sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

SAFADAS

HIHISTÓRIAS SAFADAS

O ABC do Valentão Galante namorador, coleção de historias impróprias pra de menores, safadistas. Folhetim de baixa literatura, o escritor eventual, bissexto.
Gente instruída não deve de ler, num tem o que preste. Causos comuns de macheza caipira de gente da roça. Bestagens. Sem o nenhum propósito nada de engrandecer a pessoinha de nenhum ninguém nada não, ou de quem quer que seje. Quando pego de calça curta, numa caçada maldosa, saia de fino com rompantes de desdém: "num há que cumo a posição do individuo de grandezas machas, muito embora que perseguido da polícia. Afirmação sem nexo, pra escapulir duma situação constrangedora.
Mas são histórias que não tem nenhum ensinamento de moral ou de procedimento, nem conselhos, que se fosse bom, ninguém dava: vendia. A vida dos outros, sagrada, nenhum tem de meter o bedelho. Pra mostrar a vidinha comum, sem graça nenhuma do povinho da roça, ou das corruptela. Pequenas cidades. reduzidas a mesmice de sempre, do quotidiano do diário da vida. Não é livro de religião, que não se discute, mas tem lá suas receitas de rezas:
-Pra tirar deslumbramento e pra ficar invisível, das historias do livro safado, do santo hereje: São Cipriano.
-Tem trovas de safadezas, caçadas e jogos de puia.
-A historia do sujeito que enlevou com a moça, tem o encantamento com a palavra escrita que acabou por fazer dele uma pessoa deslumbrada.

Principiou de gostar de contar historias, o povo davam corda: foi daí que apanhou gosto pelo oficio de contador de causos. Mas não eram histórias simples, causos de assombração, senão que histórias maledicentes, cheias duma malícia caipira de quem fala grosso, pausado, encobrindo a vergonha. Um homem miúdo, inexpressivo, duma simplidade que dá gosto, mas reconhecido um homem sincero, sem nenhum rique foque. Falava caçoando da sua pessoa dele, de sua simplidade, mas não gostava de pouco causo nem que duvidassem de sua palavra verdadeira: engraçado sem o querer dele de ser, jeito dele. Manso, falava engraçado, meio rouco, pra dar um ar de macheza, firme, uma arrogância calculada pra produzir efeito de confiança, mas não pra se fazer de si engraçado:
-De qualquer jeito que vim, eu traço. Comigo, nem tem tico inchado. Falo o português claro: num tem mais nem meio mais: falei, ta falado, no pau da peroba.
Carregavam suas vidas miúdas, como pesados fardos às costas.
Essa, a história do fazendeirinho Quinquinca, o vurgo dele do nome correto de Joaquim Serafim dos Santos, suas artes e suas maldades. Diziam que tinha outro dentro dele: tinha o Diabo no corpo. Era um pândego, mas mau, tinha veneno nos olhos da cara, mal de nascença.
Tudo, pra fazer pouco causo da sua pessoa dele, pondo em duvida a macheza, denunciando fraquezas de macho nos jogos de puia.
-Podia tanto chover! e o tanto que eu ia gostar?
Porque foram brigar num sei: eles era bem dizer parente. Fato é que brigaram, num pararam mais até hoje. Não foi uma nem duas. Briga de tirar sangue, de vazar a barriga e por pra fora as barrigadas. Brigavam até alta madrugada se não tivesse um cristão por perto pra apartar. A cara deles, um inventário de maldades.
Garraram de imaginar que podiam fazer trampolinagem a torto e a direito, caíram na esparrela, caíram com a boca na botija.
Folhetim de baixa literatura, o escritor eventual, bissexto.
Quando instado a dizer qualquer coisa, não se fazia de rogado, rompava, rastando malas, caçava modos quando pego de calças curtas, saia com uma frase de desdém:
-Num há como a situação do indivíduo, nem como as grandezas macha, muito embora que fosse perseguido pela policia.
Uma afirmação óbvia, sem nexo certo, só pra escapulir da situação.
-Não tem ensinamento nem conselhos: só de remédio. Serve pra mostrar a vidinha comum do povinho da roça, a falta de semgracesa das cidades pequenas, reduzidas a mesmice de sempre do diário da vida. Não é livro de religião, mas tem receitas diversas.
Reza pra tirar deslumbramento.
Receita pra ficar invisível.
Cantiga de amor sentido.
Causos de assombração e de morte estranha.
Tem trovas de safadeza.
Tem caçadas e jogos de puia.
Tem crime perfeito.
Tem o mistério do encoberto.
Simplidades
O compadre , muito ressabiado, o outro consola:
-Bestagem tua compadre, hoje usa isso. Até as mulher vai no doutor pra ele olhar dentro delas, já imaginou. Deu pó pra dar com ele no médico.
Teve um, que vendo o médico apalpando e perguntando, garrou de ficar ansiado, o doutor descendo as mão pra partes intimas, falou:
-óia aqui, doutor: melhor eu apalpar e o senhor vai perguntando, tá bom?
Agora, o negócio que eles fala do doutor enfiar o dedo no toba da gente, isso é bestagem, ninguém num liga mais.
Quando o compadre voltava, com a cara mais triste desse mundo, arrastando as pernas entreabertas, o outro , com os olhos brilhando duma malícia velhaca, foi logo perguntando: como que foi?
-Pode ter doutor mais porcalhão? acho que o doutor esse, fez bobage comigo.
-Num importa não compadre, a gente acostuma com tudo. O pior é a gente gostar da coisa: acaba gostando. Já viu falar do tal de cunex? É bão, no começo a gente estrada, mas depois gosta. O pior que é que pode ficar gostando, e aí, já viu né: fica desmoralizado.


