Foi ajuntando animais, não cabia mais no pastinho: teve de arrendar. A notícia corria solta: ele comprava de tudo. Gente apertada por causo de diudas, procurava o Tiatonho. Ele, com as mãos cheias de mercadoria, mostrava pouco interesse, não por astucia nenhuma nada, apanhava criação na bacia das almas, apurava um dinheirão. Fazia negócio no estalo, tinha peito ou porque não atinava com o verdadeiro valor das coisas. Surprendia o vendedor já quase disacursuado do negócio. Nunca que num deixava uma rês sem oferta, pra não ofender, não trazer malquerença. O outro apertado acabava dispondo, por necessidade. Ficou sendo o comprador único, todos procuravam, que sabia o modo dele: não era embuchado, desempatava negócio. Muito placiano, principiou de prosperar e num dar conta do que tinha: teve de arranjar um guarda livro. Analfabeto de pai e mãe, num trazia nada assentado: tudo de cabeça, principiou de embaralhar as coisas. Acabou ficando melhor, que os outros tinham a impressão de estar tapeando o coitado e a réstea, ele que ficava cabeceira.
Era afável, placiano até, como tem precisão e carece no ramo de breganhista. Um sujeito muito despachado, eles gostava do tipo. As veses mostrava uma cara de bravo, pra mostrar que serio nos negócios, mas só de mamparra, prosápia só, ratos de onça, que nunca fez mal pra ninguem, nunca que num bateu numa criança, nem judiou de criação, num fazia mal prum passarinho, que seje. Soava bem suas bravatas, ganhou confiança, pagava em dia os compromissos. Nunca que arrependia dum negócio, mesmo que mal feito, sustentava, nem que a poder de grande prejuizo. Essa a fama dele. Cria fama, deita na cama, como lá diz. Prosperou, melhorou de vida.
Cara de bravo que nada, só bravatas, uma exorbitancia de espalhafato: gestos largos, um ar de displicencia, não fazia questã de mixaria, mingueras. O sorriso arreganhado, mostra os dentes: todos de ouro recapados pra mostrar riqueza, o verdadeiro boca de ouro. Ralava os dentes quando começou de dar os primeiros sinais de demencia. cerrava fortemente os dentes, que ninguem não conseguia abrir, nem a poder de reza brava, quando alheado, em convulsão. Ficava gira e espumava o canto da boca, babava de raiva e gritava chavões.
—peidou garapa, peidou dereito!
mas quando andava bom da cabeça, vivia acompanhado duma colondria de desocupados, marreteiros de pequenos negócios, comissões insignificantes, umas grojas, quando não, intermediando negócios pela comida nos bares, e pelo simples prazer de ver ele fazer negócio, por indicação, uma rebarbas.
Comprou terras adoidado, ampliou os negócios de gado muito, até num dar conta, estava rico. Mas nada ficava escriturado. Foi aí que começou a perder a noção exata do andamento das coisas. Não dava conta de saber de tudo que tinha. Virou confusão, um verdadeiro cu de boi, as coisas tudo espandongada pra todo lado, sem relacionamento, o povo principiaram de aproveitar da situação. Alguem tinha que tomar conta das coisas, o volume muito grande de negócios, mas por incrível que pareça, ainda ganhava rios de dinheiro. Alguem para relacionar, assentar em cardenetas, fazer apontamentos: um guarda-livros, o certo era esse.
Sem cautelas nenhuma ia comprando. Principiou de separar e colecional objetos, garrou de panhar amor nas bugigangas: um jacá de canivetes enferrujados, faquinhas, garruchas, balaio de espingardas, relogios: de alqueire misturados a despertadores imprestaveis. Foram ficando escassos os objetos de trama, os disponiveis empoçando na mão dele. Aí que principiaram de ganhar valor os objetos e os seus pertences como zarreios, qualheiras, chinchas, futricas, quinquilharias, caixas de botões, pregos velhos Ele sempre ganhando nas tramas: um misterio sem explicação, ia ver, os objetos na mão do Tiatonho. Ficavam todos num cômodo grande, especie de venda, de comercio de verdade. Pra achar as mercadorias um assunto dificultoso, que tinha que andar por cima das mercadorias, só ele sabia o paradeiros das coisas, sua memória infalível. Mas principiou de fraquejar, os seus primeiros esquecimentos, lerdeza. Comprava estoques, fundos de negócio, liquidações, arremates de leilão e salvados de incendio e de massa falida.