sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

LOUCOS

MANÍACOS: VIERAM DE MALA E CUIA
A história do louco professor da escola de direito do Largo São Francisco. Um homem entrado em anos de idéias dissolvidas. Chegava sorrateiro na rodinha de alunos, eles nem caçoavam, apenas dava aquela atenção devida.
Depois de disparates de falatórios de coisas sem o nexo certo, emendava:
-Gentes: agora vão me desculpar a ausência, mas vou defecar. Vocês sabem o que é defecar? -defecar é cagar. Alí reinavam absolutos, o Ataliba Nogueira, professor de direito romano; Gofredo da Silva Teles, velho integralista de carteirinha; os Reali, pai e filho, de direito constitucional.
—Ché! disparate de cantorias. Fervença de loucos e sambangas.
—O rumor de passos apressados: vultos se esgueirando pelos corredores, o farfalhar de camisolas, respiração opressa. Ficou ali escutando os pequenos rumores da noite,os bichos, os gambás vasculhando esconderijos. Galos musicos cantando na noiteescura. O vozerio estridente dos grilos e o matraquear dos sapos e rãs na lagoa: Um entanha que chamava: Oi Zé? ...quê!, tá bom ? ....Tá. Cê vai?...vô! curiangos com seus olhos arregalados em excesso. Corujas criteriosas, vistoriando atentas, os pequenos movimentos dos ratos e morcegos: de repente o voo insólito e inesperado e a volta triunfal com o alimentos da prole.—Cantavam seus ais chorosos, duetados de finos ais, estridentes de lamuriações.Choramingas. Mal de amores, o povo sonhando fundo a emoção, os braços alevantados como em orações de Padre-Nossos. Ladainhas de vias Sacras.
Era o causo que eles tinha de levar em comitiva de dementes, uma colondria de loucos pros hospicios, pra cidade grande de Campinas. Mas como reza o ditado que "de médico e louco, todo mundo tem um pouco, não seria uma viagem inusitada, a
novidade nenhuma nada que isse gente até sã da cabeça, uns mais, outros menos varridos da idéia, pra nenhum ninguem botar reparo.
Mas aquela era uma empreitada diferente, dados que as viagens usuais praquele mister, uma vez ficadas por demais espaçada, deu se que veio de formar contigente volumoso de airados, com destino a manicomios, razão porque chamava muita atenção do povo do lugarejo, tirante que uma aglomeração de loucos é um fato que desperta
muita curiosidade, dado os desatinos todos daquela gente, constando ainda que vinha de ser uma expedição sobejamente custosa de dar com esse povo em casa de loucos. A empreitada sendo materia pra gente instruida e astuciosa, que dessa vez era louco pra mil réis, o grande espaço de tempo entre os internamentos, deixou a cidade em polvorosa e cheia de gente fraca do juizo da cabeça. Qualquer um não servia pra dar
cabo de tão dificil tarefa. Tinha de ser gente de escrita correta, cartorista ou escrivão do crime, algum meirinho ou autoridade do forum. Tinha louco pra mais de metro,
uma leva deles, as mais impossiveis variedades imaginadas, desde esclerosados
simples, variegados loucos, gente vivendo num passado distante, esquecida dos fatos do dia a dia; manicados alguns alguens com materia de religião, outros encafifados de ganhar na loteria, encasquetados de virar num milionario, duma hora pra outra; loucos de amor puro e simples; doidos varridos, desses de rasgar dinheiro e avançar na gente ou de tirar a roupa no meio do povo, mostrando as vergonhas, na maior simplidade, sem a noção nenhuma da falta de desrespeito; gente perdida no espaço e no tempo, num acudindo um nada, sem dizer um a de coisa com coisa, quando a gente instiga; perdida a claridade do juizo, nenhum ninguem ciente dum nada, esgotado o entendimento do juizo da cabeça; simples desandados da cabeça, gente sistemática em excesso; velhos caducos, variando com lembranças remotíssimas; gente que perdeu por momentos a lembrança das coisas; gente com visões de coisas impossiveis, de almas penadas; alguns que perderam com a crise de 29, com vontade suicidar por suas próprias mão deles; empobrecidos que não conformam com a situação de perca;
loucos mansos, doidos varridos, matusquelas e de mil modos que um pode ficar ruim
da cabeça; enfim uma fatiota ridícula e triste, mas divertida, pra nenhum botar defeito.
A viagem, uma peripécia: que se passou coisa do arco da velha. Louco que ficou são
na metade da viagem; pessoa sã ficando doida no transcurso da viagem, no meio da
caminhada; gente sã, internada no lugar de gente sem juizo por arte de astucias desses
uns; louco levando louco por engano, ou gente sã ficados doidos na viagem; doidos
varridos e fugidos de hospicios na horinha mesma de vestir acamisa de manga
compridíssima; professores de letras em indumentaria de forum, de fraque e cartola;
loucos ladinos de ativos, loucos brandos, doidos intempestivos; loucos falantes e gente
do apá virado e doidos silenciosos; loucos de todos os jeitos possiveis e imaginados,
era louco que num acabava mais. Em desde que eu me entendo por gente, nunca que
eu num vi um ajuntamento tão seleto e tão estrangolado, numa embaixada tão
estranha. Tem precisão de um relato minucioso, tanto dos interditados como de seus
condutores responsados.
