terça-feira, 26 de junho de 2018

Aves inquietas.


São os eternos esperançosos que dão força e valor a vida: os demais tem uma cortina espessa de tristeza cobrindo os olhos e o coração. É preciso de qualquer jeito acreditar nalguma coisa ainda que racionalmente impossivel. Só a certeza do inevitavel da morte certa, nos torna capazes de viver. revela preguiça ou incapacidade , viver a vida real. A veneração pelo incorruptível, criação infantil inaccessível, do distante. Revela o desejo incontido de que outros realizem seu desejo. Estão na maior parte pedindo a Deus que alguem tome decisão por eles. Na verdade é como projetar um sistema do tamnho da nossa preguiça. Por tomar decisãoes e enfrentar as dificuldades do real, um medo de serem responsaveis por seus riscos de serem responsaveis por sua liberdade. Que saibam não tratar-se de denuncia, senão que o enunciado duma proposição matematica, quase contabil. Que a doideira da menina, sendo mais a fome do que a falta do que comer, uma é que :do jeito que os grande passa, os pequenos tamem passa, nenhuma janelinha está aberta pra alguem na hora da correria. Os jovens: eles vem eles vão, como os passaros, são aves de arribação. Em debandada trovejam ao menor buliço, arremetem; não de medo, senão que de inquietação. Pousam em qualquer lugar, aos bandos: vão chegando aos pares, singulares,de repente multidão em alvoroço, o caos estrepitoso. Se aninham. Ali ficam arrulhando buliçosos, batem azaz afugentam tristezas, brincam. Calmos, sem nenhuma ordem, formam novos pousos inesperados; ficam, depois vão como vieram, do nada, sem aviso prévio. Arremetem. A alegria intensa. Quase sem necessidade. Que pensam? quase não pensam.

O Gordurinha


A pessoinha dele a-toa, sem prestimo nenhum. Cara chupada a barba rala que nem que cabelo de milho. A cor rósea, glabra, clara, transparente, o nariz quase sangrando, que é puro ranho, sempre chupando eterno resfriado, a tosse sem fim, seca de catarro. engole não engole. Magro fino esquelético, todos dum jeito só, esqualidos, a mesma figura de valete solitario, o cabelo sem cor, escorrido, magro da cabeça aos pés, branco, pouca barba, pouca sombrancelha, sem pestana, o vermelho rodiando os olhos furta-cor. Boqueiras permanentes, nariz escorrendo o nó saliente de Adão. Pescoço comprido muito fino: a mesma figura repetida sempre. Sem peito, sem carnes, sem bunda. O pé grande de tonto, vorteado, demais, dedão separado calçado de espora dum pé só. Fuinha, calça amarrada de embira meio caindo mostrando o rego da bunda, imberbe, sem bigode, uma preguiça de dar dó. Uma dor constante que principia no encontro e responde na cacunda, a maior parte deles teve de levar no curador pra tirar vento virado e curar quebrante. Você não acha que tem dia que parece que o diabo anda solto, como que no meio do redemunho. Ele andava com o diabo no corpo que nem lobisomem em noite de sesta santa de lua cheia, quase a pino, um ar de magia excessivamente clara, o tempo limpo sem atmosfera. entoou uma cantiga sem nexo, um homem especula e abelhudo. Deu o quinau nele: pança de angu. largato escadeirado, sai bunda de marimbondo! Uma chuva fina, vasqueira, ridica de tudo: chuva temporona.

Comparações IMPOSSÍVEIS


Com simbolos: a cruz, palavras e regras. Com instituições: liberdade, governo. Tem que resolver um problema de tempo: uma segunda passagem do Halley, na cauda de um cometa é que ele vai. Entra num buraco negro, explode apartecendo em outro lugar. Coleciona tudo que é velho louco imprestavel, gente recem morta, para ressuscitar. Gente desenganada com cancer, leucemia, aids, lepra e fogo selvagem. Até cura de doença nova das florestas, invisível e da fraqueza. Tudo para servir de matris ou receptáculo de sua nova raça dele que vai voltar com ele na segunda passagem do cometa.

pensando as feridas


Tudo que toca sara o incômodo. Ele cura: de perto, pondo a mão; de longe: pensando as feridas. Adivinha pensamento e o que vai acontecer. Prevê calamidades. Sonha, seu sonha vira em realidade. Vira num culto de poder, as pesoas num querendo de deixar sua presença. Mas o pensamento avoa longe, as vistas no cèu distante, num lugar definido. Descobre riquezas e pedras de rubí, pedra dágua aonde que tem escondido visões de grande beleza, ouro enterrado, pelo sentimento e pelo faro, navios naufragados. Entra dentro dagua e respira pela pele: não molha. Fica horas dentro dagua sem respirar, até dorme dentro, volta com achados. Se quer, dorme um mês sem parar, mas nunca que fica cansado e quase não tem fome: come cascas de arvores e chupa resinas de pau. Dentro dagua, a outros parece morto, mas o corpo quente quando sai, os insetos não pousam nele. Se pousam, alvoroçam e saem desesperados feito loucos, em voo cego sem destino: ficam pegajosos. Organiza planos de volta, leva velhos loucos imprestaveis, condenados de cadeia e de doenças incuraveis. Assim como veio, vai, em nuvens douradas, brisas calmas, o povo ficam tristes da perda. Sai em carruagens de papai Noel, naves silenciosas. Faz chover no nordeste.

O Anticristo


Um homenzinho meio magruço, cheio de dignidades. Muita simplidade no ar e nos trajes. No jeito de caminhar, um balangado esquisito, a cabeça agacha, muito grande, desproporcional pro corpo franzino, o corpo penso prum lado. Envergonhado de tímido em excesso os braços cruzados atraz das costas numa postura impossível de imaginar. Muito sorriso, poucos dentes. Um sesso de cambetear prum lado, um vicio de personalidade. A historia dum moço muito branco, branquíssimo, loiro, quase albino, os olhos de vidro, como de bonecas. Nele, tudo se renova, instantaneamente, nada fica velho: os dentes, unhas, cabelo, a pele glabra, nada que fica mais velho, imprestavel. Fala pouca de opiniões precisas, susurra, um fino de vós de falsete, nem masculino nem de mulher, branda. Vindo de outro lugar, a raça sua dele se acabando. Precisa deixar descendencia, ou levar algum alguem com ele para experiencias, velhos que seje, ele os renova e nunca que deixa morrer. O tempo não passa, dura enormidade. Tem uma fosforecencia um brilho, só luz. O povo principiam de adorá-lo de manso que é: moças, velhos, até homens não tem vergonha de ter um bem querer.

A festa do Zeca Zico


Vez em quando tinha briga feia, mas nessa não, que o Bié Romão tinha autoridade, impunha o respeito necesario. Eveio chegando gente de todo lado. foi chegando cavaleiro, gente de a pé e carro de boi. Aparecidos nas grotas e boqueirões. A fazenda do Bié Romão na beira do Rio Pardo. Aonde que tinha um sumidouro, uma loca de pedra, um redemunho, a agua entrando na pedra pro chão fora, indo apontar muito embaixo como que partindo o rio em dois pedaços, depois a cachoeira.Depois de tirados os afogados só ficou o arvado deles, comidos pelas piranhas, pelas lontras e pelos urubus de carniça, treis dias depois. Um deles esmigalhado nas pedras de tanto girar no redemunho, num sabendo qual o quem, desreconhecido. O povo ficaram com os olhos orvalhados de tanto chorar a morte dos tres uns. A festa virou em tristeza. Só. Era mes de abril, o céu azul de muito vento, mas azul de abril, um ceu azul de sanhaços.

