sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

DOIDOS

LOUCOS: SEU ARES ESTRANHOS, SEUS OLHARES VAGOS


Chegar: chegaram. Foi quando senão que se deu a inglesia, no berrembaque de
Campinas,os porteiros equivocados da verdadeira identidade dos integrantes da
comitiva: se os são, ou os loucos de verdades, passados por sãos. Quem acabou
tomando das hervas foi o pobre do Totó, que nada tinha com o peixe senão que o fato
de ser tio do Alziro. Acabou trancafiado, equivocado, no lugar do próprio, ladino de
tudo.
-Os loucos: seu mistérios, seus ares estranhos e seus olhares vagos.
Tudo por questã da noticia, causo que falaram na radio:
-"vão fechar os hospicios e botar os loucos no olho da rua!" alarmou o povo, o Sinésio
encafifado:
-Como que pode uma coisa dessa: primeiro com os presos, depois com morféticos, por
derradeiro os loucos.: Este povo republicano do governo perderam o juizo da cabeça,
perderam as estribeiras. Num tem proposta uma malvadeza dessas: eu acho que uma
centena loucos, milhares será mandada de volta a seus donos e parentes, sem condição,
causo que algum ja morreu, mudou lugar, foram pro Paraná, quem que vai saber do
paradeiro desse uns. E os loucos, depois de tantos anos num alembra mais do seu povo
nem da sua terra deles, o hospicio é o lugar, a casa deles, ja madrinharam com outros
loucos, vão sentir falta. Nem casa eles tem mais pra aonde voltar, vão ficar
desguaritados feito criação fujona que perdeu o rumo de casa e da sua querencia,
alongados por esses ermos de estrada, de déu em déu, vagando alucinados, fazendo
esquisitices por ai afora. Será que a familia, agora muito desmudada aceita? não vai ser
o causo das criança passar vergonha dos seus parentes?
E ainda falam, tem a capacidade de dizer, que é pro bem do louco, como que
pode? esses republicanos: cambada de Maçônicos ateistas!
Ficou muito triste com a noticia e foi se consolar com o Adejalma, garrou de
filosofar:
-O quê nos faz tão antagônicos em relação a eles loucos e tão ausentes do legítimo
sentimento humano? será o medo ancestral de que tenhamos sido igual a eles, nos
tempos re3motos de outras encarnações? ou será o horror de que viessemos a sê-lo,
ou classificados como tal? O quê nos faz rir de seus ridiculos? não sera porque em sua
forma crua e original em excesso, expressem justamente aquilo que, por
pusilanimidade, gostariamos de expressar verdadeiramente e não temos a mínima
coragem para fazê-lo? ou sera que exorcisamos neles os espiritos dos loucos
potenciais que temo em nós, cujos absurdos e desejos horrendos, sepultamos em nosso
interior, através de nosssos códigos morais? absurdo! eles nos espelham e por isso os
queremos longe de nossas vistas, bem confortavel, não é?
Enquanto viajava sua cabeça ficou povoada daqueles pensamentos
horripilantes. Resmungava como um doido varrido, louco de raiva:
-Centenares de milhares quem sabe, de loucos imprestaveis serão devolvidos à familia
que não os quer e à sociedade que os rejeita, la sendo submetido ao mais ultrajante
escárnio público, com que fazem hoje em dia com com os pobres loucos de nossa
cidade. Se tornarão, rejeitados, objetos de chacotas para diversão de fedelhos e
maiores mal formados, gente caçoista.
Enquanto dura a viagem, fica resmoendo aquela tristeza sem termo, aquela
compaixão indisivel a invadir-lhe a alma pura. fica triste e melancólico, perde toda sua
graça. Consola-se com o Adejalma, que não consegue tambem esconder um dó
daquela gente, os seres desmiolados, no entanto a sua fama dele de machão e caçoista.
Peripécia da viagem, os loucos em ternos sendo recolhidos em manicomios, o Sinésio
aproveita pra fazer visita de reconhecimento do lugar e faz um relato sombrio ao
Adejalma:
-As estalações todas estão no mais completo abandono. Encontrei de tudo que é louco
desativado e defeituoso por danos irrecuperaveis: dementes recorrentes juvenis autistas
e idosos de Parkinson; esclerosados multiplos de Alzeimer, espasmódicos e epiléticos;
no hospicio de Itapira, toda sorte de esquisofrenicos, paranoicos e debeis mentais em
graus variados de depressão; convulsivos maniacos depressivos, com olhares no
