sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

IMAGENS

IMAGENS
Ali, aonde a volta grande do rio, em redemunhos dagua cheio de galhadas, sumidouros largos de volumes de espumas flutuantes, um homem sentado num tronco, mata mutucas no braço. As garças elegantes, alvíssimas e seus piolhos. Some o rio pra dentro da terra, depois de rio do Peixe vai repontar lá longe em novo e caudaloso rio, aparecendo de improviso, enorme, já com nome novo de Rio Cabo Verde. A lapa e furna, a loca de pedra repleta de morcegos, cegos de visão sonar ........., e lacraias gigantes, mil pernas ondulantes. O outro, ele ficou sozinho, ali em casa recolhido feito galo sura, tomador de conta de pintinhos não seus, que nem galo capão.
-Uma loca de pedra, um lagedo, tal como uma mesa, embaixo, um salão, onde moram cobras imemoriais, velhas, antigas de muitos couros trocados e de guisos, de muitos anéis, incontaveis, morrendo de velhas, ja sem o veneno morítifero, pestilento, desdentadas, quase banguelas, sua autoridade muito contestada, sómente a figura deslizante traiçoeira, faz lembrar um certo receio. A lingua de tridente ja não tem mais a rapidez, sai vagarosa para refrescar como um relanpago demorado, cansado.
Nesta lapa, outrora morada de onça pintada, sussuarana e suas crias, agora povoada de escorpiões, lacraias, papaventos e centopéias gigantes, piolhos de cobra, familias de mamangavas feroses às dezenas, alvoroçantes. Tambem os bichos noturnos de olhos perscrutadores, os lacraus, largatixas requebrantes, agarradas ao teto, vasculhando lacraias menores, tatuzinhos e bicho de pau podre, carangueijos e escaravelhos ancestrais, bezouros virabostas e goderi, imemoriais. Tatuzinhos enrolados transformistas, minhocões debaixo de pedras, centopéias gigantes de mil pernas ondulantes. Baratas furtacores, louva-deuses rezadores, gafanhotos secos e verdes, transparentes, camaleões camuflados, de cores indefinidas, bichos sagazes degradados de mil cores, os morcegos atletas, ruidosos pendurados aos blocos, uns sobre os outros numa gosma gelatinosa semovente, lambuzados, sedosos como planadores os olhos ausentes, radares sensitivos, ultrassonicos. Vigias da noite, companheiros de corujas cheias de critérios atenciosas, circunspectas e curiangos de olhos enormes de sol. Minhocões e enguias gigantes, cobras dagua e de duas cabeças, mordedores de cobra escuros de bundas elétricas nervosas, lavandeiras e libélulas, arapuás imensos, cupins de luzes e termitas.
O rio alí, em antes do redemunho, sumindo pra dentro da terra, indo renascer mais adiante, descontínuo, agora com o outro nome de rio Cabo Verde, caudaloso por juntar mais agua subterranea.
É o lugar onde negros Cabo Verde, fujões, se alongavam por quilombos inatingíveis. Alí, os cágados de cabeça torta, junto com os sanguessugas e as enguias, rãs e batráquios, o Sapo-Pemba, a rã soldado, a pimenta e o sapo Gamela.
-Ah! como é bom quando o acaso nos favorece. Lá fora a imagem do deserto pantanal escaldante,cheio de arvores de lenhos retorcidos, sofredoras. Uma lembrança de catingueiras e araçás, gragatás, unha de gato: faxinal, senguê. De bichos: serpentes, escorpiões e lacraus.
"Uma imageem de catingueiras, caatingas, cactus e cascavéis."
-Como seria bom a gente estar naquele inferno, fogueira .
Aqui, as visagens de monstros subaquaticos, de cobras gigantes, de mil cabeças, hidras, sucurís e jibóias. Bichos de mil tentáculos, esponjosos, repugnantes e vorazes. Nas profundezas, os pacus, piraibas, pirararas, pirarucus gigantes, feroses piranhas e suas mandíbulas, prognatas, caçoistas, desdenhantes. Ali, as lontras, brilhantes deslizando suave, como submarinos. Ariranhas irreverentes, passeando olhares travessos de criança, zombeteiros, os seus bigodes engraçados, pombeando e zombando de nossa gastura, aflição.
-Ah! como o panico e o desespero nos abate e nos destroe, diante do misterioso vazio das profundesas, cheias de mil significados.
