segunda-feira, 17 de setembro de 2018

DISACURSUADO


Ele sempre fazia isso: o recolhimento por uns dias no hospital, por ordem médica, pra recompor. O efeito dos medicamentos o distanciava do mundo. Principiou de gostar da brincadeira, começou de amiudar, passaram a tres, quatro dias, o retorno à normalidade do dia a dia, foi se tornando penoso. A perda do interesse pelo contato com as pessoas, cada vez mais mergulhado dentro de si mesmo. Os negocios, paralizou alguns. um passo a frente, dois atraz. Desmobilizou. A esclerose multipla, o gosto pelo afastamento, natural. Aquilo, um flagelo, um sanapismo. Aquele era um sertão, um lugar triste, um ermo, um fim de mundo esconso, sem fim, perdido no meio do vazio petrificado. Do que ele fica triste e disacursuado, não é com a velhice física, o entrevamento, a falta de mobilidade, quando os menores gestos ficam custosos, como levantar dum banco: por isso não sai pra fora de casa, fica só, só fica quentando fogo, em noites que não tem nunca fim. Nem com a surdez, a perda dos dentes, a careca, o mau halito, o cheiro de velho, das feridas, as recorrencias, nada disso: ..., isto até que passa. Começa até a encontrar prazer no descansar os ossos, cismar silencioso, podendo ficar isolado, só e seus pensamentos, a cabeça livre de vagar por territorios longínquos, vasculhando reservatorios profundos da lembrança. Buscar fatos antiquíssimos, de muita vangloria, uma lembrança fina de coisas gostosas da infancia distante, da remota mocidade