o santo homem que morreu duas veses


Eveio negociar no Cachapava, dando parte de quebrado, num se sabe se pra divertir com as pinduquinhas ou se reunir com os seus parentes dele muito antigos, sua madrinhaou mãe de criação, ou cumprir promessa de espiação na igrejinha do Naninha Bueno, o santo homem que morreu duas veses. Criado com manada de ciganos, aprendeu a arte de negociar com criação e animal, sua manhas e tretas, pra passar manta nos incautos e beócios. Saiu corrido de lá, causo de cavalhadas de negócio de esconde defeito de animal de peito aberto, estirador e animal velho passando poir novo de ardencia, causo de ter comido palha de café, misturado no fubá. Foi perseguido uma quadra grande pelo tião gajou por motivo de defloramento duma ciganinha nova, num querendo de casar consoante as leis da manada. Escondeu no Barro Preto, depois conceição dos ouros e Ventania, lugares de renegado e perseguido da policia. Gastou muito casco de cavalo nessa travessia. O tião caiu doente e ficou morando com os pinducas, pra depois continuar a perseguição. o pior que podia ter acontecido é não ver reconhecido os méritos. Depois de consumada a morte do Godofredo pelo fuinha, o povo ficaram com medo de que fosse perseguido pelo Gratistonho e pelo Jefe, mas não! o enterro foi concorrido, causo que o povo cagavam pras perna abaixo e de curioso de ver a carranca deles dois. Na última hora, pra espanto geral, consentiram da presença do tiãozinho no velório, inclusível de seguir o enterro, segurando a alça do caixão, os dois de sentinela atraz do Tião. Não se deu nada do esperado, nem morte nem vingança nem nada. A vingança mais completa ficou pro fim, com serviço bem feito. Depois deu em nada, com os valentões tirando de cabeça, se retirando de vez pra São Paulo. Lá na cidade grande, decerto que tendo mais campo pra trampolinagens deles. Serviram de mercenarios na revolução de 32.Acompanharam cabeça do Mineirinho, seguiram a coluna Prestes e foram viver na jagunçagem. O Tiãozinho, sem querer, virou num valentão respeitado, até que acabou seus dias morto pelo Nicrinho, e jogado na enchente.

aí podia que sesse


Com ele não tinha explicação possível, o nenhum atenuante. Não diantava teimar.Bobagem. Mas foi de medo que o Tiãozinho matou ele com a texa insignificante: o erro na superavaliação de sua superioridade: bem no sangrador, por instinto de matar correto. A boca uma enormidade, um despotismo de dentes, arreganhada como de cachorro louco. Andava de déu em déu, ao Deus dará, caçando encrencas, um tirador de pontas. A pele de cuia, de cobre, como dos Pinducas, seus parentes próximos, descendentes de indios, uma gente de bugres. Resolveram de vim por banco em Cabo Verde, terra de jagunço, fazer arruaças. Pra eles, não tinha Justino nem Polico, nem Nenzinho, valentão nenhum. Brigavam de turma, de pé, de faca e cabeçada.Dis que podia que sesse gente dos figueiredo da Divisa, mas essa uma gente de mais honra, brabos mas respeitosos. Mas como que pode se eles era do Monte Santo, quase Mata dos Sinos, em Jacui, terra de gente papuda. O povo falam, que sem saber dos figueiredos, ele encarnou o esprito do Theófilo. Mas como, se eles num era bem dizer parente, que se saiba. Só se em outra encarnação, aí podia que sesse. Isso dele receber o esprito do Theófilo se deu, quando estava alongado pelos carrascais, foragido da policia. Lugar que sempre ia em apoio de fazer parte com o diabo, entregar sua alma dele ao demo, ou fazer trato com o cão. Diz que tinha o corpo fechado por ter entregado a alma pro coisarruim. Quando o esprito do Theófilo baixou no Godofredo, se deu acontecer que baixou tambem o esprito do burrão rateado, na mulinha do tal, que desembestou, na desabalada carreira, ladeira abaixo, arrastando o Godofredo pelas pedras, com o pé enganchado no estribo, com espora e tudo. Mas num morreu o peste.

Catadura de animal, cara de piranha


Boca grande, cara quadrada, mas prognata. O sorriso de cachorro louco, mostra uma crueldade de dentes: de ouro cuneiformes, só presas, um desperdicio. Nem se quizesse poderia parecer mais feio, fazendo caretas. ao natural, uma marmota, bugiu: o caipora. Quando fala, se fala uns grunhidos, a vós saindo apertada, gutural saida de um buraco cavernoso.Quando ri, se ri, uma crueldade de dentes.Cabelo ruim de negroaço, o nariz aberto, mesmo em situação de brandura. Os olhos, só tem sangue e veneno. O retrato escrito do da maldade, capeta em forma de gente, sem tirar nem por o demo, o coisa ruim. A sua faca dele de serrilha,pra doer mais fundo, cortando rasgado, só pra ver o cristão fazendo caretas quando estiver morrendo. Arrogancia e prepotencia só, o nó das mãos, o calombo proeminente, o braço em tábua como dos primatas, dos bugios. Catadura de animal, cara de piranha, os muitos dentes em serra. Sem testa, as sombrancelhas misturando com os cabelos. A barba de espinho, continuando pelo pescoço, emendada com o peito, curto, atarracado: um selvagem.

Godofredo, Gratistonho e Jefe


Eles era em treis: Godofredo, Gratistonho e Jefe, o terror da vizinhança. Por onde que andavam, o frégi estava armado. Nas festas, uns zanga-sabão, terminava com qualquer dança de baile. O Godofredo era um grandalhão de cara de cavalo, estabanado, ruim feito cobra. A cara quadrada, equina, mesmo muar, mais mau deles tudo. O Jefe, pequeno e traiçoeiro, mas tinhoso. O melhor deles, e ainda num era grande coisa nem flor que se cheire, era o Gratistonho, que teve tosse comprida em criança, por isso que mais molenga e chorão, veio a morrer de chifrada de boi. O godofredo quem matou foi o Tiãozinho boca de bagre, um tipinho sem origem: gentalha. Quem matou o Jefe foi o Fernandi, do tião siqueira, o mentecapto. mais isso foi faz muito tempo, depois de feita muita arruaça e malvadeza. Eles era gente dos Beijo, duns tais de tumaizinhos, danados de velhacos, breganhistas de animais, como ciganos, viviam no Cachapava, tudo de lá, descendentes de Pinducas. Vivia de déu em déu, ao Deus dará, sempre em apoio de cavalhadas, em colondria de vadiagem enquanto que caçavam jeito dalgum sururu, procurando encrenca, uns tiradores de ponta, mal-encarados, doidos por principiar uma malquerença, chegados numa briga de faca.

OS TREIS VALENTÕES


Fatos de pavoroso suceder, se de tudo verdadeiros como o povo contam, se deram de acontecer naquele triste 15 de Maio de 1932. Contados assim nesses claros de dia mais comum, uns vão desconjurar, nenhum ninguem vai poder de imagimar o triste que foi igual. Não eram dias próprios de tristeza nem azarados, senão que dias de festa e comemoração da padroeira. A família do Bié Romão tudo reunida para as festas de Reis e do Divino. Ocasião propícia pra fazer pamonha de milho temporão. As roças tudo embonecadas pra soltar pendão o capim gordura emborrachando pra soltar semente, promessa de muito namoro e casamento. Os bailes da roça. Os terços. As cavalhadas. Os preparativos para os dias de festança, a fazenda esperando a chegada dum mundão de gente. Homens em cavalhadas de arreios reluzentes, machetados, os peitorais de argola, estribos, rabichos, baldranas pelegos e colchonilhos. As mulheres, se moças em ricas montarias completas seus cavalos educados. As velhas nos siliões, de atravessadas a meio animal. Todos de roupa de domingo. Alguns de carro de boi e charretes. os mais de perto de a pé, gente de colonia.

