quinta-feira, 21 de setembro de 2017

TRATADO DE PEQUENA POLÖTICA.


-Sobre a aparência das coisas. Se você‚ um iniciante dessa nobre arte da política deve primeiro pensar um pouco, que a coisa não ‚ nada fácil. Vocêˆ vˆ um desses políticos da velha guarda e fica logo imaginando que ‚ uma boa carreira a seguir, mas tem l os seus percalços. Como dizem os conselheiros de pequena política: "Vocêˆ vˆ as pingas que eu bebo, mas não vˆ os tombos que levo." O que segue são conselhos, tirados da experiência.Muito mais um "Vademecum" dos procedimentos e posturas de um candidato a político, do que um tratado completo sobre o assunto política, como um livro teórico de verdadeira política, mas são regras básicas e tiradas dos mestres mineiros e nortistas dessa verdadeira arte de enganar o povo e ainda por cima fazer parecer que está ajudando. Siga os conselhos e tenha a certeza de que no fim acabar ajudando a si mesmo e a seus parentes, bem como a esta gente simples, na aparência, que parece acreditar em tudo que dizem, mas que no fundo são mais velhacos do que você pensa: eles tambem estão tentando melhorar a vidinha deles e esperando ganhar alguma coisa que no fundo são apenas migalhas. V em frente e boa sorte. Regra básica: "Não confie em excesso sobre a imagem que vocêˆ pensa estar criando na cabeça dos eleitores." vocêˆ, por exemplo, cria um perfil daquilo que imagina ser: -Sou um cara honesto..., cumpro o que prometo. -Tenho princípios..., não posso negar minhas convicções, sou sincero. -Eles acreditam em mim, não abro mão de minhas opiniões, não mudo de partido. -Não sei mentir... Isso tudo, são desejos daquilo que gostaria de ser ou afirma ser. O povo, entretanto ‚ que faz a sua imagem, ele ‚ o seu verdadeiro cliente, na acepção da palavra. Lembre sempre dos conselhos úteis:

Nóis é que semos raça de gente larga mesmo


O CASÓRIO E foi então que se deu, já meio maduro, o casamento do Chedasvinto. Tinha de assentar o juízo da idéia, o Chedasvinto meio chegado numa cachacinha, vivia só de pagodeira e narquiada: um dia ele tinha que tomar juízo e assentar a cabeça, o compadre sempre aconselhando. Chegado o dia do casório, o chedasvinto encheu uma garrafinha de pinga e deixou debaixo da cama do casal, causo tivesse precisão de coragem na hora do vamos ver. Nem bem terminada a cerimônia, o casal dos dois já foram pra casa do sogro, como era costume naquele tempo. Claro que foram dormir cedo, a sogra vigilante ficando de espreita, os ouvidos colados na porta do quarto do casal deles dois. Antes mesmo de tirar a roupa de festa, aquela coisa custosa de desvestir o vestido de noiva, o Chedasvinto, pra ganhar confiança, aproveitou do momento e levou a mão por baixo cama a procura da garrafa de pinga. Vendo que estava pela metade, bradou furioso: —Uai gente! Mexeram aqui! como que pode? —Calma Chedasvinto!... Nenhum ninguém não mexeu nada não: nóis é que semos raça de gente larga mesmo, não preocupa não.

A égua é sua, o senhor que sabe!


UM CAUSO CONSTRANGEDOR Não demora uma semana e o Chedasvinto está de volta na casa do compadre Chico Berto, dessa vez evinha mais cedo mais em apoio do serviço de por a égua dele para cobertura do jumento do Chico Berto. Esse era o oficio mesmo do Chico, seu meio de vida, visto que tinha um jumento pachola, vindo lá das banda de Passatempo, um legítimo Pêga, produtor de bestas da melhor qualidade, o povo pondo muito cabedal no animal do Chico Berto. Na cancela foi que teve um pressentimento que quase fez ele virar nos cascos: —E se o compadre num não tivesse em casa, com que cara ele havia de dizer para a comadre da finalidade da visita? a égua mostrando claramente os sinais do vicio, bandeira do rabo alto nas costas. Ele muito respeitador ia ficar com a maior vergonha da comadre. Num demora a comadre aparece na masca dando pelo quadro do compadre puxando a égua pelo cabresto, ele na maior falta de semgracesa saudava respeitoso, a mão no chapéu, os olhos no chão. —Que pena que o Chico não teje em casa, compadre, mas apeie que num demora ele chega, deve de estar por perto caçando um garrote alongado pelas vargens, provável que atolado uma hora dessas: Vamos entrando que o café ainda está quente. —Deixa comadre, não tem precisão nenhuma nada: fica pr'outro dia, com mais vagar eu volto, o compadre pode que teje em casa. —Ara compadre! isso são modos de ver os amigos: até parece que não é de casa! está me parecendo que o compadre está com acanho de dizer pra que veio. Mas eu estou vendo tudo: é a égua? veio pra por com o jumento? —É..., mas num tem precisão de ser hoje, comadre. Outro dia... —Ara compadre! ta parecendo criança: outro dia a égua já perdeu o vicio. Vamos lá no estaleiro, o jumento está La no cocho, até já percebeu a égua viciada, não está vendo a falta de semgracesa dele, rinchando daquele jeito? vamos lá que eu ajuda, num carece de ter acanho. E foram. O estaleiro era um escavado no chão, um rego pra compensar a natural diferença de nível dos animais, a égua geralmente muito mais alta que o jumento. Tinha tambem um passador de madeira para manter a égua presa e facilitar com uma forquilha a colocação da peça no rumo e nível correto: era um serviço muito constrangedor pro compadre mas corriqueiro para a mulher e as filhas do Chico Berto, encarregadas do serviço, quando o Chico não estava. O estaleiro era ademais necessário porque a égua deixava o jumento cobrir mas não gostava muito, dadas as proporções da peça e a judiação que o jumento aprontava, mordendo no cangote da égua. Mas, dadas as circunstancias do momento, o serviço tinha de ser feito de qualquer modo, o preço ajustado de quinze mil réis no caso da égua pegar cria, não podia perder cobertura de jeito nenhum. E vá que vá, ajeita daqui, acode Dalí, o compadre, entusiasmado, principiou de ficar com palpite, o compadre já perdendo a compostura e se aproveitando da ausência do compadre. A comadre, vendo crescer aquele volume custoso de um esconder, perguntou sorrateira: —Uai compadre! o senhor parece que está querendo!... —Depende da senhora, comadre... —De mim não compadre: a égua é sua, o senhor que sabe!

Chedasvinto e a tribuzana das brabas.


PARLAROSPIROSE O Chedasvinto, ele era um homem prosa : todo mundo gostava dele pelo seu jeito placiano de prosear. Ele não era ruim nem nada, mas um defeito ele tinha: era lerdo de tudo. —O Chedasvinto?!...êta caboclo bom, o povo falam, mas difícil para pagar conta. Não é que ele faça de caso pensado, para levar vantagem, mas tem vez que ele esquece até as conta que era credor. Dizem que foi atingido de raio em criança, por isso que as vezes fugia a idéia dos pensamentos da cabeça. Gostava era de arrear o burrinho e fazer visitas demoradas, assuntando pequenos negócios, mas no decorrer do tempo acabava perdendo o fio da meada: um causo difícil de lidar, quando o povo perdiam a paciência com ele. Lá ia estrada fora, o burrinho de tão mestre que ia abrindo as porteiras em rumo incerto, o objetivo nenhum: ia pra onde o vento leva, os pensamentos avoando longe. Chegar, chegava, não se sabe onde. Portava uma folhinha surradas, se perdia em datas e retratos de santos. Decerto de lá foi a mãe tirou o nome estrangolado que chamava ele: custoso de acreditar mas, as famílias muito grandes, vocês faça uma idéia: assim era o costume. Duma vez, ele estava na casa do compadre dele, o tempo passando, se fazia tarde e nada do Chedasvinto tomar a iniciativa de se ir s' ímbora. E não é que lá pelas tantas, depois de já ter jantado fazia tempo, pensou, ele mesmo,de advertir o compadre: —Não é por nada não compadre, mas não acha que vai chover? O tempo azangado de tudo, os trovões e coriscos fazendo prever tribuzana das brabas. —Óia compadre, se quiser pode bater pouso, faço questã, mas se tem compromisso, melhor ir se apressando que já está chuviscando, a distancia não é perto, emendou o Chedasvinto. —Quem tem de apressar é você compadre, pois saiba que você é que está na minha casa: eu estou belo e folgado, daqui a pouco estou roncando, que preciso levantar cedo para tirar o leite. agora você,... se quiser que apresse se não quiser pegar constipação: um defluxo nessa tua idade não é brinquedo, você bem está ao par. —Uai compadre! e não é que é mesmo, o burrinho arreado, cansado de esperar, coitado, fino de fome e sede na fiúza do Chedasvinto. Despediu e foi. No caminho foi que alembrou de mijar: bem que podia fazer o serviço lá no compadre mesmo, como sempre até disso esquecia. Foi aí que pensou: ara! bobagem, sô: vai chover mesmo, que precisão eu tenho de apear só para urinar, deixa molhar que a chuva lava. E num é que a chuva num veio: que papelão! Distraído de tudo foi que começou a perceber que o burrinho encurtava, estava quase pegando as orelhas do animal. Parou para apertar os zarreios, mas aí já estava dentro do corguinho, o burro fazendo bochecho e batendo a pata dianteira, brincando com a água. Molhou até as virilhas, apertou o burro e montou. Mas aí, já estava virado pro lado da casa do compadre. —Que jeito esse compadre? esqueceu o chapéu? molhado desse jeito o melhor é levar a minha capa ideal. Mas vê se presta mais atenção: já dava pra você ter chegado em casa, está perdendo o juízo da idéia? Chegar, chegou: mas aí já eram altas da madrugada, a mulher com pensão do paradeiro do Chedasvinto. Dormiu de roupa mesmo que já estava na hora de tirar o leite das vacas.