A história do louco professor da escola de direito do Largo de São Francisco,
um homem já entrado em anos e de idéias dissolvidas. Chegava sorrateiro na rodinha
de alunos, eles nem o caçoavam, apenas dava aquela atenção devida:
Depois de disparates de falatorio de coisas sem o nexo certo, emendava:
-Gentes! agora vão me desculpar pela ausencia, mas vou defecar. Vocês sabem o que é
defecar? defecar é cagar. Alí reinavam absolutos, o Ataliba Nogueira, professor de
direito romano; Gofredo da silva Teles, velho integralista de carteirinha; os Reali, pai e
filho de direito constitucional.
Tipo medonho, caratonho um tal de Tião Tiatonho. Simplório, trabalhador de
roça, muito sacudido. Vivia do eito, situante, um mijico de terra, quarta e meia e
salamin. Rocinha pouca, uma tutaméia duns poucos quase trinta litros de milho e
feijão. mais deis litros de feijão solteiro, um arroisinho tiguera, muito maltratado de
pragas, capivaras e lacraias. O medidor de palmo comendo solto de bocada, num
deixando vingar os pés sadios. Criação quase nada: um marruás e duas vacas de
bezerro, mais outras tantas solteiras e amojando, chegadinhas pra dar cria. Um animal
de lida e qualheira, pra selote e cangalha de bruaca, mais um piquira de sela, pra
vender queijo na cidade. Mas foi depois de muita manta e trama com ciganos, manada
acampada no sítio, foi que manicou que era de negocio: tinha conseguido de passar
manta no gajão, trocou de animal por um mais esperto e sadio, apanhou uma é gua de
potrinho. De tanto ver os breganhistas melhorarem de vida, a poder de muita trama de
negócio, encafifou que podia dar certo no negocio de animal e ficar rico, uma vida
mais sem-vergonha e livre do compromisso diario de serviço. E não é que que pelo
fato de ser marinheiro de primeira viagem, acabou mesmo com sorte, não sei se porque
uma coisa ajudou: um principio de doideira, uma nuvem de fraqueza da idéia, facilitou
as coisas. Porque no fim acabava não fazendo conta das pequenas coisas, muito mão
aberta e corajoso, fato que fez ele granjear a confiança do povo: tanto assim que todos
o procuravam pra negocio, não vendo na sua pessoa simploria, nenhum daqueles
defeitos: a muchibagem, a esperteza em demasia, ser águia em excesso.
Mudou pra cidade, casa duns parentes, viviam tudo empelotados: os tiatonhos.
Comprava qualquer coisa sem o nenhum critério. Trocava. Não punha nenhum cabedal
de empenho, mal examinava, confiava nos outros. Isso acabou ajudando, conferindo a
sua pessoa dele uma enormidade de simpatia. Pouco por muito: ajuntava. O preço
subia, ganhava sem querer, foi enricando. Juntou um despropósito de animal, criação:
garrotes, porcos, cabritos, carneiros. Não enjeitava nada. As veses trocava , para
ajeitar negocio, pelos mais conspicuos objetos, muitos sem serventia pra nada:
espingardas, garruchas, canivetes. Do jeito que evinha, ia. Comprava a prazo, vendia a
vista, o tempo passando, foi ajuntando tranqueiras. O preço das mercadorias subindo,
a moeda desvalorizando, acabavam deixando despropósito de lucro. Acabou juntando
uma colondria de gente rodiando ele, ajudavam nos negocios, tocavam criação, em
troca de casa e comida, sempre farta, ele nomeio na maior simplidade. Com dinheiro
na mão, era crise, os negocios davam certo: muito alem do que esperava, sem querer
ganhava, que todos traziam informação: muito querido de todos, espalhafatoso nos
gestos, grande de coração, placiano na sua prosa dele, muito espaçoso com todo
mundo. Uma pessoa simpática, não fazia questã de nada, ajudava todo mundo.
Foi ajuntando animais, não cabia mais no pastinho: teve de arrendar. A notícia
corria solta: ele comprava de tudo. Gente apertada por causo de diudas, procurava o
Tiatonho. Ele, com as mãos cheias de mercadoria, mostrava pouco interesse, não por
astucia nenhuma nada, apanhava criação na bacia das almas, apurava um dinheirão.
Fazia negócio no estalo, tinha peito ou porque não atinava com o verdadeiro valor das
coisas. Surprendia o vendedor já quase disacursuado do negocio. Nunca que num
deixava uma rês sem oferta, pra não ofender, não trazer malquerença. O outro
apertado acabava dispondo, por necessidade. Ficou sendo o comprador único, todos
procuravam, que sabia o modo dele: não era embuchado, desempatava negocio. Muito
placiano, principiou de prosperar e num dar conta do que tinha: teve de arranjar um
guarda livro. Analfabeto de pai e mãe, num trazia nada assentado: tudo de cabeça,
principiou de embaralhar as coisas. Acabou ficando melhor, que os outros tinham a
impressão de estar tapeando o coitado e a réstea, ele que ficava cabeceira.