Um certo senhor aprumadinho


Um certo senhor aprumadinho, meio prosaico de antigo, mas de avançada idade, como se diz meio entrado em anos, nos seus muitos janeiros àscostas. Andava de déu em déu, ao Deus dará, caçando encrenca, em apoio de fregi e cavalhada: um tirador de ponta. Outrora encontradiço, agora levando um sumiço grande, rotundo e sorumbático, meio soturno e distante, pontifucava nas esquinas e casas de tolerancia, nas portas de venda e nas farmacias, num discurso agressivo. Depois das quantas, fatalista. esperançava. principiou-lhe a lhe cair os dentes, um certo ameaço de reumatismo, artrite e lumbago, os esporões, a gota serena. Uma cirurgia de calculos biliares, os seus divertículos e os incômodos da idade avançada. Macacoas e ovas. As veias entupidas produzia um caminhar claudicante, medidos os seus pequenos passos, vacilante meio marcando ocompasso, a cabeça erguida, numa postura automática de cuco de relógio, forçada em aparentar um equilibrio inexistente, pontual e rigido em excesso. O terninho de brim caqui, corretíssimo. um libré de culete, com relogio Roskoff Patent o palitozinho justo e de botas: um bonequinho de relogio de caixinha de música. Aprumadinho, um regente de orquestra filarmonica. Um senhorzinho de mais de meia idade um sexagenario um pouco opinioso, deu pra manicar com as horas, exibindo o relógio sem precisão, e com o tempo físico. Falava dos novos incômodos: sua propriedade permanente. Sentia ainda vibrações. Sonhava com amores novos e improvaveis. Impossiveis naquela fase da existencia. Podia se dizer que estava velho de tudo. Abandonou prazeres, vivia sob regimes e dietas: uma eterna renuncia. Uma profunda intimidade com remedios: receitava. Os chás, as garrafadas pra reanimo do moral viril. Ficou solene e saudoso. Pôs tudo fora em negocios desastrados, lentos e lerdos, os esquecimentos bestas. Por fim perdeu a graça e a compostura: despontou.

a morte rondando a corrutela


Da morte. O sino tangendo lúgubre: a morte rondando a corrutela. Gente que nunca morreu está morrendo. Será o Leopldino? ...-que nada, esse está forte e sacudido nos seus 90 janeiros. O Muniz velho de guerra? será? ... não esá beirando os cem mas não chegou a hora dele ainda não. " A hora do homem é uma só, num dianta afadigar um nada não". " A morte é uma velha careca que passa de vez em quando, vestida de um branco. Fica atraia da moita esperando a hora do cristão chegar". Quando chega, babau! num tem choro nem vela: pode encomendar a alma e acender as quatro velas. O Cristão veste a indumentaria de madeira e vai pra horizontal definitiva. Acabou-se o que era doce: a única certeza incontestavel. Amores clandestinos: historias safadas Heroi amante poeta: Pedro Saturnino de magalhães Meninos de recado: Bastião Salgado e Zé Roxinho Noticiador de enterro e festas: Jorge Braite meirinho e estafeta: Dolermiro e Antonio Aguida rei momo e recadeiros: Caju e tio Alceu Bebados inveterados: Zé Cabo Verde e Ricardo Eletricistas e consertadores de radio: Quincas e Jessé Valentões: Arcidalio Esmerindo e Zé Pintinho Louco: Alziro, Zé louquinho e lasquita Reclames: grindelia de oliveira junior O run creosotado Glostora e lavanda. Almirante: a maior patente do radio brasileiro do "O Incrível, fantástico e extraordinario" Escritores: Aspicuelta Navarro, Vercingetorix, Hercules Florence e a caneta fulgurante de Antenor Pimenta

Quem tem dó de angu, não cria cachorro


. Num paga a pena desperdiçar vela com defunto ruim. " o Homem troca a vida pela luta, longos anos de trabalho. Cresce em força e ilusões trilhando por um caminho de sonhos e de pedra. Depois de velho, socega e enfurna. Fica sistemático, antigo e opinioso: sorumbático. Acaba numa existencia de esperança silenciosa e conformada. Pois o Homem fica velho, mas é por amor de suas próprias opiniões dele. Mas, quem vai dar fé em opinião velho? aí então ele fica triste e apaixonado de num ver suas regras acatadas. Mais velho fica. Não significa mais nada: um zero a esquerda. Vira num incômodo pra familia, jogado num canto esquecido, um traste velho sem serventia pra nada. O Homem velho, se ele fala: o povo não escuta, eles acha o assunto desbotado. Então ele acha melhor se calar. E se encolhe: vira carta fora do baralho. O Homem se apaixona, se afasta prum canto triste. Fica velho e repetitivo. Autoritario, pelo amor se suas próprias opiniões dele. E quem vai dar acordo em conversa de velho? Aí é que emburra. a vida dum velho é só dor e sofrimento. todos candidatos a sofrer.

Os dizeres do João da canela grossa.


O homem, ele é muito especula, gosta de saber coisas , vive assuntando coisas que não está na sua competencia dele de saber. Não tem nada de perguntar. Amanhece, ele lava a cara, de noite lava o pé e dorme. Come, dorme e faz as suas necessidades, só isso que cabe fazer, mais nada. Gosto quando chega de tarde e acaba o dia: sento neste cocho emborcado que você está vendo acolá, aparo as unhas a canivete com paciencia, que o homem nestes ermos de grota escondida, sem mulher vivente por perto, ele tem de ser asseado senão acaba virando bicho. Faço a barba de navalha só nos dias de ir na missa e levar manguara de frango pra vender no comercio. Volto e gosto de ficar sozinho, sem nenhum ninguem pra ficar perguntando das coisas da vida pra única resposta possivel: a vida, ara a vida! são só umas alegriazinhas a-toa. A vida é que nem uma peninha branca avoando ao sabor do vento, feito borboleta no seu passo vacilante e sem destino. Vai pra onde leva o vento. Não adianta excogitar muito, que se a gente pertence a uma bacia, está preso às circunstancias desta bacia, sem ter nada pra fazer de diferente a não ser ajudar as coisas a acontecer dum modo que seja a favor, o resto é só prosa de cigana. Tem gente que pensa que cigana lê a sote, lê a mão da gente, mas a cigana lê é a cara da gente. Pelas rggas e comissuras da cara é que a cigana vê dentro da gente, os olhos vazando os nossos segredos e sofrimentos. O Homem passa a vida fazendo besteira:coisa a-toa, acaba numa existencia silenciosa, conformada. Peleja e luta, enfrenta os perigos e desafia a morte, pra depois, o tempo vencendo, virar num traste velho, sem serventia pra nada. No fim, se lerdiar, é só terra na cabeça do bicho.

O Alziro, muito ladino


"seja como Deus quizer : cada um arrisca a vida como entende e quer. Tem gente que tem um jeito estranho de passar emoções fortes na vida". "Santa Barbara são jerônimo: quem num tem barba num é homem. Está com fome, pois vai la na rua do joão Gome, mata um home e come. "Eu num sou bobo nem nada pois vai lá no curral de conselho". Um discurso inócuo e extemporaneo, o povo muito simples, num ia entender um a. nem deram confiança prq prosa elevada e barroca do Sinésio. Num atinavam nem sabiam o que viesse de ser aquela latomia. Pra eles, uma chorumela, ladainha de igreja só em ocasiões de via sacra. Advertencias: — O tempo urge! é de bom alvitre que sejam tomadas as providencias que o tempo requer. Tambem porque já se faz tarde. Considerado o deantado da hora, necessario se tornam os procedimentos da partida. O Adejalma, alí escutando aquela arenga, bem frangão, num aluia um palmo: era homem sem ardencia de tudo, cabeça fresca. Mas era o unico são deles tudo. O Alziro, ultimamente dera pra variar, causo dum problema de cabeça, o braço ficando esquecido, andava distraído pelas praças, pra desaparecer a idéia da cabeça. A mulher, garrou de ficar com pensão daquilo dele. Tinha de internar de qualquer jeito. Mas foi aonde que pregou aquela peça no Totó, que foi no ford V-8, de acompanhante responsado, sendo o Ricardo, irmão do Zé Cabo Verde, de chofer. A confusão do causo se deu foi na chegada do manicomio, já foi contada mil veses em outros livros, mas num custa repetir, causo que engraçada: O Alziro, muito ladino, acabou não sendo internado. No seu lugar dele, ficou o Totó, contido aos berros, pelos enfermeiros, com ajuda da camisa de força e levado trancafiado. Acontece que, muito familiarizado com hospícios e os seus tramites, o Alziro usou do expediente de de se adiantar e comunicar segredado aos enfermeiros que evinham aos bandos, com camisa de força.