Quotas partes, alíquotas, similia similium. Asinus asinum, fricat.
Vergastado ao peso dos janeiros, trazia sobre os ombros o peso dum fardo terrível. Jamais nada provado numa situação tão constrangedora, do tempo do onça.
A volta do renegado, famigerado, um homem impostor, impositivo. Sistemático e regrado, seguro o miserável. Vivia de passar medo e de assombrar os outros. Tinha uma historia do arco da velha, do tempo do onça: tempo de amarrar cachorro com lingüiça ou de zagaia de gancho. Repunava aos outros.
-Fala, não para: eu te pago pra dizer palavras. Vamos! Palavras, palavras..., nada mais que palavras:
"Palavras chulas, inócuas, palavras de honra, palavra de rei, que não volta atrás. Sempinternos, misantropos, de olhares rubros: redutio at absurduum. ao zero e ao infinito.A expressão mais simples reducto. Calcanhar de Aquiles, aquilo num era pra menas importância. Subterfúgio dos velhacos anacrônicos. Penduricalho, peremptório.
Vademecum dos árabes, a Medina agrimensura. Portador de sífilis congênita, oblíqua e retinaz. Prolixo in extremes, pérola rara do mediterrâneo insulto. Per omnia quid signus vinci. com La destra sinistra, brandindo o tacape no capô do topless. Less, but not the least. To be or not and qualquer coisa.
Não pare, não pare nunca! Há que aplacar a ira dos deuses. Eles estão famintos de palavras. Não pare, não fale, não diga porquê: a razão canhestra dos canhotos ignaros: última, sigilosa, furtiva lágrima, dos olhos rasos inférteis..., estereotipados.
Exímio farsante, de quem só tenho ouvido impropérios. Coisas de doido, de pouco siso:
-Disso, pouco, posso dizer, tenho escutado. Ouço dizer, dessas grandezas, como se escuta, desses louvores de poções homeopáticas, mas pouco proveito tiro dos resultados.
Modesto de ares, pouco afeito a grandiloqüência, aos gestos largos, desprendidos, um homem de poucos dotes intelectuais, mas de oratória persuasiva, eletrizava, mesmo não dizendo coisa com coisa, apenas a vós embargada pela comoção do momento, empolada, de agudos tonitroantes e de baixos graves, soturnos, comoventes. Argue-se que atrabiliario, insigne intrépido.
Bebeu água da bilha, o bisca, o degas. Documento não tinha. Falaram que falaram, num diantou de nada: o remédio que teve foi mandar pro hospício. Contar, contou, fizeram de tudo, encrenca da grossa. Ficou mudo num canto cismando. Tudo num passa de mamparra, um jeito de esgueirar, escapulir, de desconversar, igual gato. Roçando, garatujo. Ficaram ali de mandriagem em colondria de vadiagem. Dizendo graça sem graça, um querendo de pegar o outro, nos jogos de puia. Escuta a fala dos bichos, as conversas, o colóquio dos bois segredado. Isso é coisa dele, do seu feitio, esbodegado.
A supremacia da idéia , personagens antigos( os loucos), discutindo assuntos, idéias modernas. Encontram o Robô moderno no manicômio e principia a farsa.