Na beira, o vulto majestoso: ei-lo que surge, ameaçador, retumbante, de braços abertos, qual minotauro. No meio da cara medonha, na testa, semelhava que havia um olho só.
-Ou não havia!... só a imaginação projetada pelo medo: era o Bugiu, de aparencia intimidadora, mas insignificante na sua simplidade.
-Ele tambem carece de mostrar grandeza, causo que tem tambem seus inimigos ocultos, seus predadores. Os passarinhos sempre atentos pra não servir de alimento pros gatos do mato.
Enche a barriga de ar para aumentar de grosso e de imagem: pura empáfia. Assopra, feito um redemunho.
-Socega compadre: não afadiga não! Ricoa,... Ricoa: num apavora não. Sulera, sulera as remadas.
Aquelas lesmas e caracóis pegajosos, rãs esverdeadas, cobras de duas cabeças e minhocões.
As garças branquicelas e pernaltas, vasculam vizinhanças. Tuiuius, bigodes e biguás. Biguatingas. Os jacus, jacutingas. Araras e papagaios falantes, sua prosa incompreensivel: gritalhada, excitadíssimos. Almas de gato e tezouras, cortando fios intangiveis no ar. Os casais de fogo-Apagou, em pares de namorados, arrulhando amores e beijos. Sabiás tristonhos. O martelo ininterrupto e inflexivel da araponga, rebatendo pregos inexistentes.Os Nhambus do chitão e do chororó.
-La fora o belo mundo dos bichos, e nós aqui nesse abandono. A orquestra de sapos e rãs, regendo:
Eu chamo,: ...sô!
Se vai?:...vô!.
Tião,...Tião,...
Mané?!:...Quê
Ta bom?:...Tá!
Aqui nos brejos, a saparia coaxando uma prosa interminavel. O Sapo Gamela, regendo a orquestra desafinada, questiona:
Mané?:...
-Eu!
Ocê vai?:...
-Vô!
O Sapo soldado, coroinha respondendo missa:
Tião?
-oi!
Taí?:...
-Tô!
Louva-deuses fingidos, orando de mãos postas, os malandros e sua armadura antiquada, aranhas calculistas, devoradoras de incautos.
Termitas luminosos, um firmamento na noite de breu. Arapuás imensos e sua prole de operarias. Coatís, bisbilhotando: metendo o naris onde não é da conta. Grisalhos gambás, ouriços espinhados, distraídos. Tatus vasculhando o chão, prehistóricos no aspecto. Caracarás, pinhés e urubus voando em circulo, na espreita de alguma carniça.
-Carecem cantar seus males, que na solidão da noite escura da floresta, todos tem medo. Curiangos e coruja de olhares criteriosos, perscrutadores.
-Ninguem é o que parece ser, exatamente. Você é a minha única patria.
Risco no chão, carreiro de formigas cabo verde, cabeçudas, brilhosas, metálicas, cúpricas, azinabradas. As içás e tanajuras. Correição e enxames: a festa nupcial: terra e bichos no cio.
Colonias de termitas autosuficientes em luz e eletricidade: uns humildes carneirinhos, engenheiros construtores de edificios enormes de terra sobrantes de escavações demoradas. Mansinhos, entretanto, aos milhões, continuamente aparecendo: aleluias, siriris.
Escaravelhos, velhos de guerra e bezouros godê, vira-bostas. bruxas e mariposas dando volta em volta da lampida. Novelos de mamangavas ameaçadoras. Piolhos de cobra e centopéias flutuando automáticas, sobre pés incontaveis. Taturanas cachorras e bezerras e mandrovás.
Libélulas e lavadeiras deslizantes, esquiadoras capilares. Muriçocas e borrachudos: carapanãs, aedis-egiptis. Mutucas. Uma orquestra afinadíssima de musicos voadores, de mil tons agudos chorosos, vem a noite sugar e plantar a febre terçã, malárica: a sezão.
-Que jeito esse, sô? isso são modos de falar com uma autoridade?
Que jeito que eu sou?
-Sou homem sem seca, que não faz pouco causo de ninguem nada não.
-Não gosto dessa gente de cidade, da prosa figurada, cheia de esses e erres, plural, de muito rique foque, com uns chiado esquisito, que nem gente da Capital, com gentilezas e mesuras fora de base, fingidas: os tapinhas nas costas da gente só pra agradar quando querem alguma coisa, que tira a mão de repente quando diz adeus.
