sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FAZENDA DAS ALMAS

FAZENDA DAS ALMAS

Era o causo que eles ia de vim de mala e cuia, os trapos, bugigangas, nos cavalos e burros ferrados dos quatro p‚s, crinas e rabos aparados, como para festas de cavalhadas. Constava deles de chegarem de tarde, os tios todos e os padrinhos com os presentes, os parentes, com as tralhas e alimarias, cavalgaduras de serviço, para empreender viagem dia seguinte com destino … Fazenda das Almas conhecida, pra tomar posse, dar fé‚ e povoar de gado.
Eles ia vim com os trem todos, tranqueiras e badulaques, em cangalhas de cargueiro, cobertos de bruacas de couro cru, o arvado de pau lustoso, ajoujado por sogras, látegos e loros de couro curtido. Ali, a matula, as carnes de sol e sal, de carnes na banha de gordura, os queijos curados da Serra da Canastra, as farinhas de fubá de milho, trincando nos dentes; os beijús, os mantimentos: o sal grosso em caixotes de querosene nos selotes; os picuás de cacha‡a e rapadura; açucar demerara e café‚ em saquinhos, prontos pra fazer, afora os toicinhos salgados em mantas pra estadia de muitos dias.
Não faltava nem o azul de metilene, a tinta guarany, encomenda da comadre, o sal de grauber ou de grava, o elixir paregórico, para as emergencias; ainda o salame e o qualho pros queijos, o fermento e as iscas de qualhada.
Era o causo que eles tinha de vim em comitiva de meirinhos e r bulas do forum, pra assunto de posse da Fazenda das Almas, arremetada em leilÆo de pra‡a de hasta publica, na freguezia e comarca de nossa senhora da assunp‡Æo do Cabo Verde, coisa que a bancarrota comia de bocada, lavorando feia, na crise de 29: o curral de conselho atopetado de cria‡Æo e animal de arresto de penhor e cavalo fujÆo. Aqui, os fazendeiros, pegos de cal‡a curta, deram de enforcar de suicidio, com suas proprias mÆos deles, dando cabo da vida por vontade e equerer deles mesmos. Num teve jeito de nenhum escapar, o Ornan, um dos primeiros a ficar sem as posses e meios de vida, a Fazenda Das Almas de dele, indo parar na mÆo dos agiotas, meus tios e padrinhos. O primeiro foi o Z‚ Arcebia, depois a Terestina, a perder tudo o que tinha em protesto de diuda: ficaram pobres que nem rato pelado: deitaram rico e levantaram pobres.
A Fazenda das Almas, um lugar ermo, retirado do Cabo verde nem tanto umas par de l‚guas de caminhos estreitos, boqueiräes £midos e grotas fundas, as paredes chorando o tempo todo, merejando agua que nem brejo chorÆo. Lugar fresco e aruega, lugar de samambaias e avencas gigantes, parasitas dos mais bonitos formatos, flores dos mais achados feitios, em forma de sapatos e guelas de leÆo. Ladeiras impossiveis at‚ pras bestas velhas, tiradas … p‚, em lombos de burros, o caminho pedregoso, de veios de amianto e pedras lisas multicolores, lugar de morcegos e curiangos, ainda que de dia. O lugar de serra‡Æo constante, nuvens de fuma‡a cobrindo a Serra Escura e a Serra do Bugiu, lugar sem nenhum descampado de descansar as vistas e enxergar longe, e o sol bastante pra clarear alguma parte do dia, s¢ serra‡Æo e dia nublado quais que dia todo. S¢ quebrados de pedras e casqueiro de pedregulho, carrascal. As grotas fundas, morada de cobras e escorpiäes, sapos verdes e minhocäes, lagartos de olhos vidrados, surdos. Tinha on‡a e coati. Ali, morava o bugiu da Serra Escura, do soprado forte como o redemunho, som de berra boi, brinquedo de crian‡a.
S¢ mato de terra de cultura, da peroba rosa e do jequitiba soberano da mata, de copada alta, do pau D'alho do oroma e cheiro forte, do pau de oleo vermelho, cheirando varanda de carro, do jaborandi e os velhos jequitib s, altos por sobre a mata de capoeiras brancas, um emaranhado, enroscado de cip¢s em arvores gigantes, um despotismo. Ali, uma batalha, vivendo as custas duma figueira imensa, enrolada e asfixiando a outra com suas raizes tentaculares, comendo a seiva de seu caule generoso. Vizinha da Santa Luzia e Pau D'Alho, dos intalianos e dos Costas da serra dos Lemes, Cana do Reino, dos Ferreira, gente brava e sistem tica, arquiinimigos figadais de muitas elei‡äes. Tudo terras de invernada de capim gordura, morrendo nas posses e rancharias do aterro e beira de rio Cabo Verde, do Armando Catarina, do Ang e do mirante da Vista Alegre, posses do coronel Henrique Vieira. Depois, os canaviais do engenho de cana e rapadura dos Vieira, vizinhos longe da serra do Silveira.