"Santa Barbara são jerônimo


"seja como Deus quizer : cada um arrisca a vida como entende e quer. Tem gente que tem um jeito estranho de passar emoções fortes na vida". "Santa Barbara são jerônimo: quem num tem barba num é homem. Está com fome, pois vai la na rua do joão Gome, mata um home e come. "Eu num sou bobo nem nada pois vai lá no curral de conselho". Um discurso inócuo e extemporaneo, o povo muito simples, num ia entender um a. nem deram confiança prq prosa elevada e barroca do Sinésio. Num atinavam nem sabiam o que viesse de ser aquela latomia. Pra eles, uma chorumela, ladainha de igreja só em ocasiões de via sacra. Advertencias: — O tempo urge! é de bom alvitre que sejam tomadas as providencias que o tempo requer. Tambem porque já se faz tarde. Considerado o deantado da hora, necessario se tornam os procedimentos da partida. O Adejalma, alí escutando aquela arenga, bem frangão, num aluia um palmo: era homem sem ardencia de tudo, cabeça fresca. Mas era o unico são deles tudo. O Alziro, ultimamente dera pra variar, causo dum problema de cabeça, o braço ficando esquecido, andava distraído pelas praças, pra desaparecer a idéia da cabeça. A mulher, garrou de ficar com pensão daquilo dele. Tinha de internar de qualquer jeito. Mas foi aonde que pregou aquela peça no Totó, que foi no ford V-8, de acompanhante responsado, sendo o Ricardo, irmão do Zé Cabo Verde, de chofer. A confusão do causo se deu foi na chegada do manicomio, já foi contada mil veses em outros livros, mas num custa repetir, causo que engraçada: O Alziro, muito ladino, acabou não sendo internado. No seu lugar dele, ficou o Totó, contido aos berros, pelos enfermeiros, com ajuda da camisa de força e levado trancafiado. Acontece que, muito familiarizado com hospícios e os seus tramites, o Alziro usou do expediente de de se adiantar e comunicar segredado aos enfermeiros que evinham aos bandos, com camisa de força.

Carnes anciãs, malignas.


E do tal de rodizio, que dizer? Só impressão de fartura. No mais, carnes recompostas, ajeitadas, plastificadas. Preparadas, amolecidas por química, transformadas, transmutadas de segunda pra primeira. Aqueles horríveis coraçõezinhos enfileirados, os cadaveres sempre ofertados, sempre recusados e retornados. Tudo, aproveitado até o sumo, empurrados goela abaixo, impostos pelos garçons solícitos. Aquela coisa indecifravel, hamburgueres de hamburgueres velhos, refeitos, em escalas sucessivas de reaproveitamento: vegetal e animal de procedencia duvidosa de impossível reconhecimento, causo de temperos mistificadores,imitados do natural pela quimica de sabores. Molhos e liquidos para a decomposição das partes mais duras e para encobrir a velhice, as marcas do tempo inexoravel, escuros e esverdiados, convivendo com moscas e bacterias. Carnes anciãs, malignas. O cheiro forte do conservante. Carnes mumificadas, pelo formol, cores abstratas, gostos exóticos, irreconheciveis, feitos. O arroz duro, para parecer bonito e solto, desagregado, ou então parabolizado, maléfico. Precosido, emendados os pedaços menores. Feijão de vespera da vespera, tradicionalíssimo. As porções estranhas de polenta, vagens velhas, tomates acidificados, cansados de esperar.

Comemos feito animais


Comemos feito animais domésticos, os restos, ruidosamente, aos nacos, engolidos mecanicamente e automaticos sem o nenhum respeito pela hora sagrada, sem oração de precedimento, sem rezas, como uzdo antigamente nas casas de familia, a hora de comer um acontecimento impolgante cheio de significado. Um ato solene, cheio de circunstancias do momento de encontro e respeito: um ato de vida. Comia-se? ... não! muito mais que isso, um momento sublime de repasto do espírito, de contrição e respeito pela vida. Fazia-se a refeição com respeito ao ato solene de comer e gostar do que estava se fazendo, com rezas e agradecimentos. Lembro meu velho pai, imperial e majestoso na cabeceira da mesa: levava horas, naquele prazer dispendioso, macetando, espremendo e compondo aquilo do gosto, aos pequenos goles e sorvos, uma demora planejada.

"Num pesca não meu irmão, vai pela sorte


Pois agora gentes, vossas senhorias podem ir se preparando pro pior. Afora as circunstancias desagradaveis da viagem longa, agora vai ser diferente: Agora é diferente : a comida é coletiva, um horror. nos coxos,igual animal, conquanto de inox,higiênica, cheia de remedios. O formol pro corpo vem aos poucos, em rações diarias de doses de pequenas mortes consecutivas. A comida, constantemente reaquecida, oxidada, caldo de bacterias mortas, semivivas, remontada de acrescimos, remexida, pasteurizada, pelos contínuos quentes-frios. Nos coxos, é servida aos jorros, sem o nenhum respeito, desmontada, remontada, liquidificada. Arrasada, os sabores indefinidos, multiplos, inaturais, sem predominancia, muito socializada, igual pra todos, uma lavagem pra porcos de confinamento. A morte lenta, veneno programado, o conservante da morte. Nos panelões, coletiva, remexida, reaproveitada, econômica; líquida, que nem dos porcos, sensaborona, retornada daquele mesmo reservatorio comum, sempre bulida fuçada pelas mesmas conchas e espumadeira, revolvida para aflorar as melhores partes, escolhidas, restando apenas um caldo indefinido, sem origem clara, composto, não individual: "Num pesca não meu irmão, vai pela sorte, senão me deixa só o caldo". Que coisa horrível meu Deus!

"Se eu como serraia, se eu num como ocê ralha."


As comidas. De primeiro, a gente tinha ainda uma certa dignidade no ato de comer: um ato individual, muito solene, intransferível, ainda que fosse o indevectível prato feito, de mudo, aquela montanha escarpada de arros e feijão, ajeitada com extremo cuidado pra não ruir as beiradas, não desmoronar numa avalanche perigosa. Ao l ado arroz, a lagoa substanciosa de feijão, grosso e caudaloso, os grãos submersos pela calda brilhante. Comido vagarosamente pelas beiras, desocupando o lugar para criar uma praça de manobra das misturas que iam chegando aos bocados, ou ao tombo dalguma abobrinha ou torresmo. Coroando toda aquela arquitetura inabalavel, o ovo frito chapado, equilibrado por cima da couve rasgada, a farinha molhada pelo suor do frango e do lombo. O garfo cheio, equilibrando aquela tentação, a boca cheia, a prosa pouca, os silencios:-do que mesmo, morreu teu pai? ...de repente! Nenhum ninguem num fala um a, a barriga quentinha, o rubor subindo as faces. Garfadas consecutivas e no rítmo certo, pra evitar o embuchamento e o soluço inevitavel nestas condições, sempre o risco de algum novo desmoronamento. Por fim a saciedade, a plenitude. Um pouco dos escombros daquela magnifica estrutura ficando pra volta do dia. O café, sorvido aos goles na boca da garrafa e o ritual de fazer o cigarro de palha, a plenitude o escarrapachamento, o lado bom da vida: as prosas, os causos, a satisfação da vida simples. Um pouco da agua da cabaça entornada, a limpeza dos dentes, os últimos retoques. O repouso merecido pra ganhar folego pro resto da labuta. Vidas simples, produtiva, o suor refrescando o pescoço e o peito. O subaco. O caldeirão profundo cheio até as bordas, a pesca silenciosa da serraia, o margume medicinal, agora reduzido ao restolho e escombros da investida. "Se eu como serraia, se eu num como ocê ralha."