Era afável, placiano até, como tem precisão e carece no ramo de breganhista.
Um sujeito muito despachado, eles gostava do tipo. As veses mostrava uma cara de
bravo, pra mostrar que serio nos negócios, mas só de mamparra, prosápia só, ratos de
onça, que nunca fez mal pra ninguem, nunca que num bateu numa criança, nem judiou
de criação, num fazia mal prum passarinho, que seje. Soava bem suas bravatas,
ganhou confiança, pagava em dia os compromissos. Nunca que arrependia dum
negócio, mesmo que mal feito, sustentava, nem que a poder de grande prejuizo. Essa a
fama dele. Cria fama, deita na cama, como lá diz. Prosperou, melhorou de vida.
Cara de bravo que nada, só bravatas, uma exorbitancia de espalhafato: gestos
largos, um ar de displicencia, não fazia questã de mixaria, mingueras. O sorriso
arreganhado, mostra os dentes: todos de ouro recapados pra mostrar riqueza, o
verdadeiro boca de ouro. Ralava os dentes quando começou de dar os primeiros sinais
de demencia. cerrava fortemente os dentes, que ninguem não conseguia abrir, nem a
poder de reza brava, quando alheado, em convulsão. Ficava gira e espumava o canto
da boca, babava de raiva e gritava chavões.
—peidou garapa, peidou dereito!
mas quando andava bom da cabeça, vivia acompanhado duma colondria de
desocupados, marreteiros de pequenos negocios, comissões insignificantes, umas
grojas, quando não, intermediando negocios pela comida nos bares, e pelo simples
prazer de ver ele fazer negocio, por indicação, uma rebarbas.
Comprou terras adoidado, ampliou os negocios de gado muito, até num dar
conta, estava rico. Mas nada ficava escriturado. Foi aí que começou a perder a noção
exata do andamento das coisas. Não dava conta de saber de tudo que tinha. Virou
confusão, um verdadeiro cu de boi, as coisas tudo espandongada pra todo lado, sem
relacionamento, o povo principiaram de aproveitar da situação. Alguem tinha que
tomar conta das coisas, o volume muito grande de negocios, mas por incrível que
pareça, ainda ganhava rios de dinheiro. Alguem para relacionar, assentar em
cardenetas, fazer apontamentos: um guarda-livros, o certo era esse.
Sem cautelas nenhuma ia comprando. Principiou de separar e colecional
objetos, garrou de panhar amor nas bugigangas: um jacá de canivetes enferrujados,
faquinhas, garruchas, balaio de espingardas, relogios: de alqueire misturados a
despertadores imprestaveis. Foram ficando escassos os objetos de trama, os
disponiveis empoçando na mão dele. Aí que principiaram de ganhar valor os objetos e
os seus pertences como zarreios, qualheiras, chinchas, futricas, quinquilharias, caixas de botões, pregos velhos Ele sempre ganhando nas tramas: um misterio sem
explicação, ia ver, os objetos na mão do Tiatonho. Ficavam todos num cômodo
grande, especie de venda, de comercio de verdade. Pra achar as mercadorias um
assunto dificultoso, que tinha que andar por cima das mercadorias, só ele sabia o
paradeiros das coisas, sua memória infalivel. Mas principiou de fraquejar, os seus
primeiros esquecimentos, lerdeza. Comprava estoques, fundos de negocio, liquidações,
arremates de leilão e salvados de incendio e de massa falida.
Ladino acabou ficando, excogitando negócios: vendia bezerros, breganhista de
animal e criação.
Se impricavam com ele, dizia:
-Orabolas, sô! vá amolar o boi. -Ara, siô! vai pentiar macaco.
—Gentes! não estou de graça não, nem de brinquedo: falo sério, não duvide. Duvida?
pois, imagina só!
—Será o impossivel, siô? com coisa que eu ia ligar muito pra isso! eu não sou
nenhum Valdivino nem Laudelino, muito menos você é Gasparina, ou é?
Aí se deu então de acontecer os primeiros sinais da perca do juizo,as falhas de
lembrança, num recordava mais o lugar coisa e das contas, pagava duas veses, um
delirio de repetição, os outros se aproveitando de sua fraqueza. Os esquecimentos
bestas, principiou de ouvir voses interiores, dialogango consigo próprio, falando
sozinho,. Murmurava. Aí desandou no primeiro acesso de delirio. Vendeu tudo uma
verdadeira fortuna, garrou de queimar dinheiro e jogar fora.
Era um grandalhão estabanado, meio capenga, o corpo desgovernado: cabeça
na frente, as pernas ficavam, como se outro corpo, depois embalava, num balangado
esquisito. A linguagem cativante, mas não dizia coisa com coisa, muito placiana, aos
gritos rompante, uma largueza exorbitada, espaçoso de tudo:
—Pança de angu, largato escadeirado. Boca de chupar ovo, testa de amolar
machado.Naris de cheirar peido.
