele ‚ o seu verdadeiro cliente, na acepção da palavra. Lembre sempre dos conselhos úteis:
"Vocêˆ não ‚ o que ‚ completamente, mas o que parece ser." (Maquiavel Nicola, em O Príncipe, conselhos para)
"• mulher de Cezar, não basta ser honesta, tem de parecer honesta." (Cícero, talvez...)
Muitos, à boca pequena, devem estar dizendo de vocêˆ:
"Aquilo, não passa de um poltrão!... (não se desespere coragem!)
"Caboclinho bom ta aí¡, mas duro de pagar conta..."
"Ele fala assim, diz que faz e acontece, mas na hora do vamos ver: tira o c£ da seringa; mija pra traz ou pra fora do penico..."
"Em Política, mais vale a versão do que o fato." (dizia o sábio José Maria de Alkimin, ministro do governo parlamentarista, governador e vice de muitos cargos elevados.)
"Nada acontece em política como em outros campos, se não der na televisão ou no radio."
Conselhos úteis:
Ar range gente paga (ou troque por favores) para falar bem de você: nunca fale de você por você mesmo. Fala como o Dr. Philadelfo, personagem do livro "Redemunho", de Victor Hugo Rumo:
"Escute, prometa e engavete o processo, não fala mais nada: espere o acaso trabalhar por vocêˆ."
Sobre este conselho £til, tem uma historia muito própria para ser contada,… título de esclarecimento. Ha uns bons tempos atrás, havia um barbeiro, no bairro de Santana, S. Paulo, cuja fama corria de ser amigo do Major e "assim com os homens" do quartel do CPOR, em frente ao qual ele exercia o seu ofício, bem como o de "quebrador de galhos" para aqueles jovens coitados que estavam para servir o ex‚rcito. Cobrava 15 contos de r‚is por consulta, sempre assiduamente procurado. Chegava o Jovem convocado, com os 15 contos na mão e em vão tentava marcar entrevista com dito Major do corpo médico, responsável pelos exames de saúde:
-Você está ficando louco, sô! O Homem ‚ temperamental e pode dar o maior Boró, dizia o barbeiro. Pode tirar de cabeça, que civil não entra em quartel. Deixa comigo, que na próxima vez que for fazer a barba do Major eu acerto tudo. E assim embolsava os 15 contos e simplesmente não fazia nada: deixava o tempo correr.
Acontece que, via de regra, 80 por cento dos convocados era dispensada do serviço militar por falta de alojamento. Aqueles que coincidentemente eram dispensados por este motivo nunca ficavam sabendo e ficavam muito agradecidos, fazendo a propaganda do barbeiro. Aos outros, por infelicidade convocados, dizia ter acontecido uma sindicância, o Major preso para averiguações. -Naquele dia mesmo estava levando cigarros ao major na cadeia, dizia compungido.
Está aí, um exemplo de como o tempo e o acaso pode ser aproveitado em favor de políticos, como o Dr, Philadelfo, um truque muito usado por passadores do "Conto do Vigário". Outro exemplo, usado por advogados chicanistas:
O Cliente chega no escritório com a proposta de dar um presente ao Juiz, afim de ter sentença favorável numa pendenga, diz ao "adevogado" de pedir audiência:
-Vocˆ est ficando maluco, s“! O Homem ‚ sistem tico e danado de ranzinza, diz o advogado. Na audiencia, vocˆ fica sentado perto daquela janela grande do Forum: observe a cara do Juiz, quando eu falar com ele. Na audiencia, o advogado vai at‚ o Juiz e fala baixo, com muito respeito, no ouvido da autoridade:
-Meret¡ssimo, o tempo nÆo anda nada bom, _ato cont¡nuo que aponta em dire‡Æo do seu constituido_posso fechar aquela janela l do fundo? O Juiz, um tanto impaciente, faz o gesto caracter¡stico de concordancia com a cabe‡a.
Volta o caus¡dico e comenta com seu cliente:
-Viu como que ‚ a coisa, o homem j est debaixo do balaio, pode ficar socegado que esta j est no papo. NÆo faz simplesmente nada e deixa o caso correr ao sabor da corrente.
Dal¡, o advogado velhaco ia direto ao opositor do cliente e arquitetava proposta semelhante. Um dos dois lados tinha seten‡a favor vel. Ao perdedor, dizia ter havido uma testemunha inoportuna, imposs¡vel de prever …quela altura dos acontecimentos. Lamentava:
-Sempre se pode recorrer, que estas coisas levam tempo.
Tem uma outra, do vigarista que aposta com dois jogadores de xadrˆs, sem entender nada do assunto senÆo que apenas o registro das posi‡äes das pe‡as e as regras fundamentais do jogo: um amador. Com o jogador mais fraco, uma importancia substancial, alguns contos de r‚is. Com o jogador mais forte, um verdadeiro campeÆo, aposta apenas um conto.