Magnifica rainha.


Suprema e majestosa , quase que pretendendo a soberba. Orgulhosa de seus préstimos. Na face calma, um ar de brandura, um olhar de menina. Traços de uma grande beleza, lembrança perdida de uma juventude distante, mas beleza, que teima em aparecer nas linhas restantes. Só lembranças. O ar triste, de ironia pra si, no se julgar. Velha triste senhora jovem. Até hoje não usa óculos pra tecer seus arabescos indescritiveis. os dedos ageis, manobram com destreza, a agulha e o crochê, fiando labirintos de magnífica simetria: belos, irreprodutíveis. Amou seu homem e amo com extrema dedicação: paciente, subserviente, se lhe fazia as vontades. O café e o leite com farinha, com angu, na cama servido, por décadas. Hoje, vive de curtir suas lembranças. Os gestos, os fatos políticos, as histórias de familia, contadas com minucia, igualzinho ao marido. Magnífica rainha. Rainha do carnaval de 1932. O Clube dos Argonautas tinha tinha orgulho de sua beleza, hoje não mais que sombras do passado distante. Homens se rendendo aos seus pés. Mulheres respeitando seus dotes e encantos, por muitas imitada. Senhora generosa: cria outras muitas mulheres: mãe, da mãe, da mãe, de uma outra mãe de todas as mulheres perdidas por este mundão perdido de Deus. O amor ela tinha em excesso: transbordava. Quase madrinha: magnífica rainha. O que se esconde por trás desses olhos pensativos? Fonte inesgotavel, caudalosa, geradora matriz de outras mulheres generosas, impolutas, incorruptíveis. Puras. Velhas senhoras, de santa virtude, santuarios de grandeza indestrutível.

O asceta


Os zoios remelento, cutia e ranho pelo nariz, em bolhas semoventes, persistidas. Uma tosse denunciadora de muitos anos de bronquite. É quando chega o ânimo quais que esgotado, esperado, que gente sente os olhos embaciados, o olhar longe no vazio distante do infinito de tristeza, o sem assunto nenhum pra falar de nenhum nada: só cismando as coisas da vida inútil. Um gosto estranho pela vida dos santos e uma queda para a provação e a privação de tudo: o simples de num ter nada de seu: simples, simplório. Vida sem premios, sem nada pra se gabar. A mulher: só matris criadeira de rebentos descendentes, produtora. Uma escadinha de filhos, de todas as idades consecutivas, até dois no mesmo ano. Aprontaram um frégi danado, mas ninguem deu parte. levaram o povo pro xadrez e os animal pro curral de conselho. Só. Ele aproveitava da ocasião porque tem capa. Quem que é o capa dele. Você duvida? pois então ouça. Pois é o prefeito o capa dele. quantos crimes que ele cometeu na vida e passou encoberto? quantos num tem nas costas?um sujeito estrambólico, bem psicodélico. um fulano escalafobético, disacursuado da vida. Eles dois vivia encasquetados com a vida. Um, louco, a idéia dissolvida. O outro mais lúcido, mas sambanga. E num é que o sambanga viveu muito, acabando por assistir a morte do outro, dependurado do tronco de arve, por um cipó de embira?! ...coisas da vida. A vida acaba sem explicação plausível, a morte vindo de ser o remédio. O que num tem remédio, remediado está.

a vida num vale uma cabaça dágua


Dizia o velho na sua simplidade: Eu sou de lá do sertão, por isso mesmo, eu quase num tenho amigos, vou vivendo a esmo, eu quase não saio, vivo só nesse mundo de meu Deus. O Homem, ele cresce em força e em sonhos, trilhando por um caminho de dor e de pedras: enfrenta o perigo e desafia a morte, pra depois, o tempo dele vencendo, virar num traste velho, sem serventia pra nada. Tudo que a gente faz, ou que fez, foi o criador que pôs na nossa frente pra gente se entusiasmar e se afadigar. Eu mesmo, já fiz muita coisa, por querer deu mesmo, as veses por mando de outros, por industriação. No fim acaba chegando a conclusão que tanto faz como tanto fez, as coisas feitas por desperdicio de num ter o que fazer, que o mundo num gasta nenhuma energia preciosa. No fim, tudo é vaidade, nada mais que vaidade, com que dizia o Zé Louquinho: nada vale nada, a vida num vale uma cabaça dágua furada. A vida, se lerdiar, é só dor e sofrimento e acaba sempre com terra na cabeça do bicho. Falei, tá falado e tenho dito. Se lerdiar, num átimo, a vida vai pro beleléu.

O MENINO ENDIABRADO


-Esse menino é mesmo que coisa ruim. -Você não tormente a idéia da cabeça, não, creatura de Deus! desse jeito você está caçando um jeito é de eu rumar esta manguara no alto desprovido de seu bestunto da tua pinha, feito pau de dar em doido. tenho dito: Prudenciana froes de albuquerque calazans. E foi, que se deu de acontecer um causo muito estranho da morte do casal de fazendeiro, sem o nenhum aviso prévio, consoante os registros dos anais do cartório do crime. Como que um alguem ia de imaginar um vivente daquelas matas, pasando só de vento e banana, de casca e só, como um bugiu. Só mesmo um Valdevino e Isaltino: Dorico e Doclideo. Se deu na foi na Cana do Reino, no encantado da Serra Escura, a Serra do Bugiu, de como que um era pra morrer e ficou vivo pra assistir a morte do outro enforcado no cipó de embira. "Como que as coisas são engraçadas e o destino caprichoso! a gente, o Homem passa o tempo da vida buscando uma explicação pro significado das coisas, tentando distinguir o certo do errado. Mas tem hora que desitende, acaba fazendo besteiras, meio por rumo, sem saber direito o que se passa em roda. Chega uma hora que até dá vontade de morrer e a gente nem sabe se estora os miolos como que muita gente já fez na vida e a gente não tem nada que dizer. Hoje, a gente não sabe se fizeram a coisa certa. A vida do Homem, ela é mesmo cheia de peripécias. Tem horas que a vida está por um fio de navalha. O mundo é muito grande, e o Homem está num cantinho muito longe, escondido, sem importancia nem motivos nenhuns pra ninguem botar pensão dum nada.

a conversa desbotada


Não existe mais assistencia pra o julgar, pra ficar impressionado com sua criação, com sua sentença judiciosa. Como diz o velho amigo Zé Muniz: fica que nem velho a-toa, que só tem serventia pra informar. Ouvem educadamente, com atenção, mas procuram de não chegar perto, se afastar de sua velhice contaminosa. Qualquer coisa que faça, é julgada como natural, que é assim mesmo, proprio dum velho: o que se podia esperar. Pouco importa pra eles. Logo deixam a cena, fica o velho com sua ranhetice e a sua esclerose cansativa, a enfisema, o alzeimer, a tosse repetitiva: isto sim cala fundo. Uma fina lembrança, um travo na boca, um gosto amargo, um nó na garganta: o recolhimento, a entrega do seu eu, próprio e intransferível. O que sente mais é quando vira um chato, quando o que diz parece grego, só entendido por meia duzia de gatos pingados. Quando já não faz mais sucesso, a não ser pelas virtudes negativas. O que doe fundo é quando começa ser revenrenciado, consultor de problemas academicos, pra fazer outros jovens brilharem. Quando perde a audiência, ou quando a vós soa autoritaria e estridente e vira vulto histórico. Quando começa a ser analizado julgado e denunciado pelo que não tem de juventude: a pele lisa e cheirosa, o riso franco dos inocentes, a falta da ironia, da malicia e mordacidade. Quando ajornado aos tempos novos, fica ridículo, como um palhaço, vestido de roupa berrante e o tenis extemporaneo. Se principia de contar uma historria, logo acham a conversa desbotada e aí que ele fica apaixonado.