infinito , vagos e opacos; sosias de multiplos napoleões circunspéctos e réplicas de
marechais condecorados; levas e vagas de barões infezados, lambuzados fecais até na
cara e doidos gigantes, convalescentes e desativados.; doidos rãs e frutos pendentes de
arvores imaginarias; contorcionistas em decubito fetal; miriades de pigmeus exóticos,
calvos de olhares distantes; aristocraticos diplomatas solenes em trajes menores da
cintura pra baixo, comendo bosta ao lado de dançarinos desintegrados, descanhotados
em posições impossiveis, decompostos e desconjuntados, calados e colados aos cantos
tristes, calvos e sinistros; todos, no mais profundo alheamento do mundo ao redor. Era
sexta feira. Treze. O Sinésio não parava de gesticular, bradando aos quatro cantos:
Diante de quadro tão desolador, o Adejal, um crítico sibilino, não consegue
conter o choro, abre o bué num choro consentido: uma onda de raiva invade-lhe as
entranhas:
-Não podia que estivesse tmbem ficando louco, diante de tamanha desumanidade?
Pergunta, entre triste e desolado: Que fazer? Sinésio: me dê uma luz.
A contemplação daquele quadro de seres humanos absoletos e despojados de
sua minima dignidade deles, os sinais recentes de operações lobotímicas, os fios a
mostra, de suturas mal terminadas, despertavam nele ondas de disritimia e nauseas.
Podia que estava num dia azarento: era treze de agosto, mes de cachorro louco.
No auge daquela situação desagregadora, brada aos ceus enfurecido, palavras
de baixo calão:
-Que bosta de paiz esse que não sabe cuidar dos seus loucos, pensar suas feridas? é o
fim da picada. Como que contaminado pelo discurso barroco do Sinesio, Principiou
uma fala de imprecação, vasada no mesmo estilo arcadiano do outro:
-E só agora vem dizer que não vão mais cuidar dos loucos? e que é que vai cuidar
deles nos seus momentos de grande furia? será, a molecada da rua e os maiores sem
graça nenhuma? não veja graça em brincar com loucos! virge! é coisa de louco, sô!...,
melhor: é próprio do homem: só humanos são capazes de tamanha cachorrada. Tá
doido, sô!
-E depois, voltando pracasa, como que vai ser? porcerto vão seguir pelas estradas
ermas, vagando itinerantes, ovantes como boiada desguaritada, exibindo a todos seus
ridiculos e irresponsabilidades. Ou apenas circulando, como faz a doisda de nome
Circular, na espreita pasiva de de seu amado médico. Ou vagando pelado pelas ruas
como o João Lé, vergonhas pra fora, à mostra o membro imenso de louco. Ou como o
Friciano, o seu medo dele infantil de cidades com nosocômios, o Chico Frango, o
Peidou-garapa, a Maria dos queijos, a pedrina e seus cachorros sarnentos, a Antonia
arrastando seus andrajos, a cara mais limpa do mundo de felicidade! oZé Louquinho,
exaltado com suas profecias de fim de mundo, do homem ir à lua e outras sandices? e
os que estamos trazendo: quem vai suportar seus sonhos de ficar milionarios e sua
mania de grandeza de ganhar loteria e tirar a sorte grande? Que será do Tião Tiatonho,
o Jesué e o seu Pedro General.
Como podemos ser desprovidos dos mais elementares sentimentos
humanitarios? como que pode esta gente voltar pra casa? que casa? ..., esta viagem foi
demais pro meu gosto: num tem proposta!
Dessa vez o Adejalma perdeu o requebrado. Tinha vez que era crítico,
zombeteiro dos outros, caçoeista mas tudo brincadeira sem maldade nenhuma
nada.Dessa, tomou das hervas: conheceu papudo! perdeu até os trem de pitar. A
consciencia de fatos tão chocantes abalou até os calços a sua estrutura sentimental,
fazendo mostrar aquele lado bom do seu carater, até então desconhecido do povo e
mantido recolhido pra não mostrar fraqueza. Aquele dia ele chorou feito crianç, abriu
o bué, soluçado. O povo caçoavam dele quando contando as peripécias da viagem
malsinada:
-Aí ganjão! cadê a tua rompancia: caçoa mais! cadê aquele ar soberano e altaneiro, de
caçoista das fraquezas dos outros pobres coitados. Brinca! tomou das hervas, danado,
conheceu papudo!
&ELOUCOS.WPS_data \@ " dddd, MMMM d, aaaa"§_data §PAGINA &U

VICTOR HUGO ROMÿO
: caçoa mais! cadê aquele ar soberano e altaneiro, de
caçoista das fraquezas dos outros pobres coitados. Brinca! t