Tudo combinado, o jogo ‚ realizado simultaneamente sem que qualquer dos lados fique sabendo, apenas que em lugares diferentes e em decurso de tempo suficiente para o malandro se movimentar entre as jogadas sucessivas. O vigarista apenas transmite a cada jogador a jogada do outro, criteriosamente anotada no caderninho. Como s¢e acontecer, no fritar dos ovos, ganha o campeÆo que recebe o seu conto de r‚is, tirado dos muitos contos de r‚is ganhados do outro contendor. O saldo, fica como prˆmio pela ast£cia do vigarista.
Conselhos £teis:
NÆo se preocupe em dizer o ¢bvio: ‚ do que o povo mais gosta. Afinal. a maioria nÆo terÆo sutileza bastante para compreender nuances. Mas, nÆo acredite no que fala, exemplo:
-NÆo v na onda de que pobre ‚ virtuoso. O pobre ‚ igual a quarquer um: todos velhacos. Pobres mentem e roubam pouco, compat¡vel com sua condi‡Æo. Ricos roubam muito: ‚ tudo proporcional.
Tem coisas que passam desapercebidas:
-É mais fácil aprovar projetos que causam um pequeno prejuizo para muitos. Veja o sucesso das religiões que nÆo obrigam ao d¡zimo: -Dˆ aquilo que puder, de acordo com a sua consciencia, dizem os pastores, os milagres nÆo sÆo cobrados, mas se por coincidencia a doen‡a se cura por acaso, como na maioria dos casos, o fiel fica "mensalmente" agradecido e manda contribui‡Æo …s escondidas. Veja o apelo dos Bingos, das loterias, rifas e doa‡äes, quase sempre disfar‡adas de ajuda humanitaria aos mais carente. ReligiÆo e tr fico sÆo os melhores negocios de todos os tempos.
"Concorde sempre na aprova‡Æo de propostas que diluam a despesa entre muitos, desde que concordem em aprovar o seu: assine concordando e deixe tudo em banho Maria. Arrisque: afinal a maioria dos projetos acaba engavetada, o processo ‚ sempre lento. No fim cai mesmo ‚ nas costas do povo, mesmo porque nÆo tem outras costas dispon¡veis para cair (exceto os extrangeiros, como querem alguns, se eles deixarem).
Vale sempre o 2§ princ¡pio da termodinƒmica:
"Deixado ao sabor do acaso, o mundo tende para a desordem (alta entropia)."
A sele‡Æo de uma ra‡a de gado ‚ sempre dificultosa e demanda tempo e perspic cia. Desmanchar um plantel ‚ coisa de pouco tempo: ‚ s¢ deixar ao acaso. Conta-se que foram doados duzentas mil cabe‡as de ovelhas geneticamente selecionadas aos assentados de uma reforma agraria no Peru. Ao final de dois anos quando as autoridades vieram constatar a efic cia do assentamento, sabe o que aconteceu com as ovelhas de ra‡a? simplesmente foram comidas pelos assentados, poucas cabe‡as restavam.
Fa‡a discursos com frases bomb sticas mas de sentido vago, como por exemplo:
"A gente, o Homem faz for‡a, usa de bom senso para fazer a escolha certa, pensando estar fazendo melhor para a comunidade, pra depois, chegar num ponto que nÆo era bem aquilo que estava imaginando de fazer no princ¡pio: Qual o quˆ! a vida ‚ emsmo feita de arrependimentos. Mas, nÆo h de ser nada e nÆo tem importancia: Viver o passado ‚ sofrer duas veses. F‚ em Deus e p‚ na t bua ( como dizia o velho Ademar de Barros"
O homem comum adora frases de efeito. Colecione algumas para as ocasiäes oportunas, como por exemplo, diga com voz embargada pela como‡Æo:
-"O que est feito, nÆo est por fazer!..."
"A gente fazemos de tudo para nÆo fazer m figura. Capricha pra nÆo montar em porco: evem o destino e nos prega uma pe‡a, colocando nos diante de um rid¡culo irremediavelmente irremov¡vel., tenho dito!
Maxima:
"O bem deve ser adiministrado em conta-gotas, j o mal duma veis, deve chegar de-repente. As nome‡äes devem ser deixadas para todo o mandato. J as demissäes, tudo duma vez, nos primeiros 100 dias de mandato. Depois fica dif¡cil, porque os atingidos se arregimentam e pedem prote‡Æo pros adversarios da pol¡tica.
Isto, faz lembrar o Ministro Jos‚ Linhares do supremo tribunal, ocupando interinamente o cargo de presidente, que foi muito criticado por nomear parentes e por este fato conhecido como Jos‚ Milhares, dizia:
-Vocês falam assim ‚ porque não conhecem os meus parentes: de caraj vou nomeando todos para que me dêem sossego para governar tranquilamente.
Nomeou todos os parentes e um só do partido adversário, para servir de desculpa. Inquirido dizia:
-Nomeei para ficar livre: aquela gente ‚ terrível, não me deixa governar. Fiz tudo que fiz por puro patriotismo.
Arrange um apelido complacente, antes que ponham algum ridículo, que para estas coisas o povo tem muita sabedoria: acabam colocando o apelido que adapta perfeitamente a sua personalidade. Isto pode ser fatal.