De feia, os olhos remelentos, a boca crispada, semelhava que chorava. quando riam, um riso chupado pra dentro, de escadinha, grunhidos.Impróprio. Os olhos traiçoeiros, bisbilhotavam curiosos, mas não encaravam de vez, a gente: ficavam olhando pros lados, disfarçando fugidios.
-Quando estavam de boa veia, vá lá. Sorte. que quando aparecia de cara amarrada, os olhos vermelhos, riscados, podia esperar: sintoma: o frégi estava armado.
Eles era em três: Godofredo, Gratistonho e Jefe. Eles podia diferenciar em tudo, de menos na ruindade. Mal encarados e tiradores de ponta, gente hereje, suja. Quando via jeito deles por perto, podia ir disfarçando e caçando um modo de ir dando sumiço, que eles chegava e o frégi tava armado, virava em sururu e cu de boi.
Desses, quero distancia de léguas. Gente hereje, de má índole, tiradores de ponta, reclamistas. Nenhum num prestava. Nem me venha com seus modos que escorraço a dentadas. Homens sem papas na língua, de não se assustar com coisa alguma ou quase nada, de menos de sombração, gente de premências.
-Bebiam, ficavam impertenentes. Mexia com as moças de família, pegava mulher a força pra fazer semgrancesa ou fazer bobage. Numa coisa eles tinha honra: eles era unido. Brigava uns com os outros por causo de tutaméia, minguera atoa, mas na hora da precisão, estavam juntos que nem sábado e domingo. Brigavam de sopapos, de chute, de cabeçada, de puxar os cabelos, de pontapé. Fazia bobage com as irmão na maior falta de descompostura. De noite, não posso garantir nada: não tinham preceito, religião nem nada. Nem regra: prepotentes e egoístas. Desceram pra esclarecer uns particulares: tirar farinha. Aquilo nem num era uma família: as mulheres desgrenhadas, os gadanhos de cabelo, alvoroçados cheios de piolhos pipistrelo. Eles num era flor que se cheire: uns biscas, ínguas. Tomavam água da bilha, moringa suja. Os dentes quebrados uma crueldade, um fedor de boca, mau hálito, suja, uma baba escorria permanente, pros cantos sempre crispada, esbranquiçada, crispada, dalguma raiva recolhida.
-Lerdiasse, o melado estava escorrendo. Intempestiva, surpreendente como o raio, a cabeçada inesperada. Punha fim em qualquer discórdia.
-Num pegavam conta e ainda por cima ladeavam. Num podia dormir sossegado: lá Evinha pedir michimento. Só de mamparra, fazendo de vítima pra ganhar razão.
Viviam isolados nuns cantões, uns ermos. Nem trens de comer nem de dormir: umas enxergas. Dormiam misturado, na quizumba. De pratos só tinham cuias, velhos agates amassados, gente da serra, do bugiu. Nem vizinhos num raio de léguas. cultivar, nem pra remédio, um feijãozinho ralo: viviam mais era de trampolinagem, de expediente, de cobranças e de pedágio. Lá eles reinando na sua ruindade deles. A mãe, na ruindade , tinha amor: mãe é sempre mãe. Um amor doentio, dormia com o caçulo, fazia bobage com ele. Acontecia coisas do arco da velha.




