DELÍRIO DE DEMENTES
Maníacos: vieram de mala e cuia. A exaltação imaginativa, modalidades delirantes do ego, caótico fantasioso, delirantes, perseguidos, megalômanos, místicos.Fabulações, Fantasias da política, religião ou reforma social.Os querelantes processuais. Para defesa de sua honra e direitos a propriedade, desprezando os seus interesses mais evidentes.Sentimentos de ódio e de vingança, sem desviar de suas convicções. Como que um faz, para criar histórias? Fácil! Fica imaginando, como o Théo, criado pelo Cipriano. Ou não será que elas estão lá, milmente, dos mil modos, todas existentes e a gente o que faz é só apanhá-las como frutas duma arvore, todas acontecidas de verdade com outros personagens. Os inventores guardam segredo de suas experiências e descobertas, se queixam de terem sido vítimas de apropriação por terceiros ou perseguidos por complôs armados por gente poderosa, para aniquilá-los ou tomarem posse de suas descobertas, de suas patentes de invenção.Pouco importa o monopólio absoluto, a prioridade indiscutível, defensivas para descobertas de complôs e manobras absorvem quase toda a capacidade de idealistas apaixonados, que sonham com sistemas políticos, com a paz universal e a filantropia. Vontade feroz e agressiva de luta e combate. O panfleto, os atentados individuais contra homens públicos, de instituições sociais, reforma e justiça, perseguição e megalomania.Delírios passionais: ciúme, paixão imaginaria, clarividência.Às vezes, uma gota d’água transborda por ocasião de discussão e humilhação que o delírio irrompe.Delírio de interpretação pelo dever de explicar tudo, decifrar de acordo com um sistema de significados. Em geral é súbito. Às vezes irrompem repentinamente ou o eco dos pensamentos introduz na mente. Por fim o momento fecundo da produção delirante, os paroxismos, as fases de recrudescencia ou atividade alucinatória, crises de automatismo mental. Patronímicos andrajosos de soturnas vestes. A mente calva dos deliriuns treme. Valhacoutos de desocupados. Arcabouço de idiotas, capadócios impostores, que pensam estarem descobrindo a pólvora. Impostores reles, que pensam ter descoberto a pólvora. Pregando alhures, idéias absurdas e vãs, pra mentes parcas. Repteis ignóbeis, farejadores de escombros, como os escaravelhos e besouro goderistas, vira-bostas de monturos. Babujentos cheiradores de mucosas fétidas. Interditados, incapazes, preguiçosos acomodados. Alíquotas de agiotas, reles estampilhas, sebosos e lamberetas de selos. Insignes farsantes, trovejadores de impropérios alhures, um rapaz recalcitrante: vazio e ilógico como a falta de lógica destes tempos. Inutil automobilistico. Fugaz e inútil, vazio como um capitula de novela. Desnecessario e reclamista. Vós de queixa. Magos ilusionistas criadores de fantasias ideológicas alucinadas. Paródias anódinas vãs. Ofuscado pelas nulidades. Estava eu, certa feita encostado num poste, quando senão quando me aparece um sábio em sua fisionomia característica de sábio e me diz de inopino:
-Esta vida é u'a merda: não paga a pena de viver. Um despontar luminoso, cresce em força e em sonhos, luta contra as adversidades, peleja e luta, pra depois virar num traste velho, sem serventia pra nada. Eis o que somos: uns vermes sobre a terra, alimento de vermes, nada mais: um elo da cadeia alimentar, só. Garrei de imaginar a beleza de morrer pra outros viverem. Passa um beato e vitupera: a vida é um atimo: nem bem principia já está findando. Um nada diante do universo infinito. Nossa terra, grão de poeira, inutil e despresivel diante do universo de galaxias. A mocidade , relampago diante do infinito da eternidade.
U'a mulher que chora num parto dificil. A um canto de catre um velho pensando suas feridas: que premio teve por suas dores a vida toda com ciática, lumbago, ovas e esporão. Grande coisa a vida de dores de coluna, escadeirado, os esquecimentos a esclerose. Depois o que doi mesmo , não é propriamente a dor fisica própria da velhice, senão que o desconforto de não ser mais levado a serio. Se fala as coisas que sabe dizem que não é vantagem, é assim mesmo, só podia ser assim: escutam com cortezia, mas vão logo saindo, é bananeira que já deu cacho. Fica ranheta, so fala de desastres, quebrando as ilusões. Logo que está sozinho, que pra morrer a gente acaba é sozinho mesmo. Todos morrem sós.