-Nunca esteja presente numa hora de comunicações extremas. Telegramas funcionam bem, lembre aniversários.
Diga sempre o nome do eleitor. Não tem nada que mais agradedo que escutar o próprio nome repetido varias vezes.
Não tema nunca perder aquela sua mais cara ideologia. As idéias estão sempre mudando, nada é tão importante para ser definitivo. Escolhendo uma vocˆ corre o risco de carregar aquela cruz pro resto da vida: vocˆ vira o pai da crian‡a e conhecido por sua parte ruim. Assistimos nestes tempos a queda de conceitos ideol¢gicos que pareciam a £ltima palavra em pol¡tica e que levou de cambuiada os ideais de jovens e velhos que ainda carregam o triste fardo de defender tais conceitos e morrem velhos sem possibilidade de mudar os pensamentos.
NÆo tenha vergonha de renegar princ¡pios e se tornar um vira casaca: sempre ‚ poss¡vel dizer que acompanha os ventos novos da pol¡tica. os concweitos precisam ser renovados, o povo gosta de renova‡Æo ainda que nÆo entenda bem o seu significado. Mude de partido sempre que for conveniente, nÆo se deixe arrastar por uma id‚ia em decadencia, pode ser a sua ruina pol¡tica. Nada ‚ mais agradavel do que ver jogado por terra uma velha teoria, uma cren‡a antiga que se preza muito no momento, mas que ‚ pesada demais para continuar carregando. Sacode a poeira, disfarce e jogue terra por cima.
Fuja daquelas pessoas de convic‡äes inabalaveis. Geralmente essas, quando sustentadas por gente do poder, leva ao sacrificio de inocentes que essas convic‡äes pretendiam defender. Seja moderno, mas sem ostenta‡Æo. O pior de tudo ‚ que nunca temos certeza do quanto leva para uma boa teoria ou doutrina cair em desuso ou ser desmascarada. Nesse interim muita gente ‚ sacrificada. Uma teoria ‚ apenas um modo muito particular de explicar a realidade. NÆo existe a verdade absoluta e definitiva. UMa teoria ‚ igual a quarquer outra como meio de enxergar a realidade.NÆo se esque‡a de que o conhecimento das coisas est muito disperso e em estagio diferente pra muitos. NÆo se envergonhe de ser conservador, posto que a maioria o ‚. Nossa percep‡Æo do mundo ‚ muito simplificada e limitada pelo pequeno alcance dos nossos sentidos. Muito daquilo que percebemos pelos nossos sentidos (vemos ou sentimos), nÆo passa de disfarce ou visagem distorcida da realidade, como acontece nos desertos, que est muito alem da nossa capacidade. Quando olhamos o firmamento, estamos convictos de perceber a realidade. Julgamos estar percebendo a realidade pela luz das estrelas, quando na verdade estamos vendo luzes de estrelas que deixaram de existir ha bilhäes de anos, a luz delas s¢ agora chegando … nossa percep‡Æo. Pode estar segura que um dia chegar em que qualquer teoria ser negada. A verdade das coisas ‚ transit¢ria: s¢ serve enquanto uma teoria melhor nÆo se apresente e a substitua. NÆo existem mais inven‡äes, o mundo muito complicado: as belezas estÆo por a¡: n¢s ‚ que descobrimos um meio de chegar perto delas. uma sequencia banal de numeros: 1, 3, 9, 27, ... , esconde uma realidade de indescritivel beleza. Opera‡äes simples com numeros podem levar a desenhos de beleza iniginavel do Caos. As figuras do caos, produzida pelas itera‡äes repetidas de numeros complexos, existiam antes que estes numeros tivessem sido inventados. A estrutura complexa das folhas e galhos de um vegetal ‚ feita por leis de aparencia extremamente simples. Por isto, nÆo se deixe enganar por pessoas com ares de intelectual. Ali s, como diz o velho reclame:
"Na vida, tudo ‚ passageiro: de menos o cobrador e o motorneiro."
Tambem em pol¡tica tudo ‚ passageiro. No dizer do velho s bio pol¡tico MagalhÆes Pinto:
"Pol¡tica ‚ como nuvem, que forma aquelas figuras estranhas no c‚u: vocˆ olha parece uma coisa, daqui a pouco a coisa ‚ outra."
Ou como dizia o ilustre colunista social e mestre da obviedade Ibraim Sued:
"Na Inglaterra, o chofer ‚ o outro."
Ou ainda como dizia o mestre Joelmir Betting:
"Na pr tica, a teoria ‚ outra."
Pol¡tica ‚ uma coisa est tica: as veses passa tempo e nada acontece. De repente tudo ‚ o contrario do que era antes.
Um pol¡tico em fim de mandato, precisa tomar o cuidado de arrranjar alguma coisa para por no lugar, senÆo corre o risco de ir para o "Ostracismo". Est sujeito a "ficar no sereno, a pÆo e agua de eleitor", sujeito a chuvas e trovoadas como diz o homem do tempo. Isto acontece, porque a pol¡tica ‚ uma pe‡a cuja representa‡Æo‚ feita com os atores que estÆo em cena no momento: os dispon¡veis. No mais das veses nÆo est escrita, depende dos "desdobramentos", como dizem os cientistas e comentaristas pol¡ticos, ou sÆo escritas pelos pr¢prios atores e autores da pe‡a.