a gota serena, o lumbago


Começa até a encontrar prazer no descansar os ossos, cismar silencioso, podendo ficar isolado, só e seus pensamentos, a cabeça livre de vagar por territorios longínquos, vasculhando reservatorios profundos da lembrança. Buscar fatos antiquíssimos, de muita vangloria, uma lembrança fina de coisas gostosas da infancia distante, da remota mocidade. O que doe nele, não é nada disso, até que suporta bem os calos antigos, o esporão, a dor ciática imprevisivel, a gota serena, o lumbago e o cheiro ruim de peles ressequiddas: tudo, macacoas de velho, doenças incuraveis e a tosse companheira de muitos anos. O que mais lhe cala o âmago do ser é se sentir oculto, que nem tem mais nada pra dizer, de interessante pra ninguem. Fica desesperado quando tenta mostrar algo de novo, de grande, uma grande descoberta de problema dificultoso, um livro.

só, na multidão, boiada: caminhando a esmo.


eu sou de lá do sertão, por isso mesmo: eu quase não tenho amigo, eu quase que não consigo ficar na cidade sem viver contrariado sou como rês desgarrada, só, na multidão, boiada: caminhando a esmo. Ele sempre fazia isso: o recolhimento por uns dias no hospital, por ordem médica, pra recompor. O efeito dos medicamentos o distanciava do mundo. Principiou de gostar da brincadeira, começou de amiudar, passaram a tres, quatro dias, o retorno à normalidade do dia a dia, foi se tornando penoso. A perda do interesse pelo contato com as pessoas, cada vez mais mergulhado dentro de si mesmo. Os negocios, paralizou alguns. um passo a frente, dois atraz. Desmobilizou. A esclerose multipla, o gosto pelo afastamento, natural. Aquilo, um flagelo, um sanapismo. Aquele era um sertão, um lugar triste, um ermo, um fim de mundo esconso, sem fim, perdido no meio do vazio petrificado. Do que ele fica triste e disacursuado, não é com a velhice física, o entrevamento, a falta de mobilidade, quando os menores gestos ficam custosos, como levantar dum banco: por isso não sai pra fora de casa, fica só, só fica quentando fogo, em noites que não tem nunca fim. Nem com a surdez, a perda dos dentes, a careca, o mau halito, o cheiro de velho, das feridas, as recorrencias, nada disso: ..., isto até que passa.

trapos, bugigangas.


De seu, o que tem é nada: só trapos, bugigangas. Guarda só lembranças. E no entanto, seu ar é sombranceiro, majestoso até. O terninho de brim, digno e limpo, solene e aprumadinho todo todo, de chapéu. As mãos asseadas, unhas aparadas a canivete, com cuidado e lento. A nenhuma rompancia, pacífico que só: palavras boas, a presença quase que desapercebida. Gosta de contar historias e nisso era mestre.Mas fala de coisas ancestrais, eles logo acham sua prosa dele desbotada. Então ele fica apaixonado: se retira e cala, prum canto sombrio, um ermo, encostado num fundo de grota, num vazio desprovido. Recolhe-se a sua casca de caramujo. Não se mostra pra nada, nem pra o nenhum ninguem. E acaba numa vida sem brilhos, longe da cidade, um nada de aparencia: só simplidade. Alí fica como ave reclusa, esperando o tempo vencer, olhando o passado, resmoendo estomagos. Redundante, recorrente, volta e meia as coisas sempre voltando à tona. Antes era um bisca de ruim, um íngua. Depois que ficou velho amansou. Adotou uma prosa pausada, um proseado rouco, grosso e autoritario: deu pra ficar solene. O alheiamento, o autismo.

A PROSA PLACIANA


Homens adultos e cultos, discutindo com ares judiciosos: seus passos escangalhados, trôpegos e esgalepados. Aí, ele recuou prum canto, amuado. Se encolheu num canto triste, uma cantiga de ladainha, gungunava. Ficou entoando cantigas tristes, dos tempos de outrora, não mais escutadas em o nenhum lugar, antigas, de muito que antigamente, passadas no oco tempo. Nenhum ninguem num tinha que num ia de dar ouvidos pelas prosas sonsas dum velho imprestavel, ancestrais. Alguns velhos mineiros fazem isso sempre. um recolhimento profundo, o olhar pra dentro, trespassado da lembrança toda do tempo feliz da vida. Um olhar de bondade, esperançoso. O gesto pequeno, sem exagero de rompancia nenhuma nada, maneiro de nenhuma agressividade, ar superior mas tímido, na desimportancia de enorme grandeza. Está sempre pensando na gente sua e nos seus trens. Uma imensa bondade, nos seus olhos tristes de velho. Nunca que brigou. Jamais bateu em ninguem, muito menos num passarinho que seje. Sempre bom, a prosa muito mansa, esperando a vez com paciencia.

ETA PUSTEMA DE VIDA


Os olhos do velho, me trespassamdo com seus olhinhos de largato: só, e só no deserto, as pessoas fazem perguntas impossiveis de responder e que realmente interessam. Padecia da lembranças da juventude distante de sua antiga mocidade: dos erros, das vacilações, das tentações cedidas. Mas alimentava o espírito com as visões lúdicas daqueles tempos gostosos: -Eta pustema de vida disgramada! só lhe restava chorar a antiga mocidade, enquanto um pranto sereno fazia aflorar às pálpabras uma gota de amargura: inexoravelmente, o tempo não podia retrogir. nem das aventuras de seu tempo futuro negado. Era, em nesses descaminhos do tempo, perdido nos subterraneos da memoria, que com sábias enciclopédias, com centenares de milhões de milhares de respostas, para a falta de uma única, só e definitiva pergunta: Ó Deus! que é a vida? -Mas, com que cara e com que roupa eu vou me responder? quê que eu vou fazer? A nudez, não costuma mais afetá-lo, como nos velhos tempos de outrora: a vertigem do sonho, o prazer da lembrança não pedida, chegada de surpreza.

praça da corrutela, vazia de vivalmas


Aí, o velho foi falando a prosa dele, sem a pressa nenhuma nada, até que a historia chegou no deserto: não estava nem podendo com a gata pro rabo. Mas a sua vós dele se dissolvia como que tragada pela areia do deserto da sua juventude: a imagem de catingueiras, cactos e cascavéis. Os olhos semi-cerrados, trespassando a gente, como um imenso largato, a papada suspensa, longe no tempo, o olhar travesso, engraçado e pasmo, parado, congelada a imagem, os seus meneios de cabeça: ridículos. A pequena praça da corrutela, vazia de vivalmas. O tempo parado nos ponteiros imóveis do relogio do velho campanario. Despertou solerte, como se tivesse herdado subitamente a velhice do velho sem a sua juventude dele. Depois de uma eternidade, como fazia o Zeca Zico, no seu ar soronho, disse para ninguem: -Ó, o peso imenso desta vida de viver por rumo! Retornava ao caminho de volta, com a minuciosidade implacavel das coisas gravadas pelo destino. Disacursuado da vida, fez que sim com a cabeça e disse: -Não!

