segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CANTIGA


Aí, ele recuou prum canto, amuado. Se encolheu num canto triste, uma cantiga de ladainha, gungunava. Ficou entoando cantigas tristes, dos tempos de outrora, não mais escutadas em o nenhum lugar, antigas, de muito que antigamente, passadas no oco tempo. Nenhum ninguem num tinha que num ia de dar ouvidos pelas prosas sonsas dum velho imprestavel, ancestrais. Alguns velhos mineiros fazem isso sempre. um recolhimento profundo, o olhar pra dentro, trespassado da lembrança toda do tempo feliz da vida. Um olhar de bondade, esperançoso. O gesto pequeno, sem exagero de rompancia nenhuma nada, maneiro de nenhuma agressividade, ar superior mas tímido, na desimportancia de enorme grandeza. Está sempre pensando na gente sua e nos seus trens. Uma imensa bondade, nos seus olhos tristes de velho. Nunca que brigou. Jamais bateu em ninguem, muito menos num passarinho que seje. Sempre bom, a prosa muito mansa, esperando a vez com paciencia. De seu, o que tem é nada: só trapos, bugigangas. Guarda só lembranças. E no entanto, seu ar é sombranceiro, majestoso até. O terninho de brim, digno e limpo, solene e aprumadinho todo todo, de chapéu. As mãos asseadas, unhas aparadas a canivete, com cuidado e lento.