Por isso ‚ que o pol¡tico tem de estar preparado para essas eventualidades da vida. Se o cavalo passar arriado, amonte. pode ser esta a £ltima oportunidade, outra ‚ improv vel. Tem pol¡ticos que duram anos: alguns mais cem como o nosso velho Barbosa Lima Sobrinho, sempre dizendo bobagens e escapando milagrosamente da aposentadoria compuls¢ria. A pol¡tica ‚ surprendente como a morte:
"Uma velha careca que passa de vez em quando, e que fica escondida atraz de alguma moita: se for a sua vez, babau!... Pode ir tratando de liquidar os pendentes, se der tempo..."
A respeito dessa questÆo de tempo, tem aquela do aviÆo em turbulencia, os passageiros todos saltando de paraquedas, vira um rapaz para a senhora idosa, £nicos
que ainda restavam:
-,... desta vez n¢s à! e fez o gesto caracter¡stico da mÆo batendo no buraco feito pela outra mÆo. Ao que a velhota muito espevitada perguntou:
-Ser que d tempo?
As veses quando nada acontece em pol¡tica, carece de criar fatos novos, nem que seja de mal para a gente ficar falando, senÆo os eleitores logo esquecem. Uma boa coisa ‚ trazer a baila fatos corrqueiros como briga de galos e bikinis, como fazia o Dr Janio Quadros. Ou entÆo com cinto de seguran‡a e cigarro, como o Dr Maluf. SÆo fatos que nÆo custo-beneficio: se prejudica uns, outros ganham, o resultado final sendo nulo. Apenas sÆo expedientes para o pol¡tico se manter na berlinda, no noticiario da televisÆo.
sempre bom lembrar que embora o bom senso seja a coisa mais bem distribuida pelas pessoas, o pol¡tico deve ter em conta que o conhecimento ‚ disperso e nÆo uniforme, nÆo chegando junto para todo mundo.
Por outro lado a pol¡tica ‚ dinƒmica: de repente muda tudo sem nenhum aviso pr‚vio, como lembrava o querido Tancredo Neves, ministro pela situa‡Æo e presidente pela oposi‡Æo. O pol¡tico quase nunca ‚ o agente das mudan‡as. Quase sempre tem de se adaptar ao decorrer dos acontecimentos.
"As formigas num tronco descendo a correnteza, duma enchente, tˆm a n¡tida impressÆo que estÆo conduzindo o processo. O verdadeiro pol¡tico ‚ est¢ico: deve estar acostumado … priva‡äes que a campanha faz emergir e deve aprender a "engolir sapos". No fim, resumindo: "pra quem gosta, ‚ um prato cheio". Tem de se habituar a beneficiar-se do acaso das situa‡äes d£bias: nÆo falar nada, as veses ‚ solu‡Æo. Ou entÆo quando prejudicadopela situa‡Æo, inventar. Vale muito a presen‡a de esp¡rito, como no caso do pol¡tico que mandou abra‡o ao pai do eleitor, normalmente chamado de progenitor. Tomado de surpreza quando o eleitor disse ser imposs¡vel, porque o pai havia morrido antes da £ltima elei‡Æo, saiu-se com esta p‚rola:
"Morto para vocˆ, mas continua vivo e pulsando aqu¡ ¢!, neste cora‡Æo velho de guerra", gesticulava vigorosamente, a mÆo batendo contra o peito.
Prometa sempre, as coisas mais imposs¡veis: para o pol¡tico nÆo existe nada imposs¡vel, desde que haja tempo. Enquanto isso v engambelando o coitado do eleitor, tendo ele sempre no cabresto ou debaixo do balaio como eles dizem. Diga que est assim com os homens no federal e no estadual e pode quebrar os galhos mais dificeis. Mas nada de levar o clliente junto na hora de resolver situa‡äes dif¡ceis que envolvam uma certa dose de corrup‡Æo porque a¡ o pol¡tico l de cima fica velhaco e cheio meios termos: precisa tambem demonstrar que ‚ honesto como convem a todo pol¡tico que se preza., isto ‚: parecer honesto, embora transija com algumas falcatruas. Se o cliente eleitoral manifestar o desejo de ir junto, demova-o ou invente uma impossibilidade:
-"Que o Homem ‚ temperamental e coisa e tal, muito sistem tico e coisa e loisa, nem ‚ boa coisa ficar exposto … curiosidade dessa gentinha bisbilhoteira._ Deixa por minha conta que j estou acostumada com as formalidades das autoridades da alta pol¡tica: andam sempre ocupados e vivem na corda bamba, o ambiente perigos¡ssimo e quem nÆo for de circo, nÆo sobrevive l nas alturas dos palacios: aquilo tem uma estrutura hier rquica muito bem definida, cada palmo de poder disputado com unhas e dentes. L ‚ que moram as verdadeiras raposas da pol¡tica. Cuidado, nÆo exponha os chefes a quarquer risco. Sempre tem alguem … espreita, as veses at‚ "quinta coluna", trabalhando em surdina para o adversario. Quem pensar que vida de pol¡tico ‚ f cil se engana redondamente. O trabalho ‚ rduo por incr¡vel que pare‡a e a clientela, da pior esp‚cie: s¢ gente pobre precisando das coisas.