"Entrego minh'alma à Deus, meu corpo à terra fria


Pois num é que sucedeu de num levantar mais da cama dele pra tirar leite! ficou entrevado das pernas, arrastava pelos cômodos da casa, apoiado numa manguara, uma especie de cajado. As vacas, misturou tudo com os bezerros. Os porcos invadiram a dispensa, pros restos de lavage. O mato deu de invadir os terreiros, o capim principiou de nascer dentro de casa. Assim, viveu muitos anos até que chegou o dia dele: a morte o levou sem nenhum estardalhaço, como sucede a qualquer um de nós, cristãos viventes, nessa vida. O romãozinho, como era assim chamado, era desses velhos sovina, miseravel até no último: desses de guardar dinheiro no ôco do pau de barrote, as veses no santo do pau ôco. Pois não é que quando morreu, deixou um testamento escrito assim: "Entrego minh'alma à Deus, meu corpo à terra fria Os culhões pro Padre Antonio e a pica pra tia Maria."

VELHO E sistemático


Companheira nenhuma pro aconchego dos ossos: dormia com uma cabrita. Mas era resistente, no cerne, o tempo não vencendo a sua magreza: jamais ficava doente de nenhum incômodo: apenas o pigarro duma bronquite crônica, resultado de longos anos do uso de pito de barro. Mas fazia presença, com seu cavanhaque de rabo de milho. Era independente, num tinha ninguem por ele, nem carecia de favor de extranho. Magro, mas impoluto, sistemático até o âmago, autoritario, quase absoluto. O que tinha pra dizer: não deixava a batata assar, não ensaiava pra dizer desaforos: falava alto pra todo mundo escutar, não tinha papas na língua. Não gostava de levar desaforos pra casa, nem de comer nada amanhecido. Não pedia a ninguem de gostar da pessoa dele: era único, impar, digno, na sua misereza dele. Seguro ao extremo, avarento: tinha dinheiro a juros. Mas apenas um homem na sua condição: integro. Serviçal ao extremo, mas do jeito dele: áspero.

ladino que só


De seu, tinha pouco, uns andrajos: um cachorro sarnento por companhia, passava a pão e agua: o mais forte, uma sopa de inhame, coisa sem sustancia. Carne, nem pra remedio. De galinha então, só quando um dos dois estava doente. Vivia no escuro, a luz de lamparina, umas candeia escura, cheia de picumã. Dormia com as galinhas: antes do galo cantar, já estava tirando leite, enrolado num cobertor surrado, enterradas as canelas no barro do curralzinho, até o joelho. Dali, tirava uma tarefa de cinco varas duma roça de milho tiguera, dum chão pedregoso, em antes de fazer o magro almocinho, o feijão fervendo na panela de ferro. De longe, o ruido metálico da enxada sem corte, tirando fogo nas pedras redondas. Deixava a casa escancarada, pra todo mundo ter idéia que o dono por perto: ladino que só.

amarga vida


Nos versos do poeta e cirurgião dentista, Beto Ornelas: Vida alheia vida feia vida cheia vida louca vida pouca vida toda vida tola vida a-toa vida boba vida porca vida torta vida morta vida amarga vida de farta vida parca amarga vida Magra vida mar de vida amar a vida Margarida

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS


Mas tinha lá seus modos dele de ficar horas cismando quando sentado na masca ou num tronco de coxo. Muito sistemático mas não tinha por habito reprovar conduta dos outros nem tinha soberba ou fazia pouco causo, nem repunava das coisas: não desdenhava pra poder comprar, antes, disfarçava um otimismo com as pequenas coisas da vida: -Maravilha! tudo azul, em cima. Ali naquele ermo, aonde sabe la que Judas perdeu as botas, contava suas máguas da ocasião de amarrar cachorro com linguiça, tempo do zagaia de gancho. O velho chorava as pitangas do tempo do onça e aquilo nem num era vida de gente: vida de cão danado.

verdadeiro capiau


De tarde apartava as vacas e depois ia pro paiol descascar milho. Fazia o fubá no moinho rustico de setilha e pedra de mó, misturarava ao soro pra tratar dos por porcos. Os porcos de mangueiro, viviam chorando de fome. Tratava com milho em espiga mesmo, sem descascar. Ele não era antipático nem nada, muito menos oferecido, tal e quanto esse povinho xereta que anda lamberetando a vida alheia, antes, uma pessoa sombria e taciturna. Nem era rastandor de mala, de que faz e acontece, mas uma pessoa sizuda; nem alcoviteiro e de mexericos de leva e traz, mas um homem recolhido e vergonhoso que preza as grandezas machas do verdadeiro capiau: homem de fala grossa e o proseado gutural e emotivo, manso e altissonante, sobretudo, que vive dentro dos preceitos de religião. Caseiro, um homem de levantar cedo, de dormir com as galinhas, não sem em antes de lavar os pés e comer leite com farinha.

Solteirão inveterado


Solteirão inveterado, embirrado, tirava leite dumas vaquinhas magricelas, os bezerros tambem magruços, tal e qual, do pouco leite deixado, mais por misereza do dono, um unha de fome. Do leite, fazia queijo pra vender na cidade: só que nos fins de semana, quase não aparecia, de tão sistemático. A restea, vivia reclamando das despezas: umas mingueras, constando até, que passava mal de boca. As roupas surradas e vestida sem passar a ferra de brasa, lavava num quarador com tabua de batedor num corguinho do fundo de casa perto duma mina d´agua. O sabão de pedra, preto de bola enrolada em palha de milho, ele mesmo fazia de dequadra de cinza de fogão e gordura rançosa de porco e os restos de pacuera, miudos e tripas de porco, sobrados da espremeção de toicinho. As carnes, conservava por semanas na gordura talhada, fritas e costuradas com linha. Fazia linguiça e chouriços de sangue de porco. Do leite desnatado em desnatadeira Alfa-Laval, extraia o creme para o fornecimento semanal a fabica do Bergander, das sobras, a manteiga batida em corote de madeira. O soro corria por uma bica, direto pro chiqueiro, onde chafurdavam uns poucos porcos tratados a lavagem e bosta dele próprio, de tão miseravel. Uma cordinha de gatos, bebia o soro até se fartar, os quatro pés apoiados nos dois lados da bica.

NUM ERSA VELHO NEM MOÇO


Nem se podia dizer que era velho de tudo: no dizer de todo mundo, uma pessoa entrada em anos, de meia idade, com muitos janeiros as costas e um ar de poucos amigos. Na feição magra, um ar de tristeza permanente, mas não reclamista da vida. Na cara magra, um papo insolente, inconfundivel, impossivel de um não não perceber o corpo estranho no primeiro relance: depois disfarça. Mas desses de bolinha, semovente, que sacode quando a pessoa proseia.

UM TAL DE ADOLFO VILELA


Vizinho dum Adolfo Vilela, homem de posses, um despotismo de terras montante do rio afora. Parente duns Iquitas, uma familiagem muito grande de gente dos Figueiredo da Divisa. Tinha o Joaquim Iquita, de nome Joaquim dos Santos , o João Marcolino ou Paulino e o Simeão e o resto dumas mulher solteira, muito antigas. Não era velho nem moço: miseravel de passar mal de boca, desses que comem bastante no almoço, pra se esquecer do jantar.

O velho encabulado.


Ali, aonde que a curva do rio Cabo Verde, barra do corgo Assunção, no corgo da bomba, terras altas do Cachapava, morejava o Rumãozinho, o seu nome dele de José Romão, mas de sobrenome incerto ou duvidoso de algum alguem saber correto como que chama o nome dele. Porcerto o nome não sabido, podendo que seje Agripino ou Afrosino, os parentes nenhuns pra dar informação de estado civil, nem certidão de pia batismal, nem um nada sobre sua pessoa dele. A bem da verdade, não importa sequer um nada. Consta que parente dos Umbelino da rancharia ou conão dos Beijo da Ponte Alta.

NA PESCARIA


A noitinha era a hora dos bagres e mandís, nos poções fundos dum sumidouro numa volta de rio. A traira, pescava nas vazantes ou nos remansos de rio largo. Ali, passava horas escogitando os misterios da vida. Os pensamentos avoava longe.