Providencias e bugigangas de tralhas de tropas de burros de cargueiros, arreados de cangalhas cobertas por bruacas de couro de couro cru e selotes de picu e de caixotes de querozene. A fazenda alta das almas abandonada, o capim nascendo nas cumieiras, porcos e cria‡Æo dentro de casa, revirando, o esterco alto de atolar, sinalado nas paredes. Pousava gado dentro, cheio de estrume: o perigo dum mijacÆo naqueles de p‚s descal‡os.
Pros r bulas de forum, os primeiros a saber dos apertos dos outros, o arremate, na bacia das almas, trouxe muito resultado, a diuda dada por perdida. Pros quebrados, s¢ tristeza e sofrimento, a maior parte dos fazendeiräes deixados na rua da amargura. Aquilo nem nÆo era vez nem ocasiÆo pra pensar numa coisa dessas : "Dever, pode ser bom pra uns e pode trazer at‚ resultado: os dias ‚ f cil de passar, duro ‚ as noites."
Foram chegando, em comitivas separadas, as cavalgaduras, cada uma de arreamento mais bonito que a outra. Tropa vistosa, de burros altos, mulas pelo de rato, bestas bem arreadas e os arreamentos de cargueiros cobertos de bruacas os jac s balaios imensos as tulhas quase ao chÆo cheios de mantimentos, milho semente pra planta. De outras alimarias mais bagu s, os carregamentos de selotes de caixÆo de querozene e picu s de litros e latas de querozene e cacha‡a pro gosto dos piäes de lida.
Primeiro o Tio NÆe e o tio Z‚ Campos, intaliano da Sardenha, embirrado como os jumentos sardenholos. Por derradeiro, o Mauricio Ornelas de Padua com os presente nos balaios das mulas: uma cadeirinha de abrir, duma pe‡a s¢, artezanato de pereira. Pra mim, o caminhÆozinho de caroceria, igualzinho os caminhäes tigre e os comercia chevrolet gigante, os cujos puchavam quase dois carros de milho, com rodagem filipe, de rodeiro de peneumatico e bol‚ia de lata fechada, com freio de mÆo, embreagem e partida direta sem manivela. Surpreza e decep‡Æo: o caminhÆozinho aos peda‡os, devido aos baques na cangalha de burros trotäes.
De primeiro, os briquedos eram feitos de coisas da ro‡a: juntas de boi de carro de sabugos de milho, cangas e canzires a canivete, ajoujo e tamoeiros de embiras do mato de cip¢, fueiros de bambu, as rodas tirada de tampas de vidro e de caixotes de vacinas manguinhos. Os primos estavam pra chegar de ferias e a¡ ‚ que vinham as artes. Brinquedos dos balan‡os, as folias, os conhecimentos dos primeiros contatos amorosos e as visitas a lugares rec“nditos como os poräes e cachoeiras.
Tirante a grande expectativa dos presentes prometidos de longa data pelos padrinhos, tinha a novidade das comilan‡as e andan‡as, com gente forasteira se acomodando nas varandas de carro e casinhas de polvilho, descarregando as tralhas e armazem de mantimentos pra longa viagem de quatros leguas. Ia ter de chamar o Julio Candel¢stia e o Z‚ Intaliano, pratico de lidar com capado e cortar gado; tirar couro com as facas afiadas, pelar leitoas, tirar barrigadas e frissuras e torresmos os chouri‡os de sangue, salgar toucinhos e carnes de sol. As tripas finas pra lingui‡a e as grossas pros chouri‡os e empanados. Ia ter de matar frango e leitoa at‚ um bode pra miudos, pra dar de comer a gentarada toda. Tinha de por ordem na casa: uma estrat‚gia de guerra.
Tinha vez que ele ficava cismando com a vida, o olhar perdido longe na linha do horizonte, mas sem ponto fixo, como que olhando pra dentro, o olhar de peixe morto: aquilo nem num eram modos de gente, semelhava que de bicho. O proseado dele, gutural autoritario, saia a v¢s embargada pela emo‡Æo, mas reticente, economica, custoso de tirar dele, discurso com mais delongas.
A frente os cavalos em passo picado e cavaleiros nos seus trajes de culote e polainas, os rebenques peitorais de argola e rabichos, os rabos de tatu, giboias de iapas estalando pra tanger os animais, esporas reluzentes prateadas, estribos ciliäes pras senhoras e montarias das damas solteiras.Pelegos e colchonilhos e as baldranas. Por derradeiro as mulinhas marchadeiras os cavalos de montaria de senhora, por fim a tropa de burros de carga e animais de lida, a frente a madrinha da tropa de cicerro dando o tom de festa da comitiva, burros mandriäes e piquiras, eguas de potro, cavalos espojando na poeira. A hora, era tarde.
Aquele ia ser dia dos bons, at‚ de faltar da escola. Num carecia de apartar vacas e nem a amola‡Æo de cascar milho e tratar dos porcos. Comida das boas: ia ter doce de letria. Foi de fio a pavio: tudo pronto para a partida.