Visitas de cortezia, sim, que nesta hora ‚ at‚ um descanso pro chefe. Ele vai abra‡ar demoradamente o capiau da ro‡a e perguntar pela sa£de dos familiares com com mem¢ria prodigiosa, recitando o nome de cada um. Nisso eles sÆo bons. As veses podem ocorrer situa‡äes constrangedoras, quando o capiau, muito esperto, resolve por a prova a capacidade do pol¡tico em lembrar nomes. Durante o encontro fica astutamente esperando que o chefÆo decline o seu nome pr¢prio, se o correligion rio ainda nÆo preparou o caminho para o chefe. Quando a situa‡Æo acaba chegando a uma esp‚cie de confronto, o chefe pegunta: -Qual ‚ mesmo a gra‡a do seu progenitor e de sua "senh“ra", o nome completo, senhor Silveira? estou completando aqu¡ os dados pessoais para a eventulidade de uma solicit‡ao burocr tica de alguma reparti‡Æo, o senhor como esta gente ‚, nÆo ‚ mesmo?
Isto ele faz, j empunhando a caneta dourada, na esperan‡a de alguma luz relacionada com o nome do pai. Ou entÆo ele questiona com ar distra¡do o nome completo do pr¢prio eleitor, como se cumprisse tarefa extenuante. Vˆ-se na expressÆo aflita, o cenho carregado, que a¡ o pol¡tico sofre. Mas o eleitor maroto nÆo se deixa vencer:
-Fale o senhor o primeiro nome que eu completo.
Nessas alturas dos acontecimentos, necessaria se torna uma interven‡Æo salvadora do correligionario al¡ do lado. Vocˆ, que entende dessas coisas e j passou por situa‡Æo semelhante, saber usar de artif¡cio pr¢prio, como chamar a aten‡Æo do compadre para algum fato corriqueiro acontecendo al¡ por perto. O chefe, aliviado, ficar muito agradecido pela providencia salvadora e saber recompens -lo na ocasiÆo oportuna.
Combine uma senha com o cliente para o encontro com a autoridade. Uma gravata dada de antemÆo ao chefe, que vocˆ pedir a ele na v‚spra que faz questÆoque a use na ocasiÆo do encontro ou da audiˆncia. Essa visitas de cortezia sÆo muito proveitosas porque os basbaques gostam de mostrar intimidades com as autoridades. De bom alvitre seria, que nestas ocasiäes se tirassem fotografias junto com os chefes pol¡ticos, necessarias tambem para o correligionario para mostrar prest¡gio junto …s bases. Esteja sempre atento ao ritual da pol¡tica que ele ‚ cheio de meandros. Nestas ocasiäes fa‡a visitas cansativas … camara de vereadores e assembl‚ia legislativa: o correligionario vai ficar exultando de felicidade. Cumprimente efusivamente os deputados nos corredores. Pode ter certeza que corresponderÆo …s sauda‡äes, mesmo nÆo conhecendo quem sa£dam. O ambiente nestas casa ‚ sempre de muita cordialidade, para aquele que est frequentando pela primeira vez sentir um certo gosto pelo poder que emana dos predios faustosos e mo¢veis s¢brios: o cliente fica estupefacto, como se fizesse parte daquela engrenagem de poder e gl¢ria. Vai ter muito que contar aos parentes e amigos na volta: isso para ele representando tambem uma parcela do poder que coleu do conv¡vio com autoridades tÆo ilustres.
Minta ao cliente que a confirma‡Æo do "acerto", ser indicada pelo uso da horrivel gravata de tric“, feita com todo carinho por sua sogra e presenteada na ocasiÆo da visita … cidade natal de ambos. Mesmo que constrangido, o chefe jamais deixar de atender ao pedido de us -la na ocasiÆo do encontro.
-Combine do cliente ficar sentadinho num canto e v l cheio de desculpas e pergunte uma bobagem qualquer sem rela‡Æo com o caso em tela. Pondo a mÆo na cadeira, se abaixe e segrede no ouvido da autoridade. Aponte no rumo do cliente, dando a n¡tida impressÆo de que fala sobre ele. Isto funciona. NÆo imagina com as pessoas do povo sÆo simples e tolas de associar a concordancia com o gesto simples de meneio de cabe‡a da autoridade, levantada naquela dire‡Æo. Mas nÆo fa‡a absolutamente nada: deixe o acaso operar milagres para vocˆ. Seja paciente.
