sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FORTALEZA

Ali, aonde que em chegando, o mataburro de pedra com as quatro madres de pereira, as palmeiras em fila indiana tal que soldados em ordem unida, semelhava que pessoas rezando, em procissÆo de povo, carregando andores em rumo de igrejas, interminaveis. A entrada em chegando la se deparava com as estatuas de pedra rodiando em concavo, fazendo comodo pra entrada da alameda de palmeiras imperiais, antiquissimas, coisa de gente de cidade: gosto e rique foque do coronel Alvaristo da Costa Vieira que iam dar na fazenda majestosa fortaleza do Porto. NO FRONTISPICIO da entrada os dizeres: fazenda do Porto.
ÙTou ficando velho, tou ficando fraco: tou encolhendo as pernas, tou espichandoo saco.
-Pois ali, aonde que uma volta de rio, um remanso, as folhas em circulos, revirando que nem redemunho pro centro dum sumidouro, j ‚ terras da gente, regularzinho.
Um odio evinha, enxofre azul, de azul ferreti, dificultoso de gastar um instante. Um tremor de galhos, semelhando que quando passarinho levanta voo. Membrudo, possan‡o e franchÆo, brutamontes de ossos, os bra‡os alongados, mas de gestos delicados em excesso pra quela fortaleza. Um sesso de pegar os bra‡os de alguem, com mÆos enormes, quando explicando algo, bem no lugar do choque do cotovelo: isso era dele, maneira de for‡ar a aten‡Æo pruma preposta de negocio. Falava fino nessas horas, fingindo fraqueza. Mas era ladino e astucioso. No afÆ de um bom negocio, as veses trapaciava, coisa pouca: mingueras. Uma fraqueza proganho e o orgulho de nunca levar manta. Mas as veses levava, de outro mais esperto. Por isso que fazia mamparra, oportunista, sacrificava os outros nas coincidencias de servi‡os. Mas as veses um pouco d£vido de uma ignorancia calculada, escasso de conhecimento, pra provocar de prop¢sito a supremacia do outro.

-Vai bem, deixa tua boca na minha boca... me ama me esconde me viva me cria...
De novo, o farfalhar mudo das borboletas, um vago perfume de carapi de campo, amon¡aco, alvo, azul de brancura, ramo seco e flor ficada, o tremor de um galho que passarinho deixa. O mist‚rio do voo impossivel da Alma de Gato. Quase na agua o ramo de grÆo de galo, maria preta e ang . O Barro quente, aderente das rodas do carro, que cheira a gosto de moringa e de bilha nova, amarelo cobreado de assafrÆo. Aqueles dal¡, sempre moles e escornados pros cantos, todos num desvalor de si, de suas presen‡as desimportantes. Gente sem esfor‡o de tempo, desacor‡oados de tudo no mundo, sem ambi‡Æo forte nenhuma pra nada neste mundo, gente como sem sangue, sem sustancia nenhuma. Tudo que acontecesse ou nÆo em roda, boiavam afora uma distancinha, um quererzinho de nada fazer e voltavam pra se ajuntar de novo, como cisco em cima dagua. E parecia que , se nÆo fossem assim, como que chamando tudo de ruim, se eles nÆo se espalhassem no ar aquela resigna‡Æo de aceitar tudo, aquela bambeza sem nervo. Como se ocupar a cabe‡a duma vez com tantas diversidades?
-Vocˆ me conhece?
-NÆo me lembro. Qual ‚ mesmo a sua gra‡a?
-Este ‚ o Dorneles..., num est reconhecendo?
-Ah! parente do Getulio, sei: eu lembro bem daquele tempo.
Ali, nÆo se usava declarar estas condi‡äes.
VIDA
Ah vida dura, vida amarga margarida!
A dura vida de quem vive ao l‚o, de d‚u em d‚u.
Vida mofina de mofar sozinho num canto triste
Vida que a gente leva ‚ aquilo que a gente leva da vida
Vida alheia
vida cheia
vida louca
vida pouca
vida toda
vida a-toa
vida boba
vida porca
vida torta
vida morta.
De Beto Ornelas
em 09/04/77

Sem rumo
No vai vem,
tudo acabava em sonho
sonhos frustrados
um navegar sem destino de desejos descontrolados.
ora de um lado por outro lado
indo retrocedendo como em onda a balan‡ar.
mas abra‡ar o quˆ?
sem barco, o vento soprava forte:
vento vela leva me daqui.
Seria o sonho?
onde as velas estavam?
em onde estava o barco?
S¢ podia o barco sem rumo.
De Beto Ornelas
Em 20/01/82
uma especie de exalta‡Æo, esquecimento, sem