EXPRESSÕES DE MINEIRO QUANDO ESTA COM RAIVA


EXPRESSÕES DE MINEIRO QUANDO ESTA COM RAIVA -Aonde já se viu uma coisa dessas? passa já pra casa. Vê se não torna noutra, faça me o favor. Tenha a santa paciência. Tem dó. -Volta e meia ele vinha com a idéia de fazer sombração pros outros. Cadê a rompância. Agora finge de morto, o resto é prosa. Prosear amigo é jeito de passar o tempo, a vida: a gente vai levando com as graças de Deus, que nem tudo são flores. Pra quê tanta pressa rapais. Me larga, me deixa, vai pentear macaco. - Vê se tem proposta! está mais é com o abacaxi fervendo. Quer me dizer que presta? e foi aonde que não deu certo. -Cada coisa em seu lugar: cada um com sua mania. Jeito tem. Carece de ter paciência. Espera a hora e a tua vez. - quê que foi que eu te fiz pra me dar uma resposta dessas. -Quem que ia pensar. Quê que vão pensar. Quanto me dão pela prenda? quase que não vale nada. Quê que é isso, sô? -Deixa de lero. Ara sô! isso são modos duma pessoa de fino trato. Precisava de responder desse jeito? tenha modos, menino. Agora você que r dizer que não sabia? Aonde que eu tava com a cabeça de falar uma coisa assim. tenha dó. Pelo amor de Deus. -Com coisa que não sabia, ara!! sabia que ele vinha isso sabia. Vinha com coisa que não sabia de nada, fazendo de desinteressado e desentendido, jogando o verde: vamos parar de prosear?! -Deixa de prosa rapais, isso não esta direito: me deixar nessa situação. -Comeu o pão que o diabo amassou. Fez de tudo pra não perceberem disfarçou, descobriram. -Birra à-toa de criança. Catava graveto e chaleirava o patrão. Diga que não! -Espera pra ver no que vai dar. Vê se me esquece. Caçava jeito de esconder a feiúra da cara, mas o papo aparecia de improviso. -Já que fez, leva: liga não. logo vem. -Mais perto chegava menos avistava. Mais dia menos dia eles vão cobrar. -Mostra, que eu quero ver. Me deixa em paz. Não me venha com essas prosas de mercador que eu não estou te merendando. Vigia só! Não te enxerga praga, flagelo! Já pensou? ô gente! Para com isso, te peço pelo amor de Deus. desse jeito vão pensar que estou com medo. Zápete Zápete. Zanga, zelou. -Agora, eu já nem falo mais nada! não está aqui quem falou. Quem avisa amigo é. Estou no fundo do pito, quase que com um pé na cova: como que vou trabalhar pra valer!

O SUFRAGANTE , ESTOPORO


O SUFRAGANTE , ESTOPORO Foi a coisa mais estrangolada quando deram com aquela coisa, uma quizumba de mãe e filho, grudados, engastalhados um no outro, o Jucamancio mais cabo Anésio e o Tenente Miquilino, pra uma busca e apreensão dumas leitoas e dum gado roubado no sertãozinho. Encontraram eles dois, de madrugadinha, a velha enroscado no filho, indecorosa, toda desgrenhada, gemendo de goso, debaixo do rapais. filho dela. A bunda branca do tal, o bufante pra cima remexendo, chacoalhando, babando de gosto. Fazia força e suspirava de gosto, animal selvagem, atolando aquela coisa dentro da mãe. A mãe, velha, não querendo parar com a coisa. O Rapais enfiou com gosto, enterrou mais a peça, e gemendo fundo,semelhava um cachaço. Caiu prum lado deixando aparecer aquela coisa monstruosa, ainda meio zambe-zambe, querendo mais. Difícil apartar, que nem que trepada de cachorro, parecia que tinha um nó, a maior falta de sem-vergonhice deles dois. O dedão do pé ainda enterrado no colchão de palha. Os outros sabia da coisa mas num davam confiança. Eles estava era no quarto da irmã, fazendo bobage, um esperando o outro de findar o serviço. Ia na sopa, na maior falta de asseio. O pai, esse morreu de desgosto, que era homem sério, não gostava de trampolinagem nem de falcatrua e mau procedimento. Mas já tinha se dado de acontecer coisa pior, de pai ficar com a filha dele e fazer uma outra filha nela enxertando que vingou. Por derradeiro ficou com a neta e vingou um mostro estrangolado, um bicho esquisito da pele glabra, escura, uma gosma cobrindo, rachada ,os vincos carne viva, que nem terreno de argila, barro de vargem quando faz seca. Graças bom Deus que não vingou definitivo, morreu do mal de sete dias, que se vingasse ia de ser a coisa mais feia desse mundo.

Exímio farsante


Exímio farsante, de quem só tenho ouvido impropérios. Coisas de doido, de pouco siso: -Disso, pouco, posso dizer, tenho escutado. Ouço dizer, dessas grandezas, como se escuta, desses louvores de poções homeopáticas, mas pouco proveito tiro dos resultados. Modesto de ares, pouco afeito a grandiloqüência, aos gestos largos, desprendidos, um homem de poucos dotes intelectuais, mas de oratória persuasiva, eletrizava, mesmo não dizendo coisa com coisa, apenas a vós embargada pela comoção do momento, empolada, de agudos tonitroantes e de baixos graves, soturnos, comoventes. Argue-se que atrabiliario, insigne intrépido. Bebeu água da bilha, o bisca, o degas. Documento não tinha. Falaram que falaram, num diantou de nada: o remédio que teve foi mandar pro hospício. Contar, contou, fizeram de tudo, encrenca da grossa. Ficou mudo num canto cismando. Tudo num passa de mamparra, um jeito de esgueirar, escapulir, de desconversar, igual gato. Roçando, garatujo. Ficaram ali de mandriagem em colondria de vadiagem. Dizendo graça sem graça, um querendo de pegar o outro, nos jogos de puia. Escuta a fala dos bichos, as conversas, o colóquio dos bois segredado. Isso é coisa dele, do seu feitio, esbodegado. A supremacia da idéia , personagens antigos( os loucos), discutindo assuntos, idéias modernas. Encontram o Robô moderno no manicômio e principia a farsa.

Asinus asinum, fricat.


compadre , muito ressabiado, o outro consola: -Bestagem tua compadre, hoje usa isso. Até as mulher vai no doutor pra ele olhar dentro delas, já imaginou. Deu pó pra dar com ele no médico. Teve um, que vendo o médico apalpando e perguntando, garrou de ficar ansiado, o doutor descendo as mão pra partes intimas, falou: -óia aqui, doutor: melhor eu apalpar e o senhor vai perguntando, tá bom? Agora, o negócio que eles fala do doutor enfiar o dedo no toba da gente, isso é bestagem, ninguém num liga mais. Quando o compadre voltava, com a cara mais triste desse mundo, arrastando as pernas entreabertas, o outro , com os olhos brilhando duma malícia velhaca, foi logo perguntando: como que foi? -Pode ter doutor mais porcalhão? acho que o doutor esse, fez bobage comigo. -Num importa não compadre, a gente acostuma com tudo. O pior é a gente gostar da coisa: acaba gostando. Já viu falar do tal de cunex? É bão, no começo a gente estrada, mas depois gosta. O pior que é que pode ficar gostando, e aí, já viu né: fica desmoralizado. Quotas partes, alíquotas, similia similium. Asinus asinum, fricat. Vergastado ao peso dos janeiros, trazia sobre os ombros o peso dum fardo terrível. Jamais nada provado numa situação tão constrangedora, do tempo do onça. A volta do renegado, famigerado, um homem impostor, impositivo. Sistemático e regrado, seguro o miserável. Vivia de passar medo e de assombrar os outros. Tinha uma historia do arco da velha, do tempo do onça: tempo de amarrar cachorro com lingüiça ou de zagaia de gancho. Repunava aos outros. -Fala, não para: eu te pago pra dizer palavras. Vamos! Palavras, palavras..., nada mais que palavras: "Palavras chulas, inócuas, palavras de honra, palavra de rei, que não volta atrás. Sempinternos, misantropos, de olhares rubros: redutio at absurduum. ao zero e ao infinito.A expressão mais simples reducto. Calcanhar de Aquiles, aquilo num era pra menas importância. Subterfúgio dos velhacos anacrônicos. Penduricalho, peremptório.

Receita pra ficar invisível. De São Cipriano


Principiou de gostar de contar historias, o povo davam corda: foi daí que apanhou gosto pelo oficio de contador de causos. Mas não eram histórias simples, causos de assombração, senão que histórias maledicentes, cheias duma malícia caipira de quem fala grosso, pausado, encobrindo a vergonha. Um homem miúdo, inexpressivo, duma simplidade que dá gosto, mas reconhecido um homem sincero, sem nenhum rique foque. Falava caçoando da sua pessoa dele, de sua simplidade, mas não gostava de pouco causo nem que duvidassem de sua palavra verdadeira: engraçado sem o querer dele de ser, jeito dele. Manso, falava engraçado, meio rouco, pra dar um ar de macheza, firme, uma arrogância calculada pra produzir efeito de confiança, mas não pra se fazer de si engraçado: -De qualquer jeito que vim, eu traço. Comigo, nem tem tico inchado. Falo o português claro: num tem mais nem meio mais: falei, ta falado, no pau da peroba. Carregavam suas vidas miúdas, como pesados fardos às costas. Essa, a história do fazendeirinho Quinquinca, o vurgo dele do nome correto de Joaquim Serafim dos Santos, suas artes e suas maldades. Diziam que tinha outro dentro dele: tinha o Diabo no corpo. Era um pândego, mas mau, tinha veneno nos olhos da cara, mal de nascença. Tudo, pra fazer pouco causo da sua pessoa dele, pondo em duvida a macheza, denunciando fraquezas de macho nos jogos de puia. -Podia tanto chover! e o tanto que eu ia gostar? Porque foram brigar num sei: eles era bem dizer parente. Fato é que brigaram, num pararam mais até hoje. Não foi uma nem duas. Briga de tirar sangue, de vazar a barriga e por pra fora as barrigadas. Brigavam até alta madrugada se não tivesse um cristão por perto pra apartar. A cara deles, um inventário de maldades. Garraram de imaginar que podiam fazer trampolinagem a torto e a direito, caíram na esparrela, caíram com a boca na botija. Folhetim de baixa literatura, o escritor eventual, bissexto. Quando instado a dizer qualquer coisa, não se fazia de rogado, rompava, rastando malas, caçava modos quando pego de calças curtas, saia com uma frase de desdém: -Num há como a situação do indivíduo, nem como as grandezas macha, muito embora que fosse perseguido pela policia. Uma afirmação óbvia, sem nexo certo, só pra escapulir da situação. -Não tem ensinamento nem conselhos: só de remédio. Serve pra mostrar a vidinha comum do povinho da roça, a falta de semgracesa das cidades pequenas, reduzidas a mesmice de sempre do diário da vida. Não é livro de religião, mas tem receitas diversas. Reza pra tirar deslumbramento. Receita pra ficar invisível. Cantiga de amor sentido. Causos de assombração e de morte estranha. Tem trovas de safadeza. Tem caçadas e jogos de puia. Tem crime perfeito. Tem o mistério do encoberto. Simplidades

HIHISTÓRIAS SAFADAS


O ABC do Valentão Galante namorador, coleção de historias impróprias pra de menores, safadistas. Folhetim de baixa literatura, o escritor eventual, bissexto. Gente instruída não deve de ler, num tem o que preste. Causos comuns de macheza caipira de gente da roça. Bestagens. Sem o nenhum propósito nada de engrandecer a pessoinha de nenhum ninguém nada não, ou de quem quer que seje. Quando pego de calça curta, numa caçada maldosa, saia de fino com rompantes de desdém: "num há que cumo a posição do individuo de grandezas machas, muito embora que perseguido da polícia. Afirmação sem nexo, pra escapulir duma situação constrangedora. Mas são histórias que não tem nenhum ensinamento de moral ou de procedimento, nem conselhos, que se fosse bom, ninguém dava: vendia. A vida dos outros, sagrada, nenhum tem de meter o bedelho. Pra mostrar a vidinha comum, sem graça nenhuma do povinho da roça, ou das corruptela. Pequenas cidades. reduzidas a mesmice de sempre, do quotidiano do diário da vida. Não é livro de religião, que não se discute, mas tem lá suas receitas de rezas: -Pra tirar deslumbramento e pra ficar invisível, das historias do livro safado, do santo hereje: São Cipriano. -Tem trovas de safadezas, caçadas e jogos de puia. -A historia do sujeito que enlevou com a moça, tem o encantamento com a palavra escrita que acabou por fazer dele uma pessoa deslumbrada.