J contei a historia do barbeiro de Santana, zona norte de SÆo paulo, conhecido como grande quebrador de galhos em todo o territ¢rio nacional. Ele procedia da forma que vocˆ, pol¡tico deve sempre proceder: nÆo fa‡a absolutamente nada. Engavete os pedidos dos eleitores que afinal ‚ humanamente imposs¡vel de atender a todos. Cumpra s¢ alguns, os que chamam mais aten‡Æo, como cadeira de rodas, ¢culos e dentaduras: imposs¡vel esconder um objeto dessa natureza quando o eleitor se fazer presente: eles sÆo muito vis¡veis.
Eis alguns exemplos de esperteza usados por camel“s para tirar vantagens de incautos:
Nem todo mundo sabe que a m‚dia aritim‚tica ‚ maior do que a m‚dia geom‚trica. Use isto em seu favor. Exemplo, dados tres numeros: 4, 6, 8.
M‚dia aritim‚tica = 6 e media geom‚trica = 5,7. Todo mundo pensa que ‚ a mesma coisa.
Outro exemplo:
Nem todos sabem que numa conta paga em parcelas, os juros incidem sobre a m‚dia do principal e nÆo sobre o capital pr•priamente dito. Ao propor o neg¢cio vocˆ pode argumentar que os juros sÆo ¡nfimos. A maioria nÆo se importa em pagar juros. Quer apenas saber se pode pagar a presta‡Æo.
Imobiliarias inescrupulosas oferecem a venda im¢veis com prest‡Æo inferior ao aluguel, como se isto fosse poss¡vel. Vocˆ sabe que o limite m¡nimo da prest‡Æo ‚ o juros do capital, nÆo tem como ser inferior. Use truques dessa natureza para angariar votos.
Neste pequeno tratado de pol¡tica vocˆ deve aprender e estar familiarizado com promessas:
Procure mostrar que tem sentimentos elevados: reclame das injusti‡as, porque h muita gente em situa‡Æo dif¡cil. Mas procure situ -las num terreno abstrato, dificil de caracterizar. Fale sempre no plural e no gen‚rico. Demonstre que tem ideais edificantes. A maioria ainda acredita nessas baboseiras.Por mais dif¡cil que lhe pare‡a, cite o ¢bvio, personalize a questÆo, demostre as coisas no terreno do pessoal, perguntando:
-Se fosse vocˆ, ..., no meu lugar nÆo faria o mesmo?
Brade com voz gutural e embargada contra a desonestidade ,.dos outros, é claro.
Conselho útil:
Mostrar com veemência que dá muito valor aos direitos humanos e direitos de minoria, mas jamais acredite nessas coisas, até o eleitor sabe que é pura baboseira. Mas é de bom tom que todos acreditem nelas. Valem muito como campanha, alardeie o fato.
Acredite em pesquisas e na boca de urna. Nada mais eficaz do que pesquisas, especialmente se manejadas com habilidade, arma que você deve usar comprando pesquisas fajutas contra o adversário ou que lhe dão ligeira vantagem sobre ele. Não apregoe que você está muito na frente porque alem de pouco convincentes tem o efeito de esmorecer o trabalho de correligionários, tambem para estimular o ânimo do adversário fazendo-o gastar energia com um setor já ganho por ele. No caso de eleito para vereador, use a tática de dizer que fulano, do lado contrario já ganhou, principalmente se for candidato forte, cujo valor não vale a pena contestar. Sempre se pode pedir numa familia a reserva de uns preciosos votos para voc^, uma vez que o candidato oposto nem vai perceber a perca dos votos. Este processo ‚ altamente destrutivo, chegando as veses ao caso da não elei‡Æo de candidatos tidos como fortes.
Procure se inteirar dos movimentos do seu adversario e das conversas. Mantenha quintas-coluna trabalhando no campo do adversario …s suas espensas., nÆo despreze nenhuma possibilidade, por remota que pare‡a: lembre que em elei‡Æo tudo ‚ permitido, menos perder.
Evite de adotar as novas id‚ias, muito revolucionarias. Pareça adepto de novas idéias apenas para o fim de parecer moderno, jamais as pratique, sobretudo porque a maior parte das realizações possíveis já é sobejamente conhecida e pouco coisa existe para realizar, considerando a exigüidade dos orçamentos. Muito mais importante ‚ que realiza‡äes nÆo desperta o m¡nimo interesse, o que realmente importa ‚ vocˆ ser identificado como va¡culo de uma vingan‡a ou repara‡Æo de injusti‡a: o eleitor sanciona a repara‡Æo. Em £ltimo lugar porque id‚ias novas fornecem material para o ataque e zombaria dos adversarios, combatendo vocˆ, deturpando-as. Mas nÆo caia em contradi‡Æo quando os feitos forem evidentes demais para poderem ser desvalorizados: Diga que foram poss¡veis gra‡as a sua ajuda e pelo montante de verbas que você conseguiu, ajudando em prol da causa comum, mas que vocˆ sempre faria melhor ainda.
Jamais seja equânime elogiando obras do adversário: sempre você ˆ poderia fazer melhor. Jogue duro e deslealmente se poss¡vel, porque muito pouco se tem para colher, alem de mingueras. Tenha sempre em conta a máxima do Valadares:
"Aos correligionários tudo, aos inimigos a lei." Nunca diga que já ganhou, seja modesto e responda como o mestre Tancredo:
"A política é uma garimpagem de votos escondidos: eleição e mineração, s¢ depois da apuração."