Chegada a hora de internar, vestiram a camisa das mangas longuíssimas, como
quem veste pijama, as mangas dando voltas rodiando o corpo lhe parecia a ele de
brinquedo. Ficava varrido tinha de imobilizar que até avançava de unhas e dente,
investia que nem vaca braba. Que nem que o Bip, dirigia uma moto, vinha de longe
manobrando, engantando as marchas direitinho, espumava o canto da boca, vermelho
feito peru, do esforço em demasia.
Passou em muitas casas de louco apanhou medo de dar dó: Itapira Barbacena,
Juqueri, Campinas. Voltava ficava bom por uns tempos retornava, Panhou medo de
manicômio: uma triste lembrança do chá da meia noite, Pegou tambem mania de
conhecer cidades, de viajado que era, tinha orgulho do conhecimento extenso.De todas
a d cidades, respondia o nome prontamente, a visinhança, só que por malícia algumas
omitia:
—Conheceu ventania?
—Tive lá.
— São Tomé das letras?
—Conheci, passei uns tempos.
—E Barbacena?
—Passei perto.
—E Condeição dos ouros
—Conhecí bem.
—Conhece Juqueri?
—Vorta diabo, sartei de banda!
—Conhece Itapira e Campinas?
—De longe, conheço de vista.
Se era lugar de manicomio, a lembraança dos maus tratos, fazia esquecer
depressa, ele logo disfarçava, negaceava:
—Faz um tempão danado , quase que num alembro. Pasei perto mas num recordo.
conheço de vista, etc e tal. Sempre encontrava meio de manter afastado da memória,
os sofrimentos passados em casa de loucos.
Só o Tiatonho tinha coisas pra vender, ficava louco de tudo pra tender os
freguezes. Foi perdendo a paciencia, amiudaram os ataques, perdeu as estribeiras .
Logo virava em louco imprevisivel, por fim a camisa de força. desintendia aquela
coisa, mais possesso ficava dentro da roupa. Não dormia mais, levantava com as
galinhas, de madrugadinha e saia correndo atraz de nada. Só negócios. Principiou de
gaguejar e trocar as letras e palavras. Por fim, só reticencias..., dois pontos,
monotonamente. girou. endoidou de vez.

Jesué, o devente
O Jesué num era um louco bem dizer de verdade mas um homem embirrado com
mania de perseguição. Inteligente, esforçado, aprendeu tudo sozinho, a loucura
ajudando, um auto didata. Por profissão de escrivão do crime, ficando ao seu cargo a
elaboração dos inquéritos policiais, os autos do juri, as petiçoes criminais que ele fazia
com clareza, a letra miudinha, muito organizada, de implicado que era com letras do
manuscrito, principiando sempre os periodos por caracteres góticos. Caprichava. Mas
o forte dele, era a eletricidade, assunto que aprendeu por correspondencia no instituo
universal Brasileiro. Conhecia de tudo, desde instalação de maquinario, enrolamentos
de motores, instalação de carros, até de radio ele entendia. Enquanto consertava, num
diantava ter pressa, ficava escutando as noticias da china e da união sovietica, o
andamento do regime comunista, cuja doutrina ele apreciava, ele era um revoltado. Ele
é que dava jeito nos causos encrencados de radio do povinho da roça, acerto de pulias,
medições de rotação, de qualquer problema intricado de maquinario eletrico e
mecanico. Quando um problema não tinha solção pelos caminhos usuais, aí que
gostava. Quebrava a cabeça dias e noites até achar saída. Mas aí já era noite alta.
Quase nunca cobrava, uma leitoa, jacá de milho verde pra pamonha, era o suficiente,
desde que caisse nas graças dele. Nunca que num passou falta do que de comer, que
evinha tudo da roça, da clientela. Só que num podia ter pressa e aperto de serviço,
dependia muito da veia dele, da ocasião. Num diantava exigencia que fizesse ele
trabalhar, por dinheiro nenhum do mundo, só quem fosse da estima, é baixo!
Gostava de política, da alta e da baixa, tinha percepção aguda do pensamento
do zé povinho, sabia prever um resultado. Na política infernava a vida dos mandões da
política, dos coronéis, os cujos ficavam putos dentro da roupa de não ter ele como
aliado: um inimigo indesejavel, por importantes que fossem. Prestativo e muito
infomado, tinha la seus seguidores, fazia escola.A idéia dele nunca que batia com a dos
chefes, uma especie de zanga sabão, sempre do contra,uma esoecie de
anarquista.Detestava o senso comum, muito original, o pensamento dele muito
diferente dos outros, da maioria, muito avançado pra época.Desacatava os coronéis
expondo-os ao ridículo, chamando de ingnorantes, sem a cerimônia nenhuma. Lia
muito uns livros estranhos sobre comunismo, escutava radio da China até altas horas.
por isso despertava uma ojeriza dos mandantes da política, desfazendo os seus arranjos
deles.
Com tudo isso foi granjeando inimigos, garrou com mania de perseguição,
principalmente os juizes, os promotores, e os adevogados do forum.Não aceitava
opinião de ninguem, instruido que seje.mesmo os considerados importantes pelos
cargos, pelo poder e pela riqueza, formados que seje, não deixava ninguem por a mão
na sua cabeça dele.Não tinha papas na língua, falava o que vinha na cabeça, nada
fazendo mudar de opinião: um teimoso, embirrado tinha suas idéias próprias dele.