Um João ninguém, sem eira nem beira

Um João ninguém, sem eira nem beira


Tudo passa na vida. Passa a vida passando que a vida é passar. "na vida tudo é passageiro, de menos o cobrador e o motorneiro." Um belo dia causa espécie, não aparece. Com certeza o derrame, o braço esquecido. Do serviço ele esquece que fica sem velho. Os problemas: nenhum, velhos sempre haverão a espera da vaga. A velha coitada nem fica sabendo. Outro dia a vizinha que vem com a notícia: "velho indigente encontrado morto é recolhido ao nosocômio do estado, Instituto médico legal. Um João ninguém, sem eira nem beira: nunca teve inimigo nunca teve opinião. Idade não tem, nem sabe ao certo, nas marcas do rosto, as dores da vida: Como única certeza, apenas a morte que ronda por perto. Sem qualquer aviso prévio, qualquer dia ela vem e acabou se o brinquedo. Como rês desgarrada: só na multidão, boiada, caminhando a esmo. Homem comum, incomunicável faz tempo. Não tem nada a dizer, nem nunca teve opinião. Incomum, sua marca registrada a vulgaridade: um homem ao pé da letra, só, um homem sozinho, com seus botões. Da vida, só colecionou amarguras.

"Vende-se ouro, paga-se bem: Rua Direita número 100.


Homem sem face, retrato mudo de uma existência despercebida. Como um filme virgem, vazio, espetro, como mula sem cabeça. A vida passou, passando de lugar para outro, sem destino certo. Pela vida, passou em brancas nuvens, no dizer do poeta. Vai, onde uma roda de camelô: o homem da cobra e suas poções milagrosas, o remédio infalível pra calos. Passeia pela vida sua indumentária double-face: Duas placas incômodas, os dizeres monótonos: "Vende-se ouro, paga-se bem: Rua Direita número 100." Amigos: não tem. Se atrasar não volta. Ou dorme no albergue ou num vão de porta, num catre, Embaixo da escada, onde faz moradia. De seu, trastes velhos, bugigangas. Na volta do dia passeia feliz: com sorte um pingado ou encontra uma sopa, na Casa André‚ Luiz. - Tudo passa na vida. Passa a vida passando que a vida é passar. "na vida tudo é passageiro, de menos o cobrador e o motorneiro." Um belo dia causa espécie, não aparece. Com certeza o derrame, o braço esquecido. Do serviço ele esquece que fica sem velho. Os problemas: nenhum, velhos sempre haverão a espera da vaga. A velha coitada nem fica sabendo. Outro dia a vizinha que vem com a notícia: "velho indigente encontrado morto é recolhido ao nosocômio do estado, Instituto médico legal. Um João ninguém, sem eira nem beira: nunca teve inimigo nunca teve opinião. Idade não tem, nem sabe ao certo, nas marcas do rosto, as dores da vida: Como única certeza, apenas a morte que ronda por perto. Sem qualquer aviso prévio, qualquer dia ela vem e acabou se o brinquedo. Como rês desgarrada: só na multidão, boiada, caminhando a esmo. Homem comum, incomunicável faz tempo. Não tem nada a dizer, nem nunca teve opinião. Incomum, sua marca registrada a vulgaridade: um homem ao pé da letra, só, um homem sozinho, com seus botões. Da vida, só colecionou amarguras.

PAISAGEM URBANA, O HOMEM ANÚNCIO


O homem anúncio: reclame ambulante. Simulacro de gente. Só um homem, um homem só na multidão e suas circunstancias. Só e somente na multidão ele pode anunciar. Tímido, ele observa os outros que nem o percebem. Lá vem triste o triste homem em sua indumentária de madeira, Armadura ridícula, suspensa dos ombros. As marcas no rosto, as dores da vida. Quero morrer simples, só morrer de dor: morrer deitado com muita honra e os parentes por perto. Eu, só, só eu e minha língua. Quando eu era criança meu pai me dizia: filho: a vida‚ uma merda. Não se pode dizer que tenha amigos, uns poucos gatos pingados e assim mesmo escasseando com o tempo, a ranzinzisse chegando com os janeiros às costas e já meio entrado em anos. Amigo tem, mas não íntimos, que o cidadão tem direito as suas reservas: com privacidade e segredo. Vive só de lembranças, os olhos no passado distante de sua antiga mocidade: -sofre duas vezes. O corpo dói, as varizes incomodam, a dor do expurgo ou a gota serena.. O sofrimento ‚ que aperfeiçoa o homem. O trem de Jandira chega tarde, como sempre atopetado de gente. As três, já está de pé, que o sono‚ pouco. De almoço, um pingado e pelo com manteiga. Às vezes a sopa do albergue da LBV. No meio da multidão, caminhando a esmo, os passos trôpegos. Mesmo só, diria que mal acompanhado: fudido e mal pago. Faça sol ou faça chuva, lá está ele, indefectível, insólito como mosca na sopa.. Está em todo lugar, por dever de oficio, com sua indumentária ridícula. Mas não está em lugar nenhum, o pensamento longe: Lá em Pirituba, onde uma velha e seu crochê interminável esperam por ele, o velho.

"Ridendo Castigat Moris" - Zé Louquinho


-O senhor José Louquinho fará aagora a leitura da ata, da ladainha e das orações de praxe. O Senhor Pedro General, vai expor aos senhores membros das cavaleiros da ordem terceira, os planos de nossa extratégia guerreira. Eia pois que vocês são ultimos representantes do poder imperial, não poderão se olvidar nunca de tão alta incumbencia, nem se deixar levar por ideologias alienigenas desses positivista e maçons. Não deixem intimidar guerreiros impávidos, colosso. Nesse intrim se adianta o sô Pedro general: -É isso mesmo gentem: "O verdadeiro soldado jamais foge a luta, os que forem barasileiros que mesigam. Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que aceito a incumbencia. Adiante: marche! Direita: volver! descansar: armas! Fez o silencio profundo, em sinal de respeito que o Zé Louquinho principiava a cantilena: -Oremus: Kyrie Eleison,... Cryste eleison! Pater coelis Dei?...Miserere nobis! Filis et spitituus Santus?...Miserere Nóbis! Santa Maria, virgo mater Dei?...Ora Pro Nobis! Santa virgo Virginei?... Mater Purissimae?... Virgo fidelis?...ora pro nobis! Sedes Sapientiae?...miserere Nobis! stela Matutina?...miserere Nobis! Regina pacis?...Ora pro Nobis! Agnus Dei qui tolis Pecata mundi?...Tende Piedade de nós! Deo Gracias! Oremus: "Salve Rainha, mãe da misericordia, esperança nossa, Salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lagrimas; Eia pois advogada nossa,:esses olhos misericordiosos a nós volvei; e, depois desse desterro, mostrai-nos Jesus, bedito é o fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria: Rogai por nós, Santa Mãe de Deus: para que sejamos dignos das promessas de Crysto". Fechou a Biblia surrada, calou-se profundamente em sinal de respeito pela gravidade da hora presente. Esperava a adimiração de todos. -E viva o Antônio Conselheiro: nosso último monarquista. Viva o Padrinho Cícero Romão Baptista! O brasil e a coroa espera que cada um cumpra o seu dever. Retrucava o Sô Pedro General, cheio de orgulho fanático. Loucos varridos, tomados de ideologias ultrapassadas. -Fi-lo, fa-lo e escuto-lo! por profundo respeito às tradições imperiais. Jamais me poderia furtar ao cumprimento do dever e do chamado da patria monarquista! Neste momento solene, não poderia me olvidar do dever de atender ao chamado da patria amada imperial: Vamos com Deus e a liberdade, unidos com sua alteza o imperador de Portugal, Brasil e Algarves. Viva Dão Pedro II! é imperioso, que cada um de nós assuma a parte que lhe cabe nessa gloriosa expedição: "...É quando se sente bater no peito a heróica pancada,...que o academico se sente no dever de deixar a pagina virada, para ir a luta...". -Caros amigos de lutas inglórias: " O Homem deixa a vida pela luta, longos anos de trabalho. Quando chega a hora, que evem a morte incerta, é só terra na cabeça do bicho, e tenho dito!...". E completava funebre o Zé Louquinho: - Agora, ou bem vai os dentes, ou vai o queixo: "Alea jacta est!...".

Sinesio sentiu pesar a gravidade da hora


Mas aí, o Sinesio sentiu pesar a gravidade da hora, consoante que dizia no seu estilo arcadico, parnasiano. Cabia a ele, como homem de letras, o uso da palavra: -Não posso me furtar ao dever de admoestá-los. A pátria nos chama! O povo esperava alguma coisa de importancia, considerada o solene do momento. Um manto espesso de silencio, cobria aqueles momentos de espera. De repente, uma extemporaneidade: -Meus concidadãos:..., a hora é grave. Uma afirmação foras de hora pra um momento muito prosaico. Alteou a vós, ao principio meio afônico, entr gutural e falsete, limpou rapidamente a garganta. A vó foi se impondo, ganhou confiança, prosseguiu emocionado com com as próprias palavras, quase engasgou com a própria saliva, tal o grau de emoção pura. Adquiriu um ar arrogante de estátua, a vós virando num falsete, praquilo que prometia um discurso prolongado de cerimônia: -Aquiecí em fazer parte desta ilustre comitiva, por estrito senso do dever para com o bnosso imperador. Jamais poderia me furtar ao dever: a patria nos chama: No-la podemos olvidar nesta hora gravíssima, nem tampouco vo-la podeis decepcionar! -Ques palavras bonitas! palavras machas, duma pessoa instruida! O povo já esperando que evinha peroração da longas. -Viva o Capitão Zé Vicente e o Capitão Vaduca. Viva ios heróis da Guerra do Paraguai! Retrucava o o Sô Pedro General, estimulado pela efervecencia do momento, querendo de esquentar os animos: -O paiz espera que cada um cumpra seu dever,quem for brasileiro que me siga! -Deo Gracias! Rezou o zéLouquinho. O Sinésio retomou o discurso: - Com a permissão aqui do nosso comandante em chefe supremo, grão mestre de cavalarianos, guarda mor de Meirinhos, o Senhor Adejalma, a quem rendo as minhas homenagens, representando sua alteza imperial, sinto-me no dever de proferir e deixar aqui consignado as minhas recomendações, para o bom andamento dos trabalhos; aquiescí de fazer parte de tão ilustre comitiva, pelo proppósito de levar avante ingente tarefa a bom termo, esta nossa gloriosa expedição. Fi-lo, por que qui-lo, por estrito senso do cumprimento do dever e submissão a sua alteza real, o imperador de todos os Brasís. Não se deixem nuncar seduzir pela prosa facil desses republicanos: eles são portadores de falsas ideologias. Vamos lutar a boa causa, a boa luta, com dedicação e denodo.