O tempo anda sempre e não para nunca, precisa substituir os velhos, o que é velho, pondo coisa nova no lugar. Esta vida não vale mesmo grande coisa. Um que chora lágrimas furtivas, a um canto. Depois o riso franco, mas quase sempre o pranto, as lembranças amargas, o sofrimento da pensão dos entes queridos. Quando se fica velho a morte se condensa: todo dia tem noticia dalgum amigo que se vai. A faixa etaria vai ficando estreita, principia a virar em monumento e em depósito de lembranças: pra isso que o velho serve, pra lembrar e avivar datas e ser elogiado por isso que é propriamente um defeito: as lembranças dos fatos distantes, não dos de perto que aí a memória não ajuda nem um pouco. Depois vem a surdez e a vista pouca. Cai os dentes, o cabelo, tem outras coisas que caem, mas aó não importa, porque não tem sofrimento algum: se não tem sede, porque carece de ir ao pote? Pior, é não ser escutado e não escutar: quem que aguenta conversar com velhos, é humanamente impossível manter conversação. Depois que adianta ouvir explicações de questões de ha muito resolvidas, contadas como grandes novidades pelos jovens. Acaba ficando chato de só ter verdades pra dizer, nenhuma idéia pra escutar. Aí que o velho fica apaixonado e se retira prum canto triste, só e seus pensamentos agora inúteis. Falou o beato essas coisas e acabei vendo uma certo encanto e alguma vantagem em morrer.
Um pobre pedinte, passava ao largo reclamista dos seus dias de sofrimento: a luta pelo pão e pela vida, sem nem tempo de pensar na vida. Não posso acreditar em fatazias de ilusões de que tenha uma outra vida: por certo talvez pior que esta. Passo o dia buscando o que de comer e de viver. Nme bem termina o dia, já preciso de buscar onde descansar o corpo esbodegado. Tenho a cabeça pra pensar, mas só penso o que não presta: só sonhos e bestagem a-toa. Todos os caminhos do pensamento levam apenas àquele fim inexoravel de que nada vale nada: a vida sendo só dor e sofrimento.
U'a mulher me acena com promessas de uma vida dedicada à casa, à familia, eu aceito o desafio. Casa limpa, o fogo, o calor la dentro, o aconchego, os filhos com que se preocupar e ensinar os primeiros passos: tudo sofrimento. Mas aí de repente escuto uma vozinha, chamando: Ô vovô?
Desperto e vejo um brilho, um fato corriqueiro: alguem depende de mim. Acordo de meus sonhos melancólicos e principio a ver dentro da vida desgramada, um certo encanto em viver.
Ando meio encafifado é com o significado dessa coisa tempo. Pode parecer maluquice, mas veja uma coisa: Para nós viventes, o tempo parece uma coisa crucial. Vivemos esperando o tempo passar para ver o resultado de nossos esforços e para aproveitar o gozo de algumas poucas delicias da vida. Mas nalguns processos da vida ao redor o tempo não tem o menor valor nem desempenha nada de importante. Vejamos alguns exemplos:
1. Para o agiota, o tempo representa juros do dinheiro emprestado. Passa a vida esperando, contando os dias que faltam para o vencimento de uma letra. Não vê a hora de receber o emprestado para emprestar novamente a algum pobre necessitado. Do ponto de vista do resultado, a vida do agiota já tem um traçado definido: não é nada dificultoso calcular o montante acumulado ao longo duma vida. Cálculos aritméticos simples poderão nos dizer quanto será acumulado. Portanto o tempo pode ser desprezado, que o resultado será conhecido, salvo uns poucos percalços da trajetória da vida do agiota, como alguma doença e coisa e tal, ou surpresa dalguns poucos inadimplentes. Nisso se resume a vida do agiota.
2. Para o criador, o tempo não existe: ele sabe muito bem o passado, o presente e o futuro, como um grande mapa em sua frente. Se quiser saber do futuro, basta apontar o dedo para algum ponto distante na borda do mapa e lá tem o resultado do que vai acontecer. Simples de tudo, não é?
3. Alguns cálculos dispensam totalmente o tempo, como por exemplo, a trajetória de uma pedra lançada de uma torre muito alta. A posição e velocidade da pedra são determinadas por formula simples (de Torricelli). Pode o tempo passar como quiser, que sempre será possível saber o que está acontecendo com a pedra em determinada altura. Uma vez atirada a pedra, ela se comportará como a bala do canhão: acontecido o impacto, o destino já está traçado, independente de considerações sobre o tempo.