Evite os comícios e aglomerações de porta de venda: é lá que mora o perigo. O eleitor alcoolizado ganha coragem para fazer graçolas cujo desfecho é inesperado: escape do assédio de bebuns. Mas, se de tudo for imperativo, diga nos comícios só lugares comuns e frases bombásticas de efeito local. Piada, só de político distante, sem possibilidade de contestação. Como aquela do velho Ademar de Barros que, tropeçando de bêbado ao descer do trem na chegada para o comício, cai estatelado. Ao que prontamente o repórter anuncia ao microfone:
"Emocionado, Ademar beija o solo de nossa querida Taquaritinga."
Outra que contam do velho Ademar aconteceu num comício na cidade de Santos, o velho guerreiro discursando:
"Gente da minha terra, povo da Baixada Santista: enquanto o rico dorme em cama de colchão mole, o pobre dorme em cama de pau duro."
Continuando:
"Nestes bolsos aqui, até hoje nunca entrou dinheiro público"
E gesticulava revirando os bolsos em gesto conhecido. Ao que um gaiato completou:
—Calça nova em Ademar!
—Damascu!..., Damascu!...
Gritava a multidão, vivando o nome do candidato a vereador da região.
Use expressões patriarcais como a dos padres: cruze os braços, aperte a mão contra outra, em atitude de união e calma protetora. Faça gestos solenes, fechando um discurso de frases de efeito edificante, mas sentido preciso:
"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe."
O Zé povinho adora provérbios e brocardos, para eles uma demonstração inequívoca de conhecimento. Procure dizer da cidade que você ama, chamando de Torrão natal: que por ela faz qualquer coisa, até ser candidato contra a sua vontade, inclusive com o sacrifício da própria vida se preciso for. Tudo balela, mas impressiona o eleitor da roça.
Refira-se ao seu arquiinimigo como interesseiro em bens materiais e destituído de patriotismo, ao contrario de você que não precisa do cargo, mas se sacrifica em prol do bem comum. Amedronte o adversário alardeando gastar fortuna imensa com a campanha. Isso tem dois propósitos: primeiro, o adversário fica obrigado a gastar quantia equivalente e caso ele ganhe, fica arruinado e sem forças para enfrentá-lo na próxima. Procure demonstrar que vai ganhar a eleição, ainda que isto seja remoto: lembre-se que quem entra na política é para sempre, uma viagem sem volta. Tem sempre uma próxima campanha, esta dagora, sendo apenas uma batalha de uma guerra interminável. Ademais o eleitor adora votar no vencedor. Todos os artifícios são permitidos, o que não pode acontecer é perder as eleições. Nunca comece a visita voltando sua atenção para os filhos, respeite o patriarca e dono dos votos. Converse a sós com os membros da família repisando a necessidade de votação maciça em nome do velho: nada de repartição de votos, isso quem decide é o velho. Se o velho propõe de repartir os votos, então pode tirar o cavalo da chuva que aqueles são votos do outro. Neste caso quando tudo está mesmo perdido, a¡, sim mostre grandeza elogiando o adversário: na próxima, com certeza, aqueles votos poderão vir a ser seus. Em política nada pode ser perdido, inclusive promessas futuras: pol¡tica ‚ um jogo pra valer.
O candidato deve conhecer profundamente como se distribuem os eleitores por bairro, nÆo s¢ a quantidade exata, como a sec‡Æo eleitoral, para fazer marcas e massos, como no jogo de baralho, cartas padrÆo indicadoras da companhia de cartas boas. Por exemplo: os mais velhos sempre pertencem … mesma sec‡Æo eleitoral, como seria ¢bvio de se esperar. Assim tambem acontece nas novas sec‡äes dos eleitores novos, cujos nomes você já deve ter de antemão para o caso da qualificação e dos famosos retratos que você vai oferecer gentilmente na ocasião do alistamento eleitoral. Estes jovens eleitores não precisam de grande investigação, porque são sinceros, ainda não aprenderam o jogo sujo da política. Já os mais antigos são sempre os mais velhacos: vendem caro seus votos, porque sabem lidar com o assunto. Quanto às conclusões e anotações, jamais revele qualquer coisa, nem para correligionários: vocêˆ pode correr o risco de um correligionário vira folha bandear com o segredo para hostes adversárias. Guarde tudo a sete chaves, no mais profundo segredo, ou então decore tudo e rasque para não deixar vestígios. Estes conhecimentos são a base para futuras eleições.