Caído na esparrela do Alziro.


Tres horas dum domingo sonolento, o sol de rebentar mamono, a rua da corrutela vazia de vivalmas. O Jorge braite, na sua indumentaria antiquada, é que fazia discretamente o serviço da entrega daqueles envelopes de tarja preta, amunciando velórios. Convidava cortesmente, como manda o figurino e a ocasião, o povo pros funerais do coronel. No cemitério, dava pra escutar as moscas da barriga verde azulada, voejando as varejeiras pelas frestas do chão, um cheiro de sepulcro, odores estranhos. Nem um movimento, como sóe, só tilintar, das placas dos mortos indigentes, um ruido de silencios comovedores. Só o Redemunho, o povo recolhido as suas casas, entregue aos seus afazerezinhos diarios, do banal da vida de interior. Aquele, um lugar de muito misterio, um descampado dum espigão pedregoso, atravessando por grandes salões de florestas encantadas, lugares cheios de dignidade e misterios.um cheiro de mato fresco dos restos sarapilheira do chão macio da floresta, coberta de musgos bromelias e gravatás. Da onça, não restava mais que sua dignidade de bicho fera, exposta ao povo, humilhada, amarrados seus pares de pés, conduzida por dois pinducas espertos, em ombros, o pau deatravessad, vergava ao peso de sua dignidade. Avaliavam tamanhos e pelos. Mediam e calculavam o couro, puchada pelos bigodes, ainda mostrava ferocidade pelas presas a mostra. na hora de internar o Alziro se adiantou, conhecedor profundo dos assuntos burocráticos de manicômio, sussurando nos ouvidos do enfermeiro, as mãos em concha segredando: -O louco pra internar é aquele magrinho no banco de trais, vê só a cara de triste do homem, deu pra inventar da cabeça dele, que todos estão loucos. Na certa vai dizer que o louco sou eu: não dá trela não, que é muito ladino, apesar de doido. Não dá confiança pras prosas dele não, que vai d9zer e jurar de pés juntos que sou eu o louco pra internar. O Totó ficou, não obstante o escarcéu: mais ele explicava, mais se confundia na pressa de fazer os guardas entenderem. O Totó esse, foi amanecer na fazenda do Fundão. Torou a pé mesmo, de Poços de Caldas, o chofer ficando incumbido de levar a notícia pro Galdino, irmão do tal. Mas, o Galdino disconfiou da mão: -Peraí, escuta uma coisa: qual que vocês internaram? foi o gordão, ou foi o magrinho? já estou dando pela coisa: Cadê o Alziro? -Quem ficou lá foi o magrinho, o serelepe. Nunca num imaginava que ele sesse louco. Falou o Ricardo , meio sem graça, de saber ter caído na esparrela do Alziro. -Agora, é que azangou a boca da égua! Vocês vão ter de voltar, pra aprender a não serem trouxas: cairam feito uns patos, o Alziro deu o quinau noceis tudo, cambada de bobos! Uma chuva fina, ridica de tudo, vasqueira: temporona. O maior trabalho que deu juntar a colondria de loucos. UM lavarinto na cabeça, uma latomia, os moleques azucrinando a idéis dos coitados, em antes de principiar a viagem. -Contudo as peripécias, ainda saimos cavaleiros, cabeceira de tudo. Acalmava o Adejalma. -Pança de angu, largato escadeirado! sai daí, bunda de marimbondo! O Gordurinha reminando com os moleques, o Sinésio, exortando os loucos com seu discurso barroco: -Cartas são papéis, palavras levam o vento.Sai da frente, espelho de tripa, sai do caminho, jacá de toicinho!Mas o Totó não era louco nem nada, senão que um senhor aprumadinho, meio prosaico de antigo, mas de avançada idade, meio achacado de antigos incômodos, como se diz: meio entrado em anos, com seus muitos janeiros às costas. Outrora encontradiço, agora levando um sumiço grande. Rotundo e sorumbático, meio soturno e distante, pontificava nas esquinas, nas farmacias e portas de venda, num discurso agressivo, depois das quantas, fatalista. Esperançava. Falando sempre do progresso: positivista. Principiou de cair os dentes, depois eveio uma cirutgia de calculos renais, e vesicula biliar, os seus diverticulos e eos incomodos daidade avançada, macacoas, ovas e lumbago. Artrites e esporões. As veias das pernas entupidas, produzia um caminhar claudicante, medidos os pequenos passos, vacilante, meio marcando o compasso. Cabeça erguida, numa postura automática de cuco de relógio, forçada pra aparentar equilibrio, pontual, rigido em escesso. O terninho de brim caqui, cheio de bolsos como um soldado, corretissimo, um libré de culete, com relogio Roskof Patent,, correntinha de ouro trespassante, o palitosinho juso e de botinas de cordão: um bonequinho de de relogio de caixinha de musica. Aprumadinho tdo todo,, muito prosaico de antigo. Um senhorzinho de meia idade, quase um sexagenario,um pouso opinioso : deu pra manicar com horas, exibindo o relogio sem precisar de necessidade. Tambem preocupado com o tempo fisico, falando de sol e céu, de seca e chuva. Comentava os novos incômodos: sua propriedade privada dele. Sentia ainda alguma vibração: sonhava com amores carnais impossiveis, improvaveis naquela avançada idade. Podia se dize: decrépito.Uma profunda intimidade com remedios, receitava: garrafadas e os chá milagrosos, pra levantar o moral viril do homem, encasquetou com isso. Ficou solene e saudoso. O raciocinio lennto e lerdo, os esquecimentos bêstas. A tudo, questionava monotonamente: Ahn! os tropeços da idade.

centenares de noves, novenares de novilhões


E faz e acontece,que as pressões estavam aumentando: estava em jogo o prestígio dos coronéis.Algo tinha de ser feito pra por um paradeiro na petulancia do Jesué. De nada adiantava as picuinhas, a todos ele vencia com sua perspicacia, um jogo de muita astucia e paciencia. Foi ficando isolado, os chefes fazendo intriga, mexendo os pauzinhos no estadual e no federal, donde dependia sua remoção. Foi baixo! o Jesué um espinho, abalava o prestigio dos Coronéis. Dizia: —Daqui num saio nem a poder de reza brava, nem a muque: só morto e carregado. De conversa muito placiano, tinha lá suas simpatias: manso, de gestos maneiros, tinha um sesso de rir pra dentro, em grunhidos de porco, e chupar os dentes assoviando, a boca entreaberta. Quando assim, podia contar(saber): estava ruminando alguma idéia ruim dentro da cabeça la dele, os gestos impacientes, denunciadores duma posição defensiva, de fera acuada. Era aí, aonde que revelava o genio ruim dos figueiredos, teimoso como uma mula estirada, brabos como eles, nunca que num enjeitava uma parada. Por pior que fosse o frégi, escorava. Tinha a valentia e o dilurimento dos Figueiredos da Divisa. No entanto a cor de cobre escuro, era parente por parte de mãe, do povo dos Vieira, gente do Custodinho do Campestre. Era desses uns que evinha parte da proteção politica, pra se defender das intrigas dos Coronéis, do Major e o seu filho dele, o Dr filadelfo, do povo dos Ornelas e dos Magalhães, tudo gente coleada pra tirar as suas garantias . Andava coleado com esse povo do engenho de açucar, Coronéis tambem de despropósito de riquezas e prestigio. Pois foi dessas implicancia e de um fato muito singular que principiaram de aparecer os primeiros sinais de fraqueza de idéia, que acabaria levando o Jesué pro Hospicio de Itapira, trancafiado: Principiou de interessar pelo jogo de loterias. Primeiro foi aquela fixação com números: enchia resmas de papel com numeros minusculos representando probabilidades, formando ternos e quadras, procurando de cercar o milhar. Depois passando a limpo no livro comprido de assentamento de conta de armazem, uma espécie de borrador. Os numros foram crescendo a medida que foram crescendo as certezas, tanto no tamanho da escrita quanto no valor próprio representado. Megalomanias: grandes garranchos enormes de noves, oitos e setes. Nos muros, rabiscados a gis, e carvão. Numeros maximos, de muitos algarismos, de muitos noves seguidos: —Novecentos e noventa e nove milhões de milhares, centenares de noves, novenares de novilhões de contos de réis. Agora virei num milionario, novelhonario. A milhar está cercada, vou tirar a sorte grande. Deu de encasquetar com numeros místicos. Duma veis ficou tempos mancado com o nove e o seis. Acontece que escrevia tanto que as veses saia de cabeça pra baixo mesmo, pra aproveitar espaço no borrador. O seis virava nove e vice versa. Imaginou um brinquedinho: com um prego fixou uma regua na parede. Num canto prendeu um nove, riscado no papelão, no outro um seis, girava. O nove virava seis a cada meia volta, e o seis, nove. Mostrava radiante da, descoberta, a maquininha de moto perpétuo. —Olha gentes: o moto contínuo! e imprimia um embalo no movimento giratorio na regua. Explicava: o nove é maior, pesa mais. Quando chega em cima vira seis, e o seis vira num nove. Num para. Vivia caçando maquinas impossiveis, motores tocados per geradores acoplados que acionavam os proprios motores, num giro infinito sem gastar enenrgia. Achava que se esforçasse acabava descobrindo o moto perpétuo. O único numero pequeno que gostava era o zero, para exprimir importancias grandes depois do ultimo. —Vigia só a minha riqueza incalculavel: novecentos e noventa e nove, noves fora, nada! errado: principia de novo... —Zero, zero, zero..., zero cento e zerenta e zero, que bonito! mas isso não é numero, são apenas declarações de vazio: nulidades, nulidades, são ocos de pau, olhos de bicho no escuro, no mato. Agora eram reticencias, depois pontos, monotonamente. —Agora estou rico, ninguem vai poder comigo! quero ver quem a cara dos Magalhães! tira, vá..., tira o meu cartório, se vocês tem competencia. De primeiro, eram quebra-cabeças. Ficava horas e horas até altas horas rabiscando folhas e folhas dos cadernos das crianças, na busca de problemas impossiveis: tres casinha, alimentadas de luz agua e telefone, não podia cruzar os riscos. Ia tudo muito bem até faltar uma ligação, ficava louco, começa de novo. Diacho! Depois foi a teima com os numeros da loteria. Imaginava um segredo, pra cercar o rtesultado, jogando uma quantidade de numeros chave, atravé de combinações adequadas . —Paciencia que vai dar certo! com isso imaginando que poderia aumentar a probabilidade de ganhar no jogo. Não que imaginase certeza plena, absoluta, que era louco, mas nem tanto. Sua inteligencia ainda funcionava, sabia a certeza impossível. Mas acreditava que tanto mais pensasse, mais enchese resmas e resmas de papel com cálculos mais aumentava a probabilidade: uma extranha relação de causa e efeito processando dentro de sua cabeça alucinada. Mais dia menos dia acabava acertando. Inventava a maquina do tempo. Dirigia veiculos imaginarios. O Tonho do Dorico mandou eu fazer a conta dos balaios que cabe numa carreta cheia de milho. O sonho, ele é um pensamento separado, de outra parte da cabeça.

