Fonte inesgotavel, caudalosa, geradora matriz de outras mulheres generosas, impolutas, incorruptíveis. Puras. Velhas senhoras, de santa virtude, santuarios de grandeza indestrutível.
As comidas.
De primeiro, a gente tinha ainda uma certa dignidade no ato de comer: um ato individual, muito solene, intransferível, ainda que fosse o indevectível prato feito, de mudo, aquela montanha escarpada de arros e feijão, ajeitada com extremo cuidado pra não ruir as beiradas, não desmoronar numa avalanche perigosa. Ao l ado arroz, a lagoa substanciosa de feijão, grosso e caudaloso, os grãos submersos pela calda brilhante. Comido vagarosamente pelas beiras, desocupando o lugar para criar uma praça de manobra das misturas que iam chegando aos bocados, ou ao tombo dalguma abobrinha ou torresmo. Coroando toda aquela arquitetura inabalavel, o ovo frito chapado, equilibrado por cima da couve rasgada, a farinha molhada pelo suor do frango e do lombo. O garfo cheio, equilibrando aquela tentação, a boca cheia, a prosa pouca, os silencios:-do que mesmo, morreu teu pai? ...de repente! Nenhum ninguem num fala um a, a barriga quentinha, o rubor subindo as faces. Garfadas consecutivas e no rítmo certo, pra evitar o embuchamento e o soluço inevitavel nestas condições, sempre o risco de algum novo desmoronamento. Por fim a saciedade, a plenitude. Um pouco dos escombros daquela magnifica estrutura ficando pra volta do dia. O café, sorvido aos goles na boca da garrafa e o ritual de fazer o cigarro de palha, a plenitude o escarrapachamento, o lado bom da vida: as prosas, os causos, a satisfação da vida simples. Um pouco da agua da cabaça entornada, a limpeza dos dentes, os últimos retoques. O repouso merecido pra ganhar folego pro resto da labuta. Vidas simples, produtiva, o suor refrescando o pescoço e o peito. O subaco. O caldeirão profundo cheio até as bordas, a pesca silenciosa da serraia, o margume medicinal, agora reduzido ao restolho e escombros da investida.