Teimoso como um jumento, não hesitava em por no ridículo, quem quer que
seje, importantes que fossem na política os atingidos, por cargos, ou poderes que
detivessem. Principiaram de impricar. Perseguiam, tentando tirar o que tinha de mais
importante: o cartorio e o cargo de escrivão do crime. Tinha capa, era meio parente
dos Vieira, que coitava ele, e duma gente dos figueiredo da Divisa, um povo muito
rico, coleados com os carecas, da política do Cabo Verde.Mas foi baixo! até na
política era ferrabras. Muito perspicaz, enrolava a todos, sabia mexer os pauzinhos no
estadual, seje juiz, promotor ou presidente do conselho. Tinha tambem seus padrinhos,
la de cima na politica, sabia bem elaborar os seus arrazoados em sua própria defeza
dele. Por mais que perseguissem , afastando temporariamente do cargo, ele sempre
retornava por arte de alguma astúcia tramada ou proteção de político influente, que no
assunto de leis era entendido, lia o Minas diariamente, redigindo os seus arrazoados e
requerimentos de alguma licença premio, salvadora, mesmo não sendo formado em
leis. Por uns meses dava descanso pros políticos, mas ficava maquinando, neste
interim.
E faz e acontece,que as pressões estavam aumentando: estava em jogo o
prestígio dos coronéis.Algo tinha de ser feito pra por um paradeiro na petulancia do
Jesué. De nada adiantava as picuinhas, a todos ele vencia com sua perspicacia, um jogo
de muita astucia e paciencia. Foi ficando isolado, os chefes fazendo intriga, mexendo
os pauzinhos no estadual e no federal, donde dependia sua remoção. Foi baixo! o Jesué
um espinho, abalava o prestigio dos Coronéis. Dizia:
—Daqui num saio nem a poder de reza brava, nem a muque: só morto e carregado.
De conversa muito placiano, tinha lá suas simpatias: manso, de gestos
maneiros, tinha um sesso de rir pra dentro, em grnhidos de porco, e chupar os dentes
asooviando, a boca entreaberta. Quando assim, podia contar(saber): estava ruminando
alguma idéia ruim dentro da cabeça la dele, os gestos impacientes, denunciadores
duma posição defensiva, de fera acuada. Era aí, aonde que revelava o genio ruim dos
figueiredos, teimoso como uma mula estirada, brabos como eles, nunca que num
enjeitava uma parada. Por pior que fosse o frégi, escorava. Tinha a valentia e o
dilurimento dos figueiredos da Divisa. No entanto a cor de cobre escuro, era parente
por parte de mãe, do povo dos Vieira, gente do Custodinho do Campestre. Era desses
uns que evinha parte da proteção politica, pra se defender das intrigas dos Coronéis,
do Major e o seu filho dele, o Dr filadelfo, do povo dos Ornelas e dos Magalhães, tudo
gente coleada pra tirar as suas garantias . Andava coleado com esse povo do engenho
de açucar, Coronéis tambem de despropósito de riquezas e prestigio.
Pois foi dessas implicancia e de um fato muito singular que principiaram de
aparecer os primeiros sinais de fraqueza de idéia, que acabaria levando o Jesué pro
Hospicio de Itapira, trancafiado: Principiou de interessar pelo jogo de loterias.
Primeiro foi aquela fixação com números: enchia resmas de papel com numeros
minusculos representando probabilidades, formando ternos e quadras, procurando de
cercar o milhar. Depois passando a limpo no livro comprido de assentamento de conta
de armazem, uma espécie de borrador. Os numros foram crescendo a medida que
foram crescendo as certezas, tanto no tamanho da escrita quanto no valor próprio
representado. Megalomanias: grandes garranchos enormes de noves, oitos e setes. Nos
muros, rabiscados a gis, e carvão. Numeros maximos, de muitos algarismos, de muitos
noves seguidos:
—Novecentos e noventa e nove milhões de milhares, centenares de noves, novenares
de novilhões de contos de réis. Agora virei num milionario, novelhonario. A milhar
está cercada, vou tirar a sorte grande.
Deu de encasquetar com numeros místicos. Duma veis ficou tempos mancado
com o nove e o seis. Acontece que escrevia tanto que as veses saia de cabeça pra baixo
mesmo, pra aproveitar espaço no borrador. O seis virava nove e vice versa. Imaginou
um brinquedinho: com um prego fixou uma regua na parede. Num canto prendeu um
nove, riscado no papelão, no outro um seis, girava. O nove virava seis a cada meia
volta, e o seis , nove. Mostrava radiante da, descoberta, a maquininha de moto
perpétuo.
—Olha gentes: o moto contínuo! e imprimia um embalo no movimento giratorio na
regua. Explicava: o nove é maior, pesa mais. Quando chega em cima vira seis, e o seis
vira num nove. Num para. Vivia caçando maquinas impossiveis, motores tocados per
geradores acoplados que acionavam os proprios motores, num giro infinito sem gastar
enenrgia. Achava que se esforçasse acabava descobrindo o moto perpétuo.