Um inimigo indesejavel, o Jesué


Gostava de política, da alta e da baixa, tinha percepção aguda do pensamento do zé povinho, sabia prever um resultado. Na política infernava a vida dos mandões da política, dos coronéis, os cujos ficavam putos dentro da roupa de não ter ele como aliado: um inimigo indesejavel, por importantes que fossem. Prestativo e muito infomado, tinha la seus seguidores, fazia escola. A idéia dele nunca que batia com a dos chefes, uma especie de zanga sabão, sempre do contra, uma espécie de anarquista. Detestava o senso comum, muito original, o pensamento dele muito diferente dos outros, da maioria, muito avançado pra época. Desacatava os coronéis expondo-os ao ridículo, chamando de ingnorantes, sem a cerimônia nenhuma. Lia muito uns livros estranhos sobre comunismo, escutava radio da China até altas horas. por isso despertava uma ojeriza dos mandantes da política, desfazendo os seus arranjos deles. Com tudo isso foi granjeando inimigos, garrou com mania de perseguição, principalmente os juizes, os promotores, e os adevogados do forum. Não aceitava opinião de ninguem, instruido que seje, mesmo os considerados importantes pelos cargos, pelo poder e pela riqueza, formados que seje, não deixava ninguem por a mão na sua cabeça dele.Não tinha papas na língua, falava o que vinha na cabeça, nada fazendo mudar de opinião: um teimoso, embirrado tinha suas idéias próprias dele. Teimoso como um jumento, não hesitava em por no ridículo, quem quer que seje, importantes que fossem na política os atingidos, por cargos, ou poderes que detivessem. Principiaram de impricar. Perseguiam, tentando tirar o que tinha de mais importante: o cartorio e o cargo de escrivão do crime. Tinha capa, era meio parente dos Vieira, que coitava ele, e duma gente dos figueiredo da Divisa, um povo muito rico, coleados com os carecas, da política do Cabo Verde.Mas foi baixo! até na política era ferrabras. Muito perspicaz, enrolava a todos, sabia mexer os pauzinhos no estadual, seje juiz, promotor ou presidente do conselho. Tinha tambem seus padrinhos, la de cima na politica, sabia bem elaborar os seus arrazoados em sua própria defeza dele. Por mais que perseguissem, afastando temporariamente do cargo, ele sempre retornava por arte de alguma astúcia tramada ou proteção de político influente, que no assunto de leis era entendido, lia o Minas diariamente, redigindo os seus arrazoados e requerimentos de alguma licença premio, salvadora, mesmo não sendo formado em leis. Por uns meses dava descanso pros políticos, mas ficava maquinando, neste interim.

Pança de angu, largato escadeirado


Era um grandalhão estabanado, meio capenga, o corpo desgovernado: cabeça na frente, as pernas ficavam, como se outro corpo, depois embalava, num balangado esquisito. A linguagem cativante, mas não dizia coisa com coisa, muito placiana, aos gritos rompante, uma largueza exorbitada, espaçoso de tudo: —Pança de angu, largato escadeirado. Boca de chupar ovo, testa de amolar machado. Naris de cheirar peido. Chegada a hora de internar, vestiram a camisa das mangas longuíssimas, como quem veste pijama, as mangas dando voltas rodiando o corpo lhe parecia a ele de brinquedo. Ficava varrido tinha de imobilizar que até avançava de unhas e dente, investia que nem vaca braba. Que nem que o Bip, dirigia uma moto, vinha de longe manobrando, engantando as marchas direiti-nho, espumava o canto da boca, vermelho feito peru, do esforço em demasia. Passou em muitas casas de louco apanhou medo de dar dó: Itapira Barbacena, Juqueri, Campinas. Voltava ficava bom por uns tempos retornava, Panhou medo de manicômio: uma triste lembrança do chá da meia noite, Pegou tambem mania de conhecer cidades, de viajado que era, tinha orgulho do conhecimento extenso. De todas a d cidades, respondia o nome prontamente, a visinhança, só que por malícia algumas omitia: —Conheceu ventania? —Tive lá. — São Tomé das letras? —Conheci, passei uns tempos. —E Barbacena? —Passei perto. —E Conceição dos ouros —Conhecí bem. —Conhece Juqueri? —Vorta diabo, sartei de banda! —Conhece Itapira e Campinas? —De longe, conheço de vista. Se era lugar de manicomio, a lembrança dos maus tratos, fazia esquecer depressa, ele logo disfarçava, negaceava: —Faz um tempão danado, quase que num alembro. Passei perto, mas num recordo. Conheço de vista, etc e tal. Sempre encontrava meio de manter afastado da memória, os sofrimentos passados em casa de loucos. Só o Tiatonho tinha coisas pra vender, ficava louco de tudo pra tender os fregueses. Foi perdendo a paciencia, amiudaram os ataques, perdeu as estribeiras . Logo virava em louco imprevisível, por fim a camisa de força. desintendia aquela coisa, mais possesso ficava dentro da roupa. Não dormia mais, levantava com as galinhas, de madrugadinha e saia correndo atraiz de nada. Só negócios. Principiou de gaguejar e trocar as letras e palavras. Por fim, só reticencias..., dois pontos, monotonamente. girou. endoidou de vez.

Peidou garapa, peidou dereito!


Foi ajuntando animais, não cabia mais no pastinho: teve de arrendar. A notícia corria solta: ele comprava de tudo. Gente apertada por causo de diudas, procurava o Tiatonho. Ele, com as mãos cheias de mercadoria, mostrava pouco interesse, não por astucia nenhuma nada, apanhava criação na bacia das almas, apurava um dinheirão. Fazia negócio no estalo, tinha peito ou porque não atinava com o verdadeiro valor das coisas. Surprendia o vendedor já quase disacursuado do negócio. Nunca que num deixava uma rês sem oferta, pra não ofender, não trazer malquerença. O outro apertado acabava dispondo, por necessidade. Ficou sendo o comprador único, todos procuravam, que sabia o modo dele: não era embuchado, desempatava negócio. Muito placiano, principiou de prosperar e num dar conta do que tinha: teve de arranjar um guarda livro. Analfabeto de pai e mãe, num trazia nada assentado: tudo de cabeça, principiou de embaralhar as coisas. Acabou ficando melhor, que os outros tinham a impressão de estar tapeando o coitado e a réstea, ele que ficava cabeceira. Era afável, placiano até, como tem precisão e carece no ramo de breganhista. Um sujeito muito despachado, eles gostava do tipo. As veses mostrava uma cara de bravo, pra mostrar que serio nos negócios, mas só de mamparra, prosápia só, ratos de onça, que nunca fez mal pra ninguem, nunca que num bateu numa criança, nem judiou de criação, num fazia mal prum passarinho, que seje. Soava bem suas bravatas, ganhou confiança, pagava em dia os compromissos. Nunca que arrependia dum negócio, mesmo que mal feito, sustentava, nem que a poder de grande prejuizo. Essa a fama dele. Cria fama, deita na cama, como lá diz. Prosperou, melhorou de vida. Cara de bravo que nada, só bravatas, uma exorbitancia de espalhafato: gestos largos, um ar de displicencia, não fazia questã de mixaria, mingueras. O sorriso arreganhado, mostra os dentes: todos de ouro recapados pra mostrar riqueza, o verdadeiro boca de ouro. Ralava os dentes quando começou de dar os primeiros sinais de demencia. cerrava fortemente os dentes, que ninguem não conseguia abrir, nem a poder de reza brava, quando alheado, em convulsão. Ficava gira e espumava o canto da boca, babava de raiva e gritava chavões. —peidou garapa, peidou dereito! mas quando andava bom da cabeça, vivia acompanhado duma colondria de desocupados, marreteiros de pequenos negócios, comissões insignificantes, umas grojas, quando não, intermediando negócios pela comida nos bares, e pelo simples prazer de ver ele fazer negócio, por indicação, uma rebarbas. Comprou terras adoidado, ampliou os negócios de gado muito, até num dar conta, estava rico. Mas nada ficava escriturado. Foi aí que começou a perder a noção exata do andamento das coisas. Não dava conta de saber de tudo que tinha. Virou confusão, um verdadeiro cu de boi, as coisas tudo espandongada pra todo lado, sem relacionamento, o povo principiaram de aproveitar da situação. Alguem tinha que tomar conta das coisas, o volume muito grande de negócios, mas por incrível que pareça, ainda ganhava rios de dinheiro. Alguem para relacionar, assentar em cardenetas, fazer apontamentos: um guarda-livros, o certo era esse. Sem cautelas nenhuma ia comprando. Principiou de separar e colecional objetos, garrou de panhar amor nas bugigangas: um jacá de canivetes enferrujados, faquinhas, garruchas, balaio de espingardas, relogios: de alqueire misturados a despertadores imprestaveis. Foram ficando escassos os objetos de trama, os disponiveis empoçando na mão dele. Aí que principiaram de ganhar valor os objetos e os seus pertences como zarreios, qualheiras, chinchas, futricas, quinquilharias, caixas de botões, pregos velhos Ele sempre ganhando nas tramas: um misterio sem explicação, ia ver, os objetos na mão do Tiatonho. Ficavam todos num cômodo grande, especie de venda, de comercio de verdade. Pra achar as mercadorias um assunto dificultoso, que tinha que andar por cima das mercadorias, só ele sabia o paradeiros das coisas, sua memória infalível. Mas principiou de fraquejar, os seus primeiros esquecimentos, lerdeza. Comprava estoques, fundos de negócio, liquidações, arremates de leilão e salvados de incendio e de massa falida. Aí se deu então de acontecer os primeiros sinais da perca do juizo,as falhas de lembrança, num recordava mais o lugar coisa e das contas, pagava duas veses, um delirio de repetição, os outros se aproveitando de sua fraqueza. Os esquecimentos bestas, principiou de ouvir voses interiores, dialogango consigo próprio, falando sozinho, murmurava. Aí desandou no primeiro acesso de delírio. Vendeu tudo uma verdadeira fortuna, garrou de queimar dinheiro e jogar fora.