O SUFRAGANTE , ESTOPORO

Foi a coisa mais estrangolada quando deram com aquela coisa, uma quizumba de mãe e filho, grudados, engastalhados um no outro, o Jucamancio mais cabo Anésio e o Tenente Miquilino, pra uma busca e apreensão dumas leitoas e dum gado roubado no sertãozinho.
Encontraram eles dois, de madrugadinha, a velha enroscado no filho, indecorosa, toda desgrenhada, gemendo de goso, debaixo do rapais. filho dela. A bunda branca do tal, o bufante pra cima remexendo, chacoalhando, babando de gosto. Fazia força e suspirava de gosto, animal selvagem, atolando aquela coisa dentro da mãe.
A mãe, velha, não querendo parar com a coisa. O Rapais enfiou com gosto, enterrou mais a peça, e gemendo fundo,semelhava um cachaço. Caiu prum lado deixando aparecer aquela coisa monstruosa, ainda meio zambe-zambe, querendo mais. Difícil apartar, que nem que trepada de cachorro, parecia que tinha um nó, a maior falta de sem-vergonhice deles dois. O dedão do pé ainda enterrado no colchão de palha. Os outros sabia da coisa mas num davam confiança. Eles estava era no quarto da irmã, fazendo bobage, um esperando o outro de findar o serviço. Ia na sopa, na maior falta de asseio.
O pai, esse morreu de desgosto, que era homem sério, não gostava de trampolinagem nem de falcatrua e mau procedimento.
Mas já tinha se dado de acontecer coisa pior, de pai ficar com a filha dele e fazer uma outra filha nela enxertando que vingou. Por derradeiro ficou com a neta e vingou um mostro estrangolado, um bicho esquisito da pele glabra, escura, uma gosma cobrindo, rachada ,os vincos carne viva, que nem terreno de argila, barro de vargem quando faz seca.
Graças bom Deus que não vingou definitivo, morreu do mal de sete dias, que se vingasse ia de ser a coisa mais feia desse mundo.

EXPRESSÕES DE MINEIRO QUANDO ESTA COM RAIVA

-Aonde já se viu uma coisa dessas? passa já pra casa. Vê se não torna noutra, faça me o favor. Tenha a santa paciência. Tem dó.
-Volta e meia ele vinha com a idéia de fazer sombração pros outros. Cadê a rompância. Agora finge de morto, o resto é prosa. Prosear amigo é jeito de passar o tempo, a vida: a gente vai levando com as graças de Deus, que nem tudo são flores. Pra quê tanta pressa rapais. Me larga, me deixa, vai pentear macaco.
- Vê se tem proposta! está mais é com o abacaxi fervendo. Quer me dizer que presta? e foi aonde que não deu certo.
-Cada coisa em seu lugar: cada um com sua mania. Jeito tem. Carece de ter paciência. Espera a hora e a tua vez.
- quê que foi que eu te fiz pra me dar uma resposta dessas.
-Quem que ia pensar. Quê que vão pensar. Quanto me dão pela prenda? quase que não vale nada. Quê que é isso, sô?
-Deixa de lero. Ara sô! isso são modos duma pessoa de fino trato. Precisava de responder desse jeito? tenha modos, menino. Agora você que r dizer que não sabia? Aonde que eu tava com a cabeça de falar uma coisa assim. tenha dó. Pelo amor de Deus.
-Com coisa que não sabia, ara!! sabia que ele vinha isso sabia. Vinha com coisa que não sabia de nada, fazendo de desinteressado e desentendido, jogando o verde: vamos parar de prosear?!
-Deixa de prosa rapais, isso não esta direito: me deixar nessa situação.
-Comeu o pão que o diabo amassou. Fez de tudo pra não perceberem disfarçou, descobriram.
-Birra à-toa de criança. Catava graveto e chaleirava o patrão. Diga que não!
-Espera pra ver no que vai dar. Vê se me esquece. Caçava jeito de esconder a feiúra da cara, mas o papo aparecia de improviso.
-Já que fez, leva: liga não. logo vem.
-Mais perto chegava menos avistava. Mais dia menos dia eles vão cobrar.
-Mostra, que eu quero ver. Me deixa em paz. Não me venha com essas prosas de mercador que eu não estou te merendando. Vigia só! Não te enxerga praga, flagelo! Já pensou? ô gente! Para com isso, te peço pelo amor de Deus. desse jeito vão pensar que estou com medo. Zápete Zápete. Zanga, zelou.
-Agora, eu já nem falo mais nada! não está aqui quem falou. Quem avisa amigo é. Estou no fundo do pito, quase que com um pé na cova: como que vou trabalhar pra valer!

