terça-feira, 26 de junho de 2018

Carnes anciãs, malignas.


E do tal de rodizio, que dizer? Só impressão de fartura. No mais, carnes recompostas, ajeitadas, plastificadas. Preparadas, amolecidas por química, transformadas, transmutadas de segunda pra primeira. Aqueles horríveis coraçõezinhos enfileirados, os cadaveres sempre ofertados, sempre recusados e retornados. Tudo, aproveitado até o sumo, empurrados goela abaixo, impostos pelos garçons solícitos. Aquela coisa indecifravel, hamburgueres de hamburgueres velhos, refeitos, em escalas sucessivas de reaproveitamento: vegetal e animal de procedencia duvidosa de impossível reconhecimento, causo de temperos mistificadores,imitados do natural pela quimica de sabores. Molhos e liquidos para a decomposição das partes mais duras e para encobrir a velhice, as marcas do tempo inexoravel, escuros e esverdiados, convivendo com moscas e bacterias. Carnes anciãs, malignas. O cheiro forte do conservante. Carnes mumificadas, pelo formol, cores abstratas, gostos exóticos, irreconheciveis, feitos. O arroz duro, para parecer bonito e solto, desagregado, ou então parabolizado, maléfico. Precosido, emendados os pedaços menores. Feijão de vespera da vespera, tradicionalíssimo. As porções estranhas de polenta, vagens velhas, tomates acidificados, cansados de esperar.