Tipo medonho, caratonho um tal de Tião Tiatonho.

Tipo medonho, caratonho um tal de Tião Tiatonho. Simplório, trabalhador de roça, muito sacudido. Vivia do eito, situante, um mijico de terra, quarta e meia e salamin. Rocinha pouca, uma tutaméia duns poucos quase trinta litros de milho e feijão. mais deis litros de feijão solteiro, um arroisinho tiguera, muito maltratado de pragas, capivaras e lacraias. O medidor de palmo comendo solto de bocada, num deixando vingar os pés sadios. Criação quase nada um marruás e duas vacas de bezerro, mais outras tantas solteiras e amojando, chegadinhas pra dar cria. Um animal de lida e qualheira, pra selote e cangalha de bruaca, mais um piquira de sela, pra vender queijo na cidade. Mas foi depois de muita manta e trama com ciganos manada acampada no sítio, foi que manicou que era de negócio: tinha conseguido de passar manta no gajão, trocou de animal por um mais esperto e sadio, apanhou uma é gua de potrinho. De tanto ver os breganhistas melhorarem de vida, a poder de muita trama de negócio, encafifou que podia dar certo no negócio de animal e ficar rico, uma vida mais sem-vergonha e livre do compromisso diario de serviço.. E não é que que pelo fato de ser marinheiro de primeira viagem, acabou mesmo com sorte, não sei se porque uma coisa ajudou: um principio de doideira, uma nuvem de fraqueza da idéia, facilitou as coisas. Porque no fim acabava não fazendo conta das pequenas coisas, muito mão aberta e corajoso, fato que fez ele granjear a confiança do povo: tanto assim que todos o procuravam pra negócio, não vendo na sua pessoa simploria, nenhum daqueles defeitos: a muchibagem, a esperteza em demasia, ser águia em excesso. Mudou pra cidade, casa duns parentes, viviam tudo empelotados: os tiatonhos. Comprava qualquer coisa sem o nenhum critério. Trocava. Não punha nenhum cabedal de empenho, mal examinava, confiava nos outros. Isso acabou ajudando, conferindo a sua pessoa dele uma enormidade de simpatia. Pouco por muito: ajuntava. O preço subia, ganhava sem querer, foi enricando. Juntou um despropósito de animal, criação: garrotes, porcos, cabritos, carneiros. Não enjeitava nada. As veses trocava, para ajeitar negócio, pelos mais conspicuos objetos, muitos sem serventia pra nada: espingardas, garruchas, canivetes. Do jeito que evinha, ia. Comprava a prazo, vendia a vista, o tempo passando, foi ajuntando tranqueiras. O preço das mercadorias subindo, a moeda desvalorizando, acabavam deixando despropósito de lucro. Acabou juntando uma colondria de gente rodiando ele, ajudavam nos negócios, tocavam criação, em troca de casa e comida, sempre farta, ele nomeio na maior simplidade. Com dinheiro na mão, era crise, os negócios davam certo: muito alem do que esperava, sem querer ganhava, que todos traziam informação: muito querido de todos, espalhafatoso nos gestos, grande de coração, placiano na sua prosa dele, muito espaçoso com todo mundo. Uma pessoa simpática, não fazia questã de nada, ajudava todo mundo.

colondria de loucos pros hospicios


Reflexões do Theófilo. O Homem, primeiro ele se descobre e traça um jeito de ser e prosear, existe, surge no mundo e no mando. e só depois se define. O Homem é, não apenas como se concebe, mas como quer que seje, depois da existencia. Existir no caso é ser livre, mas ao mesmo tempo ser obrigado a fazer escolhas. Falando de loucos. —Ché! disparate de cantorias. —Cantavam seus ais chorosos, duetados de finos ais, estridentes de lamuriações. Choramingas. Mal de amores, o povo sonhando fundo a emoção, os braços alevantados como em orações de Padre-Nossos. Ladainhas de vias Sacras. Era o causo que eles tinha de levar em comitiva dementes, uma colondria de loucos pros hospicios, pra cidade grande de Campinas. Mas como reza o ditado que "de médico e louco, todo mundo tem um pouco", não seria uma viagem inusitada, a novidade nenhuma nada que isse gente até sã da cabeça, uns mais, outros menos varridos da idéia, pra nenhum ninguem botar reparo. Mas aquela era uma empreitada diferente, dados que as viagens usuais praquele mister, uma vez ficadas por demais espaçada, deu se que veio de formar contigente volumoso de airados, com destino a manicomios, razão porque chamava muita atenção do povo do lugarejo, tirante que uma aglomeração de loucos é um fato que desperta muita curiosidade, dado os desatinos todos daquela gente, constando ainda que vinha de ser uma expedição sobejamente custosa de dar com esse povo em casa de loucos. A empreitada sebdo assunto pra gente instruida, que dessa vez era louco pra mil réis, o grande espaço de tempo entre uma entrega e outra, deixou a cidade em polvorosa e cheia de gente fraca do juizo da cabeça. Qualquer um, não servia pra dar cabo de tão dificil tarefa. Tinha de ser gente de escrita correta, cartorista ou escrivão do crime, algum meirinho ou autoridade do forum. Tinha louco pra mais de metro, uma leva deles, as mais impossiveis variedades imaginadas, desde esclerosados simples, gente vivendo num passado distante; gente esquecida dos fatos do dia a dia; manicados alguns alguens com materia de religião; outros encafifados de ganhar na loteria; encasquetados de virar num milionario, duma hora pra outra; loucos de amor puro e simples; doidos varridos, desses de avançar na gente ou de tirar a roupa no meio do povo, mostrando as vergonhas, na maior simplidade, sem a noção nenhuma da falta de desrespeito; gente perdida no espaço e no tempo, num acudindo um nada, sem dizer um a de coisa com coisa, quando a gente instiga, perdida a claridade do juizo, nenhum ninguem ciente dum nada, esgotado o entendimento do juizo da cabeça; simples desandados da cabeça, gente sistemática em escesso; velhos caducos, variando com lembranças remotíssimas; gente que perdeu por momentos a lembrança das coisas; gente com visões de coisas impossiveis, de almas penadas; alguns que perderam com a crise de 29, com vontade suicidar por suas próprias mão deles; empobrecidos que não conformam com a situação de perca; loucos mansos doidos varridos, matusquelas e de mil modos que um pode ficar ruim da cabeça; enfim uma fatiota ridícula e triste, mas divertida, pra nenhum botar defeito. A viagem, uma peripécia: que se passou coisa do arco da velha. Louco que ficou são na metade da viagem; pessoa sã, ficando doida no transcurso da viagem, no meio da caminhada; gente sã, internada no lugar de gente sem juizo por arte de astucias desses uns; louco, levando louco por engano, ou gente sã ficados doidos na viagem; doidos varridos e fugidos de hospicios na horinha mesma de vestir a camisa de manga compridíssima; professores de letras em indumentaria de forum, de fraque e cartola; loucos ladinos de ativos, loucos brandos, doidos intempestivos; loucos falantes e gente do apá virado e doidos silenciosos; loucos de todos os jeitos possiveis e imaginados, era louco que num acabava mais. Em desde que eu me entendo por gente, nunca que eu num vi um ajuntamento tão seleto e tão estrangolado, numa embaixada tão estranha. Tem precisão de um relato minucioso, tanto dos interditados como de seus condutores responsados.

O Sinésio, meio prosaico de antigo


Aves inquietas. Os jovens: eles vem eles vão, como os passaros, são aves de arribação. Em debandada trovejam ao menor buliço, arremetem; não de medo, senão que de inquietação. Pousam em qualquer lugar, aos bandos: vão chegando aos pares, singulares,de repente multidão em alvoroço, o caos estrepitoso. Se aninham. Ali ficam arrulhando buliçosos, batem azaz afugentam tristezas, brincam. Calmos, sem nenhuma ordem, formam novos pousos inesperados; ficam, depois vão como vieram, do nada, sem aviso prévio. Arremetem. A alegria intensa. Quase sem necessidade. Que pensam? quase não pensam. Liberdade. Ser livre mas ao mesmo tempo ser obrigado a fazer opções, que é o que cansa. Dificil. É assumir a responsabilidade pelo que fizer: certo ou errdo. É criar constantemente a própria essencia individual. O Homem, ele está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio e no entanto livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsavel por tudo que fizer. Ele tem de escolher naquilo que está próximo, por o mais já estar determinado, como fazendo parte de um universo maior.. —Campeia a zagaia Nestaldo, esse o nome do Pinduca. Pode que num dá tempo de trocar os cartuchos. Aí ó! nóis tamos nhambados: estamos no cu da perua. Na unha dela a malvada! Descrição de tipo. O Sinésio num era bem dizer um louco, mas um homem ultrapassado, meio prosaico de antigo, no ar e nos trajes. Não percebia a passagem do tempo, tinha la suas teorias a respeito da Política. Em plena fase republicana, o posotivismo ganhando a preferencia dos mais avançados, ele era monaquista. Presidente o Dr Artur Bernardes e presidente do estado o dr Antonio Carlos de Andrada gente dos Andradae Silva, secretario de justiça, o Coronel João Alberto, ele vivia como se estivesse na monarquia. Defensor de D. Pedro segunda e da familia imperial, tinha um respeito doentio pelos simbolos do poder, contra a abolição da escravatura. Seus discursos barrocos, da época parnasiana, ainda cheio dos dizeres monarquistas. Quando viu a situação dos loucos, iniciou a sua peroração."Sabia que num ia dar certo, esses republicanos não sabem de nada mesmo, são uns barbaros: onde já se viu levantarem barricadas contra a figura excelsa do imperador, que foi escolhido governante por uma questã de direito natural? é uma excrecencia: onde nós estamos? São muito materialistas, gente atéia, sem religião, tudo positivista e maçônico. Se o Clemente Mariani, estivesse vivo, ou o Joaquim Murtinho, aí sim: gente de pulso forte pra conter essa ralé, esse povinho revoltoso que não respeita a figura sublime do nosso imperador.