PARLAROSPIROSE

O Chedasvinto, ele era um homem prosa : todo mundo gostava dele pelo seu jeito placiano de prosear. Ele não era ruim nem nada, mas um defeito ele tinha: era lerdo de tudo.
—O Chedasvinto?!...êta caboclo bom, o povo falam, mas difícil para pagar conta. Não é que ele faça de caso pensado, para levar vantagem, mas tem vez que ele esquece até as conta que era credor. Dizem que foi atingido de raio em criança, por isso que as vezes fugia a idéia dos pensamentos da cabeça.
Gostava era de arrear o burrinho e fazer visitas demoradas, assuntando pequenos negócios, mas no decorrer do tempo acabava perdendo o fio da meada: um causo difícil de lidar, quando o povo perdiam a paciência com ele.
Lá ia estrada fora, o burrinho de tão mestre que ia abrindo as porteiras em rumo incerto, o objetivo nenhum: ia pra onde o vento leva, os pensamentos avoando longe. Chegar, chegava, não se sabe onde. Portava uma folhinha surradas, se perdia em datas e retratos de santos. Decerto de lá foi a mãe tirou o nome estrangolado que chamava ele: custoso de acreditar mas, as famílias muito grandes, vocês faça uma idéia: assim era o costume.
Duma vez, ele estava na casa do compadre dele, o tempo passando, se fazia tarde e nada do Chedasvinto tomar a iniciativa de se ir s' ímbora. E não é que lá pelas tantas, depois de já ter jantado fazia tempo, pensou, ele mesmo,de advertir o compadre:
—Não é por nada não compadre, mas não acha que vai chover?
O tempo azangado de tudo, os trovões e coriscos fazendo prever tribuzana das brabas.
—Óia compadre, se quiser pode bater pouso, faço questã, mas se tem compromisso, melhor ir se apressando que já está chuviscando, a distancia não é perto, emendou o Chedasvinto.
—Quem tem de apressar é você compadre, pois saiba que você é que está na minha casa: eu estou belo e folgado, daqui a pouco estou roncando, que preciso levantar cedo para tirar o leite. agora você,... se quiser que apresse se não quiser pegar constipação: um defluxo nessa tua idade não é brinquedo, você bem está ao par.
—Uai compadre! e não é que é mesmo, o burrinho arreado, cansado de esperar, coitado, fino de fome e sede na fiúza do Chedasvinto. Despediu e foi. No caminho foi que alembrou de mijar: bem que podia fazer o serviço lá no compadre mesmo, como sempre até disso esquecia. Foi aí que pensou: ara! bobagem, sô: vai chover mesmo, que precisão eu tenho de apear só para urinar, deixa molhar que a chuva lava. E num é que a chuva num veio: que papelão!
Distraído de tudo foi que começou a perceber que o burrinho encurtava, estava quase pegando as orelhas do animal. Parou para apertar os zarreios, mas aí já estava dentro do corguinho, o burro fazendo bochecho e batendo a pata dianteira, brincando com a água.
Molhou até as virilhas, apertou o burro e montou. Mas aí, já estava virado pro lado da casa do compadre.
—Que jeito esse compadre? esqueceu o chapéu? molhado desse jeito o melhor é levar a minha capa ideal. Mas vê se presta mais atenção: já dava pra você ter chegado em casa, está perdendo o juízo da idéia?
Chegar, chegou: mas aí já eram altas da madrugada, a mulher com pensão do paradeiro do Chedasvinto. Dormiu de roupa mesmo que já estava na hora de tirar o leite das vacas.

