sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

CORALINA

Poema vulgar sobre uma paisagem agrária : A CHUVA

Depois de longo e tenebroso inverno, ei-la que surge,
deslumbrante e bela com seu manto de cristal
colorido em sete cores: de véu e grinalda.

Vem! óh chuva benfazeja: derrama sobre mim teu pranto doce
Molha os olhos secos e a face crispa: acalanta.
Lava o chão, dissolve o pranto, molha a terra, vela o canto:
mistura ao pranto meu de tanto chorar por ti.

Cai, como soe sempre, obliquamente em gotas despejadas,
desenhando no céu um quadro chão de retas paralelas:
rala e mansa a princípio, depois violenta: descontínua.
Espessa e sólida em seguida: em jorros caudalosa,
o impacto, cravando no chão crateras quatrocentonas.

Corre em rios para o mar e sobe ao céu por força do astro rei.
Retorna ao chão e molha o solo seco da terra em cio.
Renova o ar, faz brotar da terra a semente promissora.
Muda a vida e faz renascer a esperança no coração dos homens.

O homem anuncio

Só, no meio da multidão, caminhando a esmo
cabismudo e baixo. mesmo só parece que bem acompanhado
ror de apressada, sem face anÔnimos
ele vai ele vem, niguem sabe onde vai nem donde vem

Antes que a noite acabe e o astro rei desponte sai da vila guilherme
toma o trem das quatro da matina
o sobretudo puído esconde a valise da marmita, já fria
aTRAVESSA jAÇANÃ.TREMEMBÉ, Horto
na JUlio preste sorocabana desce carregado pela multidão de gente trabalhador
são serviçais, garçons, prostitutas terminando a noite
num vão de escada fez a sua moradia, sem pensar na gritaria que vem da escola de dança lugar onde descançar os ossos no turno do dia e trocar
o sobretudo por um terno de madeira doble-face, duas placa: frente e verso.
"Compra-se ouro, paga-se bem:
Rua Direita, numero cem
ele vai onde o povo está, carece
do pescoço pra baixo, à face nada interessa
João ninguem sem eira nem beira, que não é velho nem moço
come bastanyte no almoço, pra se esquecer do jantar.












PAISAGEM URBANA: O entregador de pizzas

De repente, ele arremete, projetando seu corpo frágil!
Desaparece na multidão de carros cabisbaixos.
ressurge do nada, como um bólido intangível:
Espectro de visão, miragem, como o vento: lufadas.

Avança e para. Em ponto morto, calcula.
Paira no ar como pássaro efêmero.
Por fim, se decide por interstícios impossíveis,
por onde passar, indelevelmente, seu corpo magro:
os movimentos intermitentes, ganhando espaços.
Corpo sem alma, a cabeça escondida na armadura de plástico.
Centauro moderno: metade homem, meio máquina
para sua existencia desapercebida.

A pressa de chegar com a pizza ainda quente: urgências.
mas enquanto espera o pensamento voa longe:
No meio do burburinho, quantos sonhos em sua cabeça?
Que projetos terá para o futuro incerto? tem pressa:
Lá no Norte, a mina banguela e esquelética chora,
cansada de esperar a volta impossível.











Avança como um raio, em busca de seu destino inelutavel
Que vai encontrar cem metros adiante:
O paralelepípedo molhado, esconde o perigo iminente:
A massa disforme, a cabeça esmigalhada.
Mas a outra metade máquina,
persiste em continuar viva,
a roda girando sem governo.


Por sobre o corpo estatelado,
o jornal do dia estampa as manchetes do infausto acontecido:
milagre da comunicação moderna:
"Desconhecido morre, vítima do trânsito impiedoso"
Lá no Norte, u'a mãe vai chorar a volta de seu 14º filho:
O semáforo se abre, os carros retornam a sua rotina.


VICTOR HUGO ROMÃO
CIDADE DO CABO VERDE MG.