O único numero pequeno que gostava era o zero, para exprimir importancias
grandes depois do ultimo.
—Vigia só a minha riqueza incalculavel: novecentos e noventa e nove, noves fora,
nada! errado: principia de novo...
—Zero, zero, zero..., zero cento e zerenta e zero, que bonito! mas isso não é numero,
são apenas declarações de vazio: nulidades, nulidades, são ocos de pau, olhos de bicho
no escuro, no mato. Agora eram reticencias, depois pontos, monotonamente.
—Agora estou rico, ninguem vai poder comigo! quero ver quem a cara dos
Magalhães! tira, vá..., tira o meu cartório, se vocês tem competencia.
De primeiro, eram quebra-cabeças. Ficava horas e horas até altas horas
rabiscando folhas e folhas dos cadernos das crianças, na busca de problemas
impossiveis: tres casinha, alimentadas de luz agua e telefone, não podia cruzar os
riscos. Ia tudo muito bem até faltar uma ligação, ficava louco, começa de novo.
Diacho! Depois foi a teima com os numeros da loteria. Imaginava um segredo, pra
cercar o rtesultado, jogando uma quantidade de numeros chave, atravé de
combinações adequadas . —Paciencia que vai dar certo! com isso imaginando que
poderia aumentar a probabilidade de ganhar no jogo. Não que imaginase certeza plena,
absoluta, que era louco, mas nem tanto. Sua inteligencia ainda funcionava, sabia a
certeza impossivel. Mas acreditava que tanto mais pensasse, mais enchese resmas e
resmas de papel com cálculos mais aumentava a probabilidade: uma extranha relação
de causa e efeito processando dentro de sua cabeça alucinada. Mais dia menos dia
acabava acertando.
Inventava a maquina do tempo. Dirigia veiculos imaginarios.
Contemplava o silencio daquelas serras, as montanhas caladas,pensando nos seus
antepassados, vento repouso: a montanha pensando quieta, ruminando desastres.
-Pa daqui, pa dali: desembestou no mundo. Um xereta, lambereta, uma lambisgóia
qualquer: bruaca, lacraia velha,
-De déu em léu, sem sapato e sem chapéu. Um ronceiro opilado.
-Tão e mas; no sufragante: zas! Tal como as bananinhas nascentes, o umbigo imenso:
já nascem prontas, enfileiradinhass, seus começos e fins definidos. Enfeitadas de véu e
grinalda, vão surgindo como em festa de coroação da virgem.
-Caros amigos de lutas inglorias: "O homem deixa a vida pela luta, longos anos de
peleja, quando chega a morte, é só terra na cabeça do bicho. Morto o defunto nem
num esfriou ainda, já está levado e sepultado, o corpo dele seu por conta dos bichos de
varejeira e dos tatus canastra, fuçadores de cemirerio". Tenho dito!
"E agora compatriotas , vamos nem que seje a força: quem for
brasileiro e são, que me siga, a patria nos chama, a gente não podemos nos furtar ao
cumprimento do dever: ou vai os dentes ou vai o queixo! Alea jacta est!"

A comitiva de loucos: a viagem.
Sair, sairam: a maior mão de obra que deu, dar com toda aquela colondria de
dementes em hospicios. O Jesué, manicado com loterias, tinha descoberto um sistema
pra ganhar no jogo, infalivel, consoante seus dizeres:
-Estava pra ficar riquissimo, ia virar num milionario e tirar a sorte grande. Não era bem
dizer um louco de verdade, senão que acreditava no colega de forum da comarca,
estar ajudando o Adejalma a dar com Tião Tiatonho em manicomios: o internamento.
A inglesia que deu foi quando na hospicio de Itapira, os enfermeiros, zelosos do oficio
de guarda loucos, vindo com camisas de mangas muito compridas, pra imobilizr os
dois: reminação nunteve nem podia os dois sendo trancafiados em quartos sem jinelas,
quando deram pela maçada.
O João Lé, esse fugiu umas par de veses, o maior banzé que deu, que o
povinho estava gostando da fatiota, vendo aquela coisa desproporcional, uma figura de
proa, como estatua, com as vergonha de fora, ele, por vez mais gostando de se exibeir,
um narciso.
O Zé Louquinho, num vencia organizr biblias e almanaques, na tarefa de
conseguir adeptos para a pregação do fim do mundo, vocês sabendo como que o povo
gostam destas patacoadas. O Alzirto e o Tião Tiatonho, negociando com os loucos de
outras cidades, agenciando ajudantes. No meio da folia, o Sinésio discursando, a vida
pra ele constando só de acontecimentos heróicos, tudo solenidades.