UM CAUSO CONSTRANGEDOR

Não demora uma semana e o Chedasvinto está de volta na casa do compadre Chico Berto, dessa vez evinha mais cedo mais em apoio do serviço de por a égua dele para cobertura do jumento do Chico Berto. Esse era o oficio mesmo do Chico, seu meio de vida, visto que tinha um jumento pachola, vindo lá das banda de Passatempo, um legítimo Pêga, produtor de bestas da melhor qualidade, o povo pondo muito cabedal no animal do Chico Berto.
Na cancela foi que teve um pressentimento que quase fez ele virar nos cascos:
—E se o compadre num não tivesse em casa, com que cara ele havia de dizer para a comadre da finalidade da visita? a égua mostrando claramente os sinais do vicio, bandeira do rabo alto nas costas. Ele muito respeitador ia ficar com a maior vergonha da comadre.
Num demora a comadre aparece na masca dando pelo quadro do compadre puxando a égua pelo cabresto, ele na maior falta de semgracesa saudava respeitoso, a mão no chapéu, os olhos no chão.
—Que pena que o Chico não teje em casa, compadre, mas apeie que num demora ele chega, deve de estar por perto caçando um garrote alongado pelas vargens, provável que atolado uma hora dessas: Vamos entrando que o café ainda está quente.
—Deixa comadre, não tem precisão nenhuma nada: fica pr'outro dia, com mais vagar eu volto, o compadre pode que teje em casa.
—Ara compadre! isso são modos de ver os amigos: até parece que não é de casa! está me parecendo que o compadre está com acanho de dizer pra que veio. Mas eu estou vendo tudo: é a égua? veio pra por com o jumento?
—É..., mas num tem precisão de ser hoje, comadre. Outro dia...
—Ara compadre! ta parecendo criança: outro dia a égua já perdeu o vicio. Vamos lá no estaleiro, o jumento está La no cocho, até já percebeu a égua viciada, não está vendo a falta de semgracesa dele, rinchando daquele jeito? vamos lá que eu ajuda, num carece de ter acanho. E foram.
O estaleiro era um escavado no chão, um rego pra compensar a natural diferença de nível dos animais, a égua geralmente muito mais alta que o jumento. Tinha tambem um passador de madeira para manter a égua presa e facilitar com uma forquilha a colocação da peça no rumo e nível correto: era um serviço muito constrangedor pro compadre mas corriqueiro para a mulher e as filhas do Chico Berto, encarregadas do serviço, quando o Chico não estava. O estaleiro era ademais necessário porque a égua deixava o jumento cobrir mas não gostava muito, dadas as proporções da peça e a judiação que o jumento aprontava, mordendo no cangote da égua. Mas, dadas as circunstancias do momento, o serviço tinha de ser feito de qualquer modo, o preço ajustado de quinze mil réis no caso da égua pegar cria, não podia perder cobertura de jeito nenhum.
E vá que vá, ajeita daqui, acode Dalí, o compadre, entusiasmado, principiou de ficar com palpite, o compadre já perdendo a compostura e se aproveitando da ausência do compadre. A comadre, vendo crescer aquele volume custoso de um esconder, perguntou sorrateira:
—Uai compadre! o senhor parece que está querendo!...
—Depende da senhora, comadre...
—De mim não compadre: a égua é sua, o senhor que sabe!

O CASÓRIO

E foi então que se deu, já meio maduro, o casamento do Chedasvinto. Tinha de assentar o juízo da idéia, o Chedasvinto meio chegado numa cachacinha, vivia só de pagodeira e narquiada: um dia ele tinha que tomar juízo e assentar a cabeça, o compadre sempre aconselhando.
Chegado o dia do casório, o chedasvinto encheu uma garrafinha de pinga e deixou debaixo da cama do casal, causo tivesse precisão de coragem na hora do vamos ver.
Nem bem terminada a cerimônia, o casal dos dois já foram pra casa do sogro, como era costume naquele tempo. Claro que foram dormir cedo, a sogra vigilante ficando de espreita, os ouvidos colados na porta do quarto do casal deles dois. Antes mesmo de tirar a roupa de festa, aquela coisa custosa de desvestir o vestido de noiva, o Chedasvinto, pra ganhar confiança, aproveitou do momento e levou a mão por baixo cama a procura da garrafa de pinga. Vendo que estava pela metade, bradou furioso:
—Uai gente! Mexeram aqui! como que pode?
—Calma Chedasvinto!... Nenhum ninguém não mexeu nada não: nóis é que semos raça de gente larga mesmo, não preocupa não.