terça-feira, 26 de junho de 2018

a conversa desbotada


Não existe mais assistencia pra o julgar, pra ficar impressionado com sua criação, com sua sentença judiciosa. Como diz o velho amigo Zé Muniz: fica que nem velho a-toa, que só tem serventia pra informar. Ouvem educadamente, com atenção, mas procuram de não chegar perto, se afastar de sua velhice contaminosa. Qualquer coisa que faça, é julgada como natural, que é assim mesmo, proprio dum velho: o que se podia esperar. Pouco importa pra eles. Logo deixam a cena, fica o velho com sua ranhetice e a sua esclerose cansativa, a enfisema, o alzeimer, a tosse repetitiva: isto sim cala fundo. Uma fina lembrança, um travo na boca, um gosto amargo, um nó na garganta: o recolhimento, a entrega do seu eu, próprio e intransferível. O que sente mais é quando vira um chato, quando o que diz parece grego, só entendido por meia duzia de gatos pingados. Quando já não faz mais sucesso, a não ser pelas virtudes negativas. O que doe fundo é quando começa ser revenrenciado, consultor de problemas academicos, pra fazer outros jovens brilharem. Quando perde a audiência, ou quando a vós soa autoritaria e estridente e vira vulto histórico. Quando começa a ser analizado julgado e denunciado pelo que não tem de juventude: a pele lisa e cheirosa, o riso franco dos inocentes, a falta da ironia, da malicia e mordacidade. Quando ajornado aos tempos novos, fica ridículo, como um palhaço, vestido de roupa berrante e o tenis extemporaneo. Se principia de contar uma historria, logo acham a conversa desbotada e aí que ele fica apaixonado.