-Gostos de gentilezas fidalgas, de gente placiana, da fala grossa e pacienciosa, que não te pede nada, tem vergonha na cara.
-Não gosto de gente da prosa fina, desculposa, rodiando a gente feito gato. Num gosto de muito agrado não, que a esmola quando é demais o santo disconfia. Pode saber que lá vem coisa, uma embromação qualquer.
-Gosto de gente de muita simplidade, acanhada , moderada nos jestos, mas gente dada, o cumprimento leve, sem disageiro, o riso pouco, dando as pontas dos dedos, demorando e segurando com as duas mãos. Gente que anda de braços dados, que agrada da presença e pergunta pela saude. Compadres e padrinhos que tomam os afilhados no colo e ficam ali, querendo saber como que vão indo, brincando e gostando: responsados que são.
Gente que quando visita, gasta dias , fica de pouso uns par de dias na casa da gente. Que socorre a gente na hora do aperto e da precisão. Gente que não faz questã de tutaméia, que num é ridica, nem mão aberta, segura, miserave até. controlada que tem um dinheirinho e não cobra juros. Que manda lembrança, que dá adeus quando a gente passa e tira o chapéu. que manda recado que lembra os parentes, que ensina receita de quitanda e receita remedio e muda de folhagem.
Sou homem de pouca prosa, mais escuto que falo: só o de precisão.
-Gosto das festas de santos Reis e de folia:faço até birra pra mode um pagode, mas festa de respeito, não festa pagã e profana de patacoada. Gosto é de folia sã, de festa e narquiada, de dança de catira e pagodeira. Gosto de festa de São Pedro, Santo Antonio e são João.
-Coisa que não gosto é de soldado e de fiscal do governo: arrenego imposto.
-Gosto de reza e fico até trespassado quando escuto moda de viola.
-Gosto dum doce de cidra bem fresquinho com queijo de Minas e aletria. Gosto duma frissura e costela de porco com cangiquinha, de carne costurada e guardada na gordura.
-Gostar eu gosto mesmo é dum prato de feijão com labios de porco e oreia, suam e canjica, dum quiabo e giló, pro descanso das tripas. Gosto de passar por uma madorna na marqueza, na volta do dia. Gosto dum leite bebido, com farinha ou angu, não ponho questã, depois de lavar os pés em antes de dormir.
-Rezar eu sei e gosto: só embaralho as veses no esparramar a reza pela cara.Gosto de agua benta de padre e de ladainha, dum padre nosso e salve rainha, dum ato de contrição. Gosto de ver coroinha ajudando missa: dum dominus vobisco, da benção e de final de missa, quando fala: "Ita missa est", e a gente já pode alevantar e sair pra fora da igreja que não ha tatu que aguente. Tenho respeito por uma ladainha e via Sacra, dum crem Deus Padre e dum batizado e de coroação. De missão de padre de fora então: e o tanto que eu gosto? fico leve que nem passarinho, depois duma confissão bem feita, os pecados ficados pra lá com o padre. Depois da comunhão fica parecendo que sou santo, a alma lavada de todas as cachorradas que faço na vida. Gosto de carregar andor em procissão, faço quetã de ser o primeiro. Coisa que num gosto é de lavar defunto: da mal impressão, quando as pernas endurece, nem trocar defunto, mas faço se tiver precisão, que a gente não faz só que gosta. De carregar eu gosto e faço questão de consolar os parente, ainda que seje um negocio espinhoso.
-Gosto de pamonha, milho verde e curau. Gosto de batata quente, mas de noite é que são elas, quentão com muito gengibre. Ô trem arcado de bom!
Não gosto de dormir tarde, durmo e acordo com as galinhas, nem gosto de ficar até altas horas pras ruas em porta de venda, nos botequins que é lugar de gente a-toa.
-gosto mesmo é de eleição, faço birra pra entrar numa política.
-Comigo é assim:
-Quam tem dó de angu, não cria cachorro.
-Não pode falar em corda em casa de enforcado.
-Faz com os dentes, pra comer com as gengivas.
-Deus tira os dentes e aumenta a guela.
-Ou bem vai os dentes, ou vai o queixo: vão os dedos, ficam os anéis.