A pessoinha dele a-toa


O Gordurinha A pessoinha dele a-toa, sem prestimo nenhum. Cara chupada a barba rala que nem que cabelo de milho. A cor rósea, glabra, clara, transparente, o nariz quase sangrando, que é puro ranho, sempre chupando eterno resfriado, a tosse sem fim, seca de catarro. engole não engole. Magro fino esquelético, todos dum jeito só, esqualidos, a mesma figura de valete solitario, o cabelo sem cor, escorrido, magro da cabeça aos pés, branco, pouca barba, pouca sombrancelha, sem pestana, o vermelho rodiando os olhos furta-cor. Boqueiras permanentes, nariz escorrendo o nó saliente de Adão. Pescoço comprido muito fino: a mesma figura repetida sempre. Sem peito, sem carnes, sem bunda. O pé grande de tonto, vorteado, demais, dedão separado calçado de espora dum pé só. Fuinha, calça amarrada de embira meio caindo mostrando o rego da bunda, imberbe, sem bigode, uma preguiça de dar dó. Uma dor constante que principia no encontro e responde na cacunda, a maior parte deles teve de levar no curador pra tirar vento virado e curar quebrante. Você não acha que tem dia que parece que o diabo anda solto, como que no meio do redemunho. Ele andava com o diabo no corpo que nem lobisomem em noite de sesta santa de lua cheia, quase a pino, um ar de magia excessivamente clara, o tempo limpo sem atmosfera. entoou uma cantiga sem nexo, um homem especula e abelhudo. Deu o quinau nele: pança de angu. largato escadeirado, sai bunda de marimbondo! Uma chuva fina, vasqueira, ridica de tudo: chuva temporona. São os eternos esperançosos que dão força e valor a vida: os demais tem uma cortina espessa de tristeza cobrindo os olhos e o coração. É preciso de qualquer jeito acreditar nalguma coisa ainda que racionalmente impossivel. Só a certeza do inevitavel da morte certa, nos torna capazes de viver. revela preguiça ou incapacidade , viver a vida real. A veneração pelo incorruptível, criação infantil inaccessível, do distante. Revela o desejo incontido de que outros realizem seu desejo. Estão na maior parte pedindo a Deus que alguem tome decisão por eles. Na verdade é como projetar um sistema do tamnho da nossa preguiça. Por tomar decisãoes e enfrentar as dificuldades do real, um medo de serem responsaveis por seus riscos de serem responsaveis por sua liberdade. Que saibam não tratar-se de denuncia, senão que o enunciado duma proposição matematica, quase contabil. Que a doideira da menina, sendo mais a fome do que a falta do que comer, uma é que :do jeito que os grande passa, os pequenos tamem passa, nenhuma janelinha está aberta pra alguem na hora da correria.

A historia dum moço muito branco


O Anticristo A historia dum moço muito branco, branquíssimo, loiro, quase albino, os olhos de vidro, como de bonecas. Nele, tudo se renova, instantaneamente, nada fica velho: os dentes, unhas, cabelo, a pele glabra, nada que fica mais velho, imprestavel. Fala pouca de opiniões precisas, susurra, um fino de vós de falsete, nem masculino nem de mulher, branda. Vindo de outro lugar, a raça sua dele se acabando. Precisa deixar descendencia, ou levar algum alguem com ele para experiencias, velhos que seje, ele os renova e nunca que deixa morrer. O tempo não passa, dura enormidade. Tem uma fosforecencia um brilho, só luz. O povo principiam de adorá-lo de manso que é: moças, velhos, até homens não tem vergonha de ter um bem querer. Tudo que toca sara o incômodo. Ele cura: de perto, pondo a mão; de longe: pensando as feridas. Adivinha pensamento e o que vai acontecer. Prevê calamidades. Sonha, seu sonha vira em realidade. Vira num culto de poder, as pesoas num querendo de deixar sua presença. Mas o pensamento avoa longe, as vistas no cèu distante, num lugar definido. Descobre riquezas e pedras de rubí, pedra dágua aonde que tem escondido visões de grande beleza, ouro enterrado, pelo sentimento e pelo faro, navios naufragados. Entra dentro dagua e respira pela pele: não molha. Fica horas dentro dagua sem respirar, até dorme dentro, volta com achados. Se quer, dorme um mês sem parar, mas nunca que fica cansado e quase não tem fome: come cascas de arvores e chupa resinas de pau. Dentro dagua, a outros parece morto, mas o corpo quente quando sai, os insetos não pousam nele. Se pousam, alvoroçam e saem desesperados feito loucos, em voo cego sem destino: ficam pegajosos. Organiza planos de volta, leva velhos loucos imprestaveis, condenados de cadeia e de doenças incuraveis. Assim como veio, vai, em nuvens douradas, brisas calmas, o povo ficam tristes da perda. Sai em carruagens de papai Noel, naves silenciosas. Faz chover no nordeste.

A festa do Zeca Zico


A festa do Zeca Zico Vez em quando tinha briga feia, mas nessa não, que o Bié Romão tinha autoridade, impunha o respeito necesario. Eveio chegando gente de todo lado. foi chegando cavaleiro, gente de a pé e carro de boi. Aparecidos nas grotas e boqueirões. A fazenda do Bié Romão na beira do Rio Pardo. Aonde que tinha um sumidouro, uma loca de pedra, um redemunho, a agua entrando na pedra pro chão fora, indo apontar muito embaixo como que partindo o rio em dois pedaços, depois a cachoeira.Depois de tirados os afogados só ficou o arvado deles, comidos pelas piranhas, pelas lontras e pelos urubus de carniça, treis dias depois. Um deles esmigalhado nas pedras de tanto girar no redemunho, num sabendo qual o quem, desreconhecido. O povo ficaram com os olhos orvalhados de tanto chorar a morte dos tres uns. A festa virou em tristeza. Só. Era mes de abril, o céu azul de muito vento, mas azul de abril, um ceu azul de sanhaços. Descrição do tipo Um homenzinho meio magruço, cheio de dignidades. Muita simplidade no ar e nos trajes. No jeito de caminhar, um balangado esquisito, a cabeça agacha, muito grande, desproporcional pro corpo franzino, o corpo penso prum lado. Envergonhado de tímido em excesso os braços cruzados atraz das costas numa postura impossível de imaginar. Muito sorriso, poucos dentes. Um sesso de cambetear prum lado, um vicio de personalidade.

A igrejinha do Naninha Bueno


Mas num morreu o peste. Eveio negociar no Cachapava, dando parte de quebrado, num se sabe se pra divertir com as pinduquinhas ou se reunir com os seus parentes dele muito antigos, sua madrinha mãe de criação, ou cumprir promessa de espiação na igrejinha do Naninha Bueno, o santo homem que morreu duas veses. Criado com manada de ciganos, aprendeu a arte de negociar com criação e animal, sua manhas e tretas, pra passar manta nos incautos e beócios. Saiu corrido de lá, causo de cavalhadas de negócio de esconde defeito de animal de peito aberto, estirador e animal velho passando poir novo de ardencia, causo de ter comido palha de café, misturado no fubá. Foi perseguido uma quadra grande pelo tião gajou por motivo de defloramento duma ciganinha nova, num querendo de casar consoante as leis da manada. Escondeu no Barro Preto, depois conceição dos ouros e Ventania, lugares de renegado e perseguido da policia. Gastou muito casco de cavalo nessa travessia. O tião caiu doente e ficou morando com os pinducas, pra depois continuar a perseguição. o pior que podia ter acontecido é não ver reconhecido os méritos. Depois de consumada a morte do Godofredo pelo fuinha, o povo ficaram com medo de que fosse perseguido pelo Gratistonho e pelo Jefe, mas não! o enterro foi concorrido, causo que o povo cagavam pras perna abaixo e de curioso de ver a carranca deles dois. Na última hora, pra espanto geral, consentiram da presença do tiãozinho no velório, inclusível de seguir o enterro, segurando a alça do caixão, os dois de sentinela atraz do Tião. Não se deu nada do esperado, nem morte nem vingança nem nada. A vingança mais completa ficou pro fim, com serviço bem feito. Depois deu em nada, com os valentões tirando de cabeça, se retirando de vez pra São Paulo. Lá na cidade grande, decerto que tendo mais campo pra trampolinagens deles. Serviram de mercenarios na revolução de 32.Acompanharam cabeça do Mineirinho, seguiram a coluna Prestes e foram viver na jagunçagem. O Tiãozinho, sem querer, virou num valentão respeitado, até que acabou seus dias morto pelo Nicrinho, e jogado na enchente.

Quando ri, se ri, uma crueldade de dentes


Descrição do tipo Boca grande, cara quadrada, mas prognata. O sorriso de cachorro louco, mostra uma crueldade de dentes: de ouro cuneiformes, só presas, um desperdicio. Nem se quizesse poderia parecer mais feio, fazendo caretas. ao natural, uma marmota, bugiu: o caipora. Quando fala, se fala uns grunhidos, a vós saindo apertada, gutural saida de um buraco cavernoso.Quando ri, se ri, uma crueldade de dentes.Cabelo ruim de negroaço, o nariz aberto, mesmo em situação de brandura. Os olhos, só tem sangue e veneno. O retrato escrito do da maldade, capeta em forma de gente, sem tirar nem por o demo, o coisa ruim. A sua faca dele de serrilha,pra doer mais fundo, cortando rasgado, só pra ver o cristão fazendo caretas quando estiver morrendo. Arrogancia e prepotencia só, o nó das mãos, o calombo proeminente, o braço em tábua como dos primatas, dos bugios. Catadura de animal, cara de piranha, os muitos dentes em serra. Sem testa, as sombrancelhas misturando com os cabelos. A barba de espinho, continuando pelo pescoço, emendada com o peito, curto, atarracado: um selvagem. Com ele não tinha explicação possível, o nenhum atenuante. Não diantava teimar.Bobagem. Mas foi de medo que o Tiãozinho matou ele com a texa insignificante: o erro na superavaliação de sua superioridade: bem no sangrador, por instinto de matar correto. A boca uma enormidade, um despotismo de dentes, arreganhada como de cachorro louco. Andava de déu em déu, ao Deus dará, caçando encrencas, um tirador de pontas. A pele de cuia, de cobre, como dos Pinducas, seus parentes próximos, descendentes de indios, uma gente de bugres. Resolveram de vim por banco em Cabo Verde, terra de jagunço, fazer arruaças. Pra eles, não tinha Justino nem Polico, nem Nenzinho, valentão nenhum. Brigavam de turma, de pé, de faca e cabeçada.Dis que podia que sesse gente dos figueiredo da Divisa, mas essa uma gente de mais honra, brabos mas respeitosos. Mas como que pode se eles era do Monte Santo, quase Mata dos Sinos, em Jacui, terra de gente papuda. O povo falam, que sem saber dos figueiredos, ele encarnou o esprito do Theófilo. Mas como, se eles num era bem dizer parente, que se saiba. Só se em outra encarnação, aí podia que sesse. Isso dele receber o esprito do Theófilo se deu, quando estava alongado pelos carrascais, foragido da policia. Lugar que sempre ia em apoio de fazer parte com o diabo, entregar sua alma dele ao demo, ou fazer trato com o cão. Diz que tinha o corpo fechado por ter entregado a alma pro coisarruim. Quando o esprito do Theófilo baixou no Godofredo, se deu acontecer que baixou tambem o esprito do burrão rateado, na mulinha do tal, que desembestou, na desabalada carreira, ladeira abaixo, arrastando o Godofredo pelas pedras, com o pé enganchado no estribo, com espora e tudo.