—Meus senhores e minhas senhoras: foi por ocasião das comemorações da data
máxima da cristandade perto dos festejos de momo que ele, como cachaceiro
inveterado, principiou a dar os primeiros sinais de demncia. Discrepava das idéias do
dia a dia, aprazia dos dizeres bombásticos. Tudo tinha de ter um significado profundo,
celebrado com palavreado barroco, mesmo as coisas mais corriqueiras. Um tipo
franzino, vestido a carater, de libré e colete, o cavanhaque e o relogio de bolso, o
peitilho engomado em ocasiões triviais, punhos a nostra de rendas o ar e cabeleira
revolta, caracteristico dos intelectuais pobres, no contexto dos amanuenses e
cartoristas da época. Empolgava se com os brados patrióticos dos generais e com os
dizeres monarquistas.Volta e meia, sem nenhum aviso ameaçava com discursos
circundantes, tecendo loas, considerações estéreis e extemporaneas, repletas de
citações em latim e grego arcaicos cheios de delongas inuteis e sem propósito.
O Gordurinha, empolgava com seus dizeres de falta de sem gracesa, adevertindo o
povo com historias do velho Man´Sinhô. Altaneiro, empolgado de ver tanta gente
reunida, comandava aquele pequeno esercito de desmiolados:
O Velho Mané Sinhô, estando nu no deserto
dormiu com o cu aberto, veio o bicho e entrou.
Dizem que o bicho é pelado, usa capa e anda nu
tem aspecto de mussum: Na falde qualquer buraco,
as veses entra no cu.
Ora está duro, ora está mole
fica triste quando come
gumita o que não engole
Cumo diz a velha chica
se a capa for de pelica
forrada por natureza
pode dizer com certeza
que o nome do bicho é pica
Chegar: chegaram. Foi quando senão que se deu a inglesia, no berrembaque de
Campinas,os porteiros equivocados da verdadeira identidade dos integrantes da
comitiva: se os são, ou os loucos de verdades, passados por sãos. Quem acabou
tomando das hervas foi o pobre do Totó, que nada tinha com o peixe senão que o fato
de ser tio do Alziro. Acabou trancafiado, equivocado, no lugar do próprio, ladino de
tudo.
-Os loucos: seu mistérios, seus ares estranhos e seus olhares vagos.
Tudo por questã da noticia, causo que falaram na radio:
-"vão fechar os hospicios e botar os loucos no olho da rua!" alarmou o povo, o Sinésio
encafifado:
-Como que pode uma coisa dessa: primeiro com os presos, depois com morféticos, por
derradeiro os loucos.: Este povo republicano do governo perderam o juizo da cabeça,
perderam as estribeiras. Num tem proposta uma malvadeza dessas: eu acho que uma
centena loucos, milhares será mandada de volta a seus donos e parentes, sem condição,
causo que algum ja morreu, mudou lugar, foram pro Paraná, quem que vai saber do
paradeiro desse uns. E os loucos, depois de tantos anos num alembra mais do seu povo
nem da sua terra deles, o hospicio é o lugar, a casa deles, ja madrinharam com outros
loucos, vão sentir falta. Nem casa eles tem mais pra aonde voltar, vão ficar
desguaritados feito criação fujona que perdeu o rumo de casa e da sua querencia,
alongados por esses ermos de estrada, de déu em déu, vagando alucinados, fazendo
esquisitices por ai afora. Será que a familia, agora muito desmudada aceita? não vai ser
o causo das criança passar vergonha dos seus parentes?
E ainda falam, tem a capacidade de dizer, que é pro bem do louco, como que
pode? esses republicanos: cambada de Maçônicos ateistas!
Ficou muito triste com a noticia e foi se consolar com o Adejalma, garrou de
filosofar:
-O quê nos faz tão antagônicos em relação a eles loucos e tão ausentes do legítimo
sentimento humano? será o medo ancestral de que tenhamos sido igual a eles, nos
tempos re3motos de outras encarnações? ou será o horror de que viessemos a sê-lo,
ou classificados como tal? O quê nos faz rir de seus ridiculos? não sera porque em sua
forma crua e original em excesso, expressem justamente aquilo que, por
pusilanimidade, gostariamos de expressar verdadeiramente e não temos a mínima
coragem para fazê-lo? ou sera que exorcisamos neles os espiritos dos loucos
potenciais que temo em nós, cujos absurdos e desejos horrendos, sepultamos em nosso
interior, através de nosssos códigos morais? absurdo! eles nos espelham e por isso os
queremos longe de nossas vistas, bem confortavel, não é?
Enquanto viajava sua cabeça ficou povoada daqueles pensamentos
horripilantes. Resmungava como um doido varrido, louco de raiva:
-Centenares de milhares quem sabe, de loucos imprestaveis serão devolvidos à familia
que não os quer e à sociedade que os rejeita, la sendo submetido ao mais ultrajante
escárnio público, com que fazem hoje em dia com com os pobres loucos de nossa
cidade. Se tornarão, rejeitados, objetos de chacotas para diversão de fedelhos e
maiores mal formados, gente caçoista.
Enquanto dura a viagem, fica resmoendo aquela tristeza sem termo, aquela
compaixão indisivel a invadir-lhe a alma pura. fica triste e melancólico, perde toda sua
graça. Consola-se com o Adejalma, que não consegue tambem esconder um dó
daquela gente, os seres desmiolados, no entanto a sua fama dele de machão e caçoista.