Cuidado com cabos eleitorais: eles são muito úteis, mas perigosos. Os profissionais são sempre melhores, pois prezam a profissão: não vão por em risco o valor que se lhes ‚ atribuído como trabalhadores do processo eleitoral. Melhor ainda se forem simpatizantes da causa do adversário: ao longo da campanha são os melhores informantes. Como dizia o Algemem, do velho PSD:
"Dos inimigos cuido eu: medo mesmo, eu tenho é dos amigos"
Procure ter o máximo de ajudantes zelosos para fazer o corpo a corpo da boca de urna e dos últimos dias de campanha que ‚ quando acontecem as viradas: muita eleição já foi decidida nessa hora. Mande acompanhar o eleitor at‚ a sessão eleitoral: não s¢ para ensiná-lo evidentemente, como para se assegurar que cabos adversários se acerquem dele. O lugar mais importante ‚ o da chegada do caminhão: o ponto crucial. Destaque alguém para evitar que dispersem, troque as cédulas todas. Daí¡ para frente o eleitor ‚ sua propriedade, não deve ser deixado sozinho um instante sequer. Para aqueles eleitores mais rebeldes, utilize o expediente da fila boba, que ‚ mais ou menos assim:
Combine de comparecer à sessão, assinar, mas não votar com a cédula oficial, guardá-la no bolso e votar com uma cédula de imitação. Este voto fica perdido, mas a partir d i, o processo ‚ repetido, com a diferença de que a cédula de imitação agora ‚ aquela devolvida pelo anterior e assinada pelo mesário, só que agora devidamente preenchida com X, "adequadamente". Sempre cada eleitor traz de volta uma cédula oficial em branco, como recibo e garantia da compra do voto. Explique bem:
-O papel que vocêˆ vai colocar na urna ‚ este daqui¡. O que mesário te der vocêˆ não abre: guarde na algibeira e traz de volta, se quiser receber o dinheiro da compra. Não tem perigo de quebrar a corrente, o risco existe de um fura fila do adversário que conhece tambem a jogada: paciência! Com a cédula em branco vocêˆ faz u'a marca indelével, num canto, mas insuficiente para anular o voto, como um cagado de mosquito. Assim você tem um meio de conferir, na hora da apuração, qualquer deslize do eleitor que quiser "mijar pra fora do penico". Ao £ltimo da fila ele entrega a c‚dula com o X e pede para o eleitor votar com as duas: assim se recupera o voto perdido com o primeiromda fila. NÆo ‚ fora de prop¢sito dizer que este £ltimo dever ser um correligionario ultra-fiel, para evitar maiores surpresas
Aos eleitores influentes em determinada regiÆo envie cartas de pr¢prio punho, pelo correio: matuto adora receber cartas. Isso mostra que ele ‚ pessoa importante, uma vez que a maioria nÆo sabe ler. Ademais, o caminho percorrido pela carta ‚ longo e cheio de intermediarios: recadeiros, mensageiros, carteiros, etc. e todos do lugar acabam sabendo da ocurrencia. Como o Povinho nÆo mais o que fazer a carta do s“ fulano acaba por se tornar o assunto do dia.
Para o caso de um numero maior, existem cartas padrÆo em tipos de caligrafia manuscrita, mas que encerram um grande perigo: Cartas de conte£do e aparencia iguais recebidas por vizinhos de bairro. Tenha de estoque cartas padrÆocom escritos diferentes para evitar repeti‡äes constrangedora. Mas o melhor mesmo ‚ a carta de pr¢prio punho: d trabalho mas ‚ seguro. A importancia da carta chegar pelo correio e ser manuscrita d ao eleitor a impressÆo de exclusividade, inda mais se for muito pessoal e coincidir com as datas de aniversario e casamento que devem certamente constar de sua agenda pol¡tica. Mas nada de confidencias ou abordagem de assuntos melindrosos porque sua carta acabar se tornando de dom¡nio p£blico.
Durante a campanha, fuja dos bares das aglomera‡äes de portas de venda, que sÆo locais prop¡cios para explora‡Æo financeira do candidato. Com a cabe‡a cheia de pinga os roceiros perdem o acanhamento e se tornam irreverentes. Perdem o respeito e acabam fazendo gracejos inconvenientes. Eleitor de porta de venda não é de ninguém. Nunca se lembra de quem pagou a cachaça.
Ao chegar numa casa, se certifique antes de perguntar por parentes que porventura já hajam falecido para evitar constrangimento e a cujo velório você não compareceu como manda o figurino: dá ensejo a muitos constrangimentos. A regra é‚ comparecer aos velórios com conhecimento dos verdadeiros parentes do finado para não "amontar em porco". Mas todo cuidado é pouco: não vá dar pêsames à pessoa indevida.
Nestas ocasiões mostre uma cara séria e compungida. Jamais faça brincadeiras que o momento exige respeito. Cumprimente cada um com abraços demorados, batendo amigavelmente com as mãos em concha nas costas do correligionário e sacudindo vigorosamente para dar maior segurança e conforto, dizendo aqueles surrados cumprimentos de praxe:
-Pêsames! Não há de ser nada comadre. Deus quis assim: Deus o levou. Deus haverá de lhe dar conforto nesta hora extrema.
Seja breve e pouco original: enganos, nestas ocasiões, acabam sendo fatais.
COMITIVA DE LOUCOS
sexta-feira, 3 de abril de 2015
COLONDRIA DE CATIRA E FOLIA DE REIS
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