O CANHÃO


Capivara ele matava no carreiro com armadilha de canhão. Podia que tivesse bichas que arvoroçava de vez em quando, quando comia semente de abobora. Era chegadinho num parí pra pegar peixe, entancando o rio, que terminava numa esteira de carro de boi ladeada por caniços. Raro o dia que não encontrava uma piaba ou tabarana pro almoço, o mais era peixe pequeno, curimba, campineiro e tambiú.

O VELHO ERMITÃO


-Aquilo, nem num eram modos de falar com gente de cidade. -Ele não era opilado nem nada, mas podia que sofresse de forgo curto: sempre afadigado, uma ansiedade constante de estar sempre fazendo as coisas. Armava mundéu pra paca e tatu, construia chiqueirinho de estranha arquitetura, cheia de labirintos pra caçar os nhambus xeretas e dava tudo por um dia inteiro passado na espera de um estaleiro, girau de paca. Capivara ele matava no carreiro com armadilha de canhão. Podia que tivesse bichas que arvoroçava de vez em quando, quando comia semente de abobora

domingo, 24 de junho de 2018

O PARIO


Tende piedade da mulher no instante do parto Onde ela é como a água explodindo em convulsão Onde ela é como a terra vomitando cólera Onde ela é como a lua parindo desilusão.

domingo, 10 de junho de 2018

CHEDASVINTO É NOME DE GENTE?


Despediu e foi. No caminho foi que alembrou de mijar: bem que podia fazer o serviço lá no compadre mesmo, como sempre até disso esquecia. Foi aí que pensou: ara! bobagem, sô: vai chover mesmo, que precisão eu tenho de apear só para urinar, deixa molhar que a chuva lava. E num é que a chuva num veio: que papelão! Distraído de tudo foi que começou a perceber que o burrinho encurtava, estava quase pegando as orelhas do animal. Parou para apertar os zarreios, mas aí já estava dentro do corguinho, o burro fazendo bochecho e batendo a pata dianteira, brincando com a água. Molhou até as virilhas, apertou o burro e montou. Mas aí, já estava virado pro lado da casa do compadre. —Que jeito esse compadre? esqueceu o chapéu? molhado desse jeito o melhor é levar a minha capa ideal. Mas vê se presta mais atenção: já dava pra você ter chegado em casa, está perdendo o juízo da idéia? Chegar, chegou: mas aí já eram altas da madrugada, a mulher com pensão do paradeiro do Chedasvinto. Dormiu de roupa mesmo que já estava na hora de tirar o leite das vacas.

a égua é sua, o senhor que sabe!


Mas, dadas as circunstancias do momento, o serviço tinha de ser feito de qualquer modo, o preço ajustado de quinze mil réis no caso da égua pegar cria, não podia perder cobertura de jeito nenhum. E vá que vá, ajeita daqui, acode Dalí, o compadre, entusiasmado, principiou de ficar com palpite, o compadre já perdendo a compostura e se aproveitando da ausência do compadre. A comadre, vendo crescer aquele volume custoso de um esconder, perguntou sorrateira: —Uai compadre! o senhor parece que está querendo!... —Depende da senhora, comadre... —De mim não compadre: a égua é sua, o senhor que sabe!

PORQUE CÊ NUM VEIU ONTI, ONTI....ONTI


—É..., mas num tem precisão de ser hoje, comadre. Outro dia... —Ara compadre! ta parecendo criança: outro dia a égua já perdeu o vicio. Vamos lá no estaleiro, o jumento está La no cocho, até já percebeu a égua viciada, não está vendo a falta de semgracesa dele, rinchando daquele jeito? vamos lá que eu ajuda, num carece de ter acanho. E foram. O estaleiro era um escavado no chão, um rego pra compensar a natural diferença de nível dos animais, a égua geralmente muito mais alta que o jumento. Tinha tambem um passador de madeira para manter a égua presa e facilitar com uma forquilha a colocação da peça no rumo e nível correto: era um serviço muito constrangedor pro compadre mas corriqueiro para a mulher e as filhas do Chico Berto, encarregadas do serviço, quando o Chico não estava. O estaleiro era ademais necessário porque a égua deixava o jumento cobrir mas não gostava muito, dadas as proporções da peça e a judiação que o jumento aprontava, mordendo no cangote da égua

Eu fui na casa do tinga, o Tinga num tava lá


Ele muito respeitador ia ficar com a maior vergonha da comadre. Num demora a comadre aparece na masca dando pelo quadro do compadre puxando a égua pelo cabresto, ele na maior falta de semgracesa saudava respeitoso, a mão no chapéu, os olhos no chão. —Que pena que o Chico não teje em casa, compadre, mas apeie que num demora ele chega, deve de estar por perto caçando um garrote alongado pelas vargens, provável que atolado uma hora dessas: Vamos entrando que o café ainda está quente. —Deixa comadre, não tem precisão nenhuma nada: fica pr'outro dia, com mais vagar eu volto, o compadre pode que teje em casa. —Ara compadre! isso são modos de ver os amigos: até parece que não é de casa! está me parecendo que o compadre está com acanho de dizer pra que veio. Mas eu estou vendo tudo: é a égua? veio pra por com o jumento? —É..., mas É O MESMO QUE O TINGA TÁ

UM CAUSO CONSTRANGEDOR


Não demora uma semana e o Chedasvinto está de volta na casa do compadre Chico Berto, dessa vez evinha mais cedo mais em apoio do serviço de por a égua dele para cobertura do jumento do Chico Berto. Esse era o oficio mesmo do Chico, seu meio de vida, visto que tinha um jumento pachola, vindo lá das banda de Passatempo, um legítimo Pêga, produtor de bestas da melhor qualidade, o povo pondo muito cabedal no animal do Chico Berto. Na cancela foi que teve um pressentimento que quase fez ele virar nos cascos: —E se o compadre num não tivesse em casa, com que cara ele havia de dizer para a comadre da finalidade da visita? a égua mostrando claramente os sinais do vicio, bandeira do rabo alto nas costas.

pOLÍTICA CO p minúsculo


Siga os conselhos e tenha a certeza de que no fim acabar ajudando a si mesmo e a seus parentes, bem como a esta gente simples, na aparência, que parece acreditar em tudo que dizem, mas que no fundo são mais velhacos do que você pensa: eles tambem estão tentando melhorar a vidinha deles e esperando ganhar alguma coisa que no fundo são apenas migalhas. V em frente e boa sorte. Regra básica: "Não confie em excesso sobre a imagem que vocêˆ pensa estar criando na cabeça dos eleitores." vocêˆ, por exemplo, cria um perfil daquilo que imagina ser: -Sou um cara honesto..., cumpro o que prometo. -Tenho princípios..., não posso negar minhas convicções, sou sincero. -Eles acreditam em mim, não abro mão de minhas opiniões, não mudo de partido. -Não sei mentir... Isso tudo, são desejos daquilo que gostaria de ser ou afirma ser. O povo, entretanto ‚ que faz a sua imagem, ele ‚ o seu verdadeiro cliente, na acepção da palavra. Lembre sempre dos conselhos úteis:

TRATADO SOBRE A PEQUENA pOLÍTICA


-Sobre a aparência das coisas. Se você‚ um iniciante dessa nobre arte da política deve primeiro pensar um pouco, que a coisa não ‚ nada fácil. Vocêˆ vˆ um desses políticos da velha guarda e fica logo imaginando que ‚ uma boa carreira a seguir, mas tem l os seus percalços. Como dizem os conselheiros de pequena política: "Vocêˆ vˆ as pingas que eu bebo, mas não vˆ os tombos que levo." O que segue são conselhos, tirados da experiência.Muito mais um "Vademecum" dos procedimentos e posturas de um candidato a político, do que um tratado completo sobre o assunto política, como um livro teórico de verdadeira política, mas são regras básicas e tiradas dos mestres mineiros e nortistas dessa verdadeira arte de enganar o povo e ainda por cima fazer parecer que está ajudando.