Peripécia da viagem, os loucos em ternos sendo recolhidos em manicomios, o Sinésio
aproveita pra fazer visita de reconhecimento do lugar e faz um relato sombrio ao
Adejalma:
-As estalações todas estão no mais completo abandono. Encontrei de tudo que é louco
desativado e defeituoso por danos irrecuperaveis: dementes recorrentes juvenis autistas
e idosos de Parkinson; esclerosados multiplos de Alzeimer, espasmódicos e epiléticos;
no hospicio de Itapira, toda sorte de esquisofrenicos, paranoicos e debeis mentais em
graus variados de depressão; convulsivos maniacos depressivos, com olhares no
infinito , vagos e opacos; sosias de multiplos napoleões circunspéctos e réplicas de
marechais condecorados; levas e vagas de barões infezados, lambuzados fecais até na
cara e doidos gigantes, convalescentes e desativados.; doidos rãs e frutos pendentes de
arvores imaginarias; contorcionistas em decubito fetal; miriades de pigmeus exóticos,
calvos de olhares distantes; aristocraticos diplomatas solenes em trajes menores da
cintura pra baixo, comendo bosta ao lado de dançarinos desintegrados, descanhotados
em posições impossiveis, decompostos e desconjuntados, calados e colados aos cantos
tristes, calvos e sinistros; todos, no mais profundo alheamento do mundo ao redor. Era
sexta feira. Treze. O Sinésio não parava de gesticular, bradando aos quatro cantos:
Diante de quadro tão desolador, o Adejal, um crítico sibilino, não consegue
conter o choro, abre o bué num choro consentido: uma onda de raiva invade-lhe as
entranhas:
-Não podia que estivesse tmbem ficando louco, diante de tamanha desumanidade?
Pergunta, entre triste e desolado: Que fazer? Sinésio: me dê uma luz.
A contemplação daquele quadro de seres humanos absoletos e despojados de
sua minima dignidade deles, os sinais recentes de operações lobotímicas, os fios a
mostra, de suturas mal terminadas, despertavam nele ondas de disritimia e nauseas.
Podia que estava num dia azarento: era treze de agosto, mes de cachorro louco.
No auge daquela situação desagregadora, brada aos ceus enfurecido, palavras
de baixo calão:
-Que bosta de paiz esse que não sabe cuidar dos seus loucos, pensar suas feridas? é o
fim da picada. Como que contaminado pelo discurso barroco do Sinesio, Principiou
uma fala de imprecação, vasada no mesmo estilo arcadiano do outro:
-E só agora vem dizer que não vão mais cuidar dos loucos? e que é que vai cuidar
deles nos seus momentos de grande furia? será, a molecada da rua e os maiores sem
graça nenhuma? não veja graça em brincar com loucos! virge! é coisa de louco, sô!...,
melhor: é próprio do homem: só humanos são capazes de tamanha cachorrada. Tá
doido, sô!
-E depois, voltando pracasa, como que vai ser? porcerto vão seguir pelas estradas
ermas, vagando itinerantes, ovantes como boiada desguaritada, exibindo a todos seus
ridiculos e irresponsabilidades. Ou apenas circulando, como faz a doisda de nome
Circular, na espreita pasiva de de seu amado médico. Ou vagando pelado pelas ruas
como o João Lé, vergonhas pra fora, à mostra o membro imenso de louco. Ou como o
Friciano, o seu medo dele infantil de cidades com nosocômios, o Chico Frango, o
Peidou-garapa, a Maria dos queijos, a pedrina e seus cachorros sarnentos, a Antonia
arrastando seus andrajos, a cara mais limpa do mundo de felicidade! oZé Louquinho,
exaltado com suas profecias de fim de mundo, do homem ir à lua e outras sandices? e
os que estamos trazendo: quem vai suportar seus sonhos de ficar milionarios e sua
mania de grandeza de ganhar loteria e tirar a sorte grande? Que será do Tião Tiatonho,
o Jesué e o seu Pedro General.
Como podemos ser desprovidos dos mais elementares sentimentos
humanitarios? como que pode esta gente voltar pra casa? que casa? ..., esta viagem foi
demais pro meu gosto: num tem proposta!
Dessa vez o Adejalma perdeu o requebrado. Tinha vez que era crítico,
zombeteiro dos outros, caçoeista mas tudo brincadeira sem maldade nenhuma
nada.Dessa, tomou das hervas: conheceu papudo! perdeu até os trem de pitar. A
consciencia de fatos tão chocantes abalou até os calços a sua estrutura sentimental,
fazendo mostrar aquele lado bom do seu carater, até então desconhecido do povo e
mantido recolhido pra não mostrar fraqueza. Aquele dia ele chorou feito crianç, abriu
o bué, soluçado. O povo caçoavam dele quando contando as peripécias da viagem
malsinada:
-Aí ganjão! cadê a tua rompancia: caçoa mais! cadê aquele ar soberano e altaneiro, de
caçoista das fraquezas dos outros pobres coitados. Brinca! tomou das hervas, danado,
conheceu papudo!
: caçoa mais! cadê aquele ar soberano e altaneiro, de
caçoista das fraquezas dos outros pobres coitados. Brinca! t