4. Na eletricidade, pouco importa saber o que está acontecendo com as correntes e tensões ao longo do tempo em certo condutor no qual foi aplicada certa voltagem de um gerador de força elétrica. Valores do módulo da corrente e sua fase, relativamente a outras grandezas, podem ser determinados sem precisar do tempo como variável.
5. Sabemos da relatividade que não existe simultaneidade de acontecimentos em locais diferentes, para observadores animados de velocidades relativas intensas entre si. Podem ser calculadas as grandezas de umas como vistas pelo outro, de longe e em tempos muito decorridos. Não parece estranho que possamos estar informados de acontecimentos no sol, apenas depois de decorridos oito minutos? Já pensou na chatice que seria a comunicação com alguma nave viajando para Júpiter quando estiver no outro lado do sol e no seu apogeu? Cada pergunta do expectador da terra deveria esperar pelo menos meia hora, contando o tempo de ida da pergunta e o tempo de volta, sem contar o tempo que o viajante levou pra formular a resposta. Quanta coisa importante estaria acontecendo neste intervalo? Será que seria mesmo importante? Isso, para Júpiter que é nosso vizinho, e para alem dos limites de nossa galáxia, a bela via láctea, como seria a comunicação? ... É profundamente decepcionante para aqueles que esperam uma exploração do espaço por naves terrestres. Parece que teríamos de nos contentar com informações teóricas do que poderia acontecer, sem a menor participação no processo, a não informações que seriam aproveitadas por futuras gerações. Não é instigante que se conseguirmos imprimir velocidades grandes ao nosso foguete, acabaríamos alcançando acontecidos já vividos por outros ou por descendentes de nós mesmos?
6. E pensar que tempos são espaços percorridos pela luz, portanto uma grandeza espacial como outra qualquer, apena deslocada de 90º como maneira de medir o seu efeito. Como ter ciência do nascimento de uma estrela distante se sua luz nos chegará depois de bilhões de anos gastos em trilhões de quilômetros da viagem. Imaginar que ao contemplar o firmamento estamos apenas tendo uma imagem do passado, assim mesmo um instante particular de cada local. Como que poderiam ser catalogadas as inúmeras visões de inúmeros expectadores postados em locais distintos do universo. Não tem nem sentido saber que relação teria estas visões entre si. Mas podem ser facilmente calculado pela teoria da relatividade de Einstein. È muito triste saber que só saberemos das coisas do universo e de sua realidade por processos mentais, com a ajuda de nossa inteligência e não de nossos sentidos. Mesmo assim ainda estamos prisioneiros de nossa pequena capacidade em desenvolver nosso potencial inteligente, vítimas de uma lógica defeituosa do ser e não, pequena demais para abarcar os acontecimentos ao redor. Não é espantoso que apenas agora estejamos entendendo a teoria de Einstein, apresentada no ano de 1905? E que dizer da teoria dos quanta de energia e matéria, cuja idade chega há quase um século? É... "O conhecimento das coisas se encontra disperso, não é o mesmo para todos, não obstante o igualmente espantoso conhecimento que os jovens físicos nos vêm apresentando ultimamente em matéria de conhecimento do universo."
O tempo, eu acho que é o tormento do homem, que Deus deu para a gente como castigo de querer adiantar o conhecimento das coisas. O Criador, ele nos deu a mente curto e bipolarizada e esta visão estreita, mas é pra gente se afadigar com as coisas da vida, os sonhos e a esperança de ver o resultado bom dos nossos trabalhos, coisa que é desnecessária quando se conhece o fim de tudo. Nisso, o homem gasta a sua triste existência e condição, procurando entender uma coisa de que não é capaz senão com muito esforço e fadiga mental, contrariando essa besteira que chamamos de bom censo, que afinal não passa de ignorância e limitação. Na verdade o mundo não passa de uma gelatina espessa onde o homem fica prisioneiro de suas limitações, incapaz de mover-se muito depressa. Se quiser fazer as coisas às carreiras, acaba destruindo tudo, como faz com o seu meio e seus animais, companheiros de vida. Sobra ao homem apenas conhecer e aproveitar esta casca delgada da esfera em que passa morejando os seus tristes dias. Aquilo que está escondido por traz do mistério da matéria e energia, ao largo da vida, ele, o homem só pode desfrutar aos pouquinhos, gastando o tempo em entender. As coisas mais distantes do universo ele só pode ver com os olhos da inteligência e sonhar com a possibilidade de chegar ao menos perto. Mas não pode, porque é limitado e obtuso.