Godofredo, Gratistonho e Jefe


Os treie valentões Fatos de pavoroso suceder, se de tudo verdadeiros como o povo contam, se deram de acontecer naquele triste 15 de Maio de 1932. Contados assim nesses claros de dia mais comum, uns vão desconjurar, nenhum ninguem vai poder de imagimar o triste que foi igual. Não eram dias próprios de tristeza nem azarados, senão que dias de festa e comemoração da padroeira. A família do Bié Romão tudo reunida para as festas de Reis e do Divino. Ocasião propícia pra fazer pamonha de milho temporão. As roças tudo embonecadas pra soltar pendão o capim gordura emborrachando pra soltar semente, promessa de muito namoro e casamento. Os bailes da roça. Os terços. As cavalhadas. Os preparativos para os dias de festança, a fazenda esperando a chegada dum mundão de gente. Homens em cavalhadas de arreios reluzentes, machetados, os peitorais de argola, estribos, rabichos, baldranas pelegos e colchonilhos. As mulheres, se moças em ricas montarias completas seus cavalos educados. As velhas nos siliões, de atravessadas a meio animal. Todos de roupa de domingo. Alguns de carro de boi e charretes. os mais de perto de a pé, gente de colonia. Eles era em treis: Godofredo, Gratistonho e Jefe, o terror da vizinhança. Por onde que andavam, o frégi estava armado. Nas festas, uns zanga-sabão, terminava com qualquer dança de baile. O Godofredo era um grandalhão de cara de cavalo, estabanado, ruim feito cobra. A cara quadrada, equina, mesmo muar, mais mau deles tudo. O Jefe, pequeno e traiçoeiro, mas tinhoso. O melhor deles, e ainda num era grande coisa nem flor que se cheire, era o Gratistonho, que teve tosse comprida em criança, por isso que mais molenga e chorão, veio a morrer de chifrada de boi. O godofredo quem matou foi o Tiãozinho boca de bagre, um tipinho sem origem: gentalha. Quem matou o Jefe foi o Fernandi, do tião siqueira, o mentecapto. mais isso foi faz muito tempo, depois de feita muita arruaça e malvadeza. Eles era gente dos Beijo, duns tais de tumaizinhos, danados de velhacos, breganhistas de animais, como ciganos, viviam no Cachapava, tudo de lá, descendentes de Pinducas. Vivia de déu em déu, ao Deus dará, sempre em apoio de cavalhadas, em colondria de vadiagem enquanto que caçavam jeito dalgum sururu, procurando encrenca, uns tiradores de ponta, mal-encarados, doidos por principiar uma malquerença, chegados numa briga de faca.

Um certo senhor aprumadinho


Os loucos: Eles não acode quando a gente chama, nem dão ciencia dum a, perdida a claridade do juizo. idéias dissolvidas. Não tem nenhum ciente, esgotado o entendimento do juizo da cabeça. Descrição de tipo: Um certo senhor aprumadinho, meio prosaico de antigo, mas de avançada idade, como se diz meio entrado em anos, nos seus muitos janeiros àscostas. Andava de déu em déu, ao Deus dará, caçando encrenca, em apoio de fregi e cavalhada: um tirador de ponta. Outrora encontradiço, agora levando um sumiço grande, rotundo e sorumbático, meio soturno e distante, pontifucava nas esquinas e casas de tolerancia, nas portas de venda e nas farmacias, num discurso agressivo. Depois das quantas, fatalista. esperançava. principiou-lhe a lhe cair os dentes, um certo ameaço de reumatismo, artrite e lumbago, os esporões, a gota serena. Uma cirurgia de calculos biliares, os seus divertículos e os incômodos da idade avançada. Macacoas e ovas. As veias entupidas produzia um caminhar claudicante, medidos os seus pequenos passos, vacilante meio marcando ocompasso, a cabeça erguida, numa postura automática de cuco de relógio, forçada em aparentar um equilibrio inexistente, pontual e rigido em excesso. O terninho de brim caqui, corretíssimo. um libré de culete, com relogio Roskoff Patent o palitozinho justo e de botas: um bonequinho de relogio de caixinha de música. Aprumadinho, um regente de orquestra filarmonica. Um senhorzinho de mais de meia idade um sexagenario um pouco opinioso, deu pra manicar com as horas, exibindo o relógio sem precisão, e com o tempo físico. Falava dos novos incômodos: sua propriedade permanente. Sentia ainda vibrações. Sonhava com amores novos e improvaveis. Impossiveis naquela fase da existencia. Podia se dizer que estava velho de tudo. Abandonou prazeres, vivia sob regimes e dietas: uma eterna renuncia. Uma profunda intimidade com remedios: receitava. Os chás, as garrafadas pra reanimo do moral viril. Ficou solene e saudoso. Pôs tudo fora em negocios desastrados, lentos e lerdos, os esquecimentos bestas. Por fim perdeu a graça e a compostura: despontou. Ostrie valentões

Amores clandestinos: historias safadas


Amores clandestinos: historias safadas Heroi amante poeta: Pedro Saturnino de magalhães Meninos de recado: Bastião Salgado e Zé Roxinho Noticiador de enterro e festas: Jorge Braite meirinho e estafeta: Dolermiro e Antonio Aguida rei momo e recadeiros: Caju e tio Alceu Bebados inveterados: Zé Cabo Verde e Ricardo Eletricistas e consertadores de radio: Quincas e Jessé Valentões: Arcidalio Esmerindo e Zé Pintinho Louco: Alziro, Zé louquinho e lasquita Reclames: grindelia de oliveira junior O run creosotado Glostora e lavanda. Almirante: a maior patente do radio brasileiro do "O Incrível, fantástico e extraordinario" Escritores: Aspicuelta Navarro, Vercingetorix, Hercules Florence e a caneta fulgurante de Antenor Pimenta Descrição de tipo: Um certo senhor promontorio, constava que de ocupação de meirinho ou estafeta dos correios, como o Dolermiro. Tinha o Marcelo Indio do Brasil da fase ufanista do positivismo. O Guateri, Guarani, o dr Ortiz Tirado. Radamés, o Hegisto. Um placidonio, o Anacleto e o Talma.

>"A caneta fulgurante de Antenor Pimenta".


"A caneta fulgurante de Antenor Pimenta". Aspicuelta Navarro. "Uma chorumela: latomia só, parecendo ladainha de reza. Coversa de lé: lé com lé, cré com cré, um sapato em cada pé. Hoje você está muito aventureira: faz carapuça e faz enxoval, mas e se o menino vier sem cabeça? tudo são castelos de papas. A mulher que evinha com a rodia na cabeça, uma duzia de ovos, se tanto, e fazia planos: vou por pra chocar, se vingar todos, são doze frangas, que porão depois de grandes, só numa semana são oitenta e quatro ovos: um despropósito. Esses vira frangas depois de chocados de novo. Já imaginou o despotismo de criação? Vendo os frangos e compro novilhas que viram vacas e dão cria de novas bezerras. —O Gaspalzinho vai beber leite bebido! —não! sou eu que bebo primeiro! Voces param de brigarem, senão ..., falou a mãe que ia abaixando, quando a vasilha entornou e a bilha dágua espatifou no chão duro: quebraram todos os ovos. Um lavarinto de criança na cabeça. Uma latomia. E as coisas evinha docemente de repente, seguindo uma harmonia previa benfazeja, com evoluções concordantes: as satisfações em antes da consciencia das necessidades. O que mingua pra uns, pra mim me sobeja. Da morte. O sino tangendo lúgubre: a morte rondando a corrutela. Gente que nunca morreu está morrendo. Será o Leopldino? ...-que nada, esse está forte e sacudido nos seus 90 janeiros. O Muniz velho de guerra? será? ... não esá beirando os cem mas não chegou a hora dele ainda não. " A hora do homem é uma só, num dianta afadigar um nada não". " A morte é uma velha careca que passa de vez em quando, vestida de um branco. Fica atraia da moita esperando a hora do cristão chegar". Quando chega, babau! num tem choro nem vela: pode encomendar a alma e acender as quatro velas. O Cristão veste a indumentaria de madeira e vai pra horizontal definitiva. Acabou-se o que era doce: a única certeza incontestavel.

Os dizeres do João da canela grossa.


Os dizeres do João da canela grossa. O homem, ele é muito especula, gosta de saber coisas , vive assuntando coisas que não está na sua competencia dele de saber. Não tem nada de perguntar. Amanhece, ele lava a cara, de noite lava o pé e dorme. Come, dorme e faz as suas necessidades, só isso que cabe fazer, mais nada. Gosto quando chega de tarde e acaba o dia: sento neste cocho emborcado que você está vendo acolá, aparo as unhas a canivete com paciencia, que o homem nestes ermos de grota escondida, sem mulher vivente por perto, ele tem de ser asseado senão acaba virando bicho. Faço a barba de navalha só nos dias de ir na missa e levar manguara de frango pra vender no comercio. Volto e gosto de ficar sozinho, sem nenhum ninguem pra ficar perguntando das coisas da vida pra única resposta possivel: a vida, ara a vida! são só umas alegriazinhas a-toa. A vida é que nem uma peninha branca avoando ao sabor do vento, feito borboleta no seu passo vacilante e sem destino. Vai pra onde leva o vento. Não adianta excogitar muito, que se a gente pertence a uma bacia, está preso às circunstancias desta bacia, sem ter nada pra fazer de diferente a não ser ajudar as coisas a acontecer dum modo que seja a favor, o resto é só prosa de cigana. Tem gente que pensa que cigana lê a sote, lê a mão da gente, mas a cigana lê é a cara da gente. Pelas rggas e comissuras da cara é que a cigana vê dentro da gente, os olhos vazando os nossos segredos e sofrimentos. O Homem passa a vida fazendo besteira:coisa a-toa, acaba numa existencia silenciosa, conformada. Peleja e luta, enfrenta os perigos e desafia a morte, pra depois, o tempo vencendo, virar num traste velho, sem serventia pra nada. No fim, se lerdiar, é só terra na cabeça do bicho. Quem tem dó de angu, não cria cachorro. Num paga a pena desperdiçar vela com defunto ruim. " o Homem