Pra mim, coisa que não assenta em homem de respeito é bigode e costeleta: fica parecendo porco espinho. Já dum cavanhaque eu gosto: impõe respeito. Não gosto de homem com cabelo repartido no meio: coisa de almofadinha, pó de arrôs. Nem confio em mulher do mijador alto, nem de bunda baixa e bunda de elefante. Mulher pra mim tem de ter o cabelo comprido até na cintura, com lacinho de fita, brico e colar de madrepérola, sapto de salto alto ou anabela. Chinelinho de pelucia, de gatinho, só hora de dormir. Num atolero mulher de penhoar na rua,: da mal impressão, de sujeira. Homem tem de usar chapéu, para impor respeito: tem de ter compostura.
-Nem bunda de marimbondo.
-Nem boca de chupar ovo.
-Nem testa de amolar machado.
-Nem de espelho de tripa, nem de zanga sabão.
-Nem pança de angu, largato escadeirado.
-Nem de papo, nem cabelo de milho.
-Orelhas de abanar vento.
-Nem peito de pomba.
-Mando logo pentear macaco.
-Mando lamber sabão.
-Não gosto de gente dos zóio limpo que tem cara pra tudo, tem jeito.
-Nem de gente faladeira, de prosa afiada, mamparrenta, que esconde o leite.
-Nem de gente que desdenha porque quer comprar.
-De gente falsa e tinhosa, de maus bofes e duas caras.
-Gosto de gente que num desponta nem come nada amanhecido.
Quando chega a hora, nem fica com rodeios, nem mesuras em demasia. Põe logo as cartas na mesa, vai dizendo o que pensa, de gente sincera, doa a quem doer. Não gosto de quem faz cavalhada de dismanchar negocio feito. De quem molha a porva e mija na isca.
No fundo mesmo, eu sou homem de pouca prosa, quase não tenho amigos, senão que os retirantes desses ermos de estrada batida e grotões.
-Num gosto de leva e traz, dis que diz dessa gentinha de beira de corgo.
-Gosto duma gente que não faz pouco causo de nenhum ninguem nada não, que não tem destempero nem é afadigado, gente da roça e gente de muita simplidade e de muita religião. Mas gosto dum carmo de tarde, dum causo de assombração.
-Gosto de quem levanta cedo e pega no eito, no cabo do guatambu, gente segura, que não põe nada fora.
-Fica aí com dengo, pois mando logo ir amolar o boi.
-Fica aí cantando de galo, nem gosto de falar mal da vida alheia, nem de pro reparo nos outros, nem na má tenção. Nem dianta vim com proposta, tecendo loas, engambelando, passando lábia. A gente faz logo ouvidos de mercador ao ouvir conversa de lé, cantiga pra boi dormir,de historias da carochina de tirar a sorte grande e virar num milionario.

Os cabelos de milho, barba rala de espigas, branquelo e pombo, vitreo, glabro, claro como os clarinha falados, os dama, os butas, gente dos beijo, gente dos messias, dos inacios, dos damasios, dos palmas,dos novatos, dos panca, das mulher mimosa, arredio e disacursuado da vida: gente com amarelão, opilada, sifilítica doente dos pulmão, com lombrigas, bichas.
-Cachorro mordido de cobra, tem medo de linguiça.
-Gosto é de cachorro americano, chorões.
-Azul de metileno.
-Dedal e cós.
-Chapéu de catar ovo.
-mão de vaca.
Uns inclina nos olhos, outros nas remelas.
-Raís de sapé, mel de jataí.
-Aí, ja foi burro e tocador.
-Um sujeito de manias:sistematico.
-Não gosto de prosa fiada nem conversa de comadres.
-Um estafeta qualquer, esbirro de política.
-As mariposas quando chega o frio, ficam dando volta em volta da lâmpida pra descansar.

-É verdade que na hora de morrer o defunto põe um toco?
-Se põe não sei, melhor a senhora esperar um defunto morrer e ficar alí vendo.

Um, que morreu suicidado, a policia foi tomar providencia de rehaver o caldaver. O praça e o cabo do destacamento, se agarraram no corpo do enforcado, roxinho de tudo: Quando bambeou a corda, o defunto deu um peido, catingudo demais, e saiu um caldo preto do bufante do defunto: ele exonerou o toba e mijou e deu um urro, especie de arroto ou suspiro, do alivio da corda do pescoço. Desceram rolado abraçados com o morto ladeira abaixo.
Quando foram acudir pra lavar e trocar o caudavel duma véia, chegou na hora de vestir a veia deu um peido e exonerou o toba, uma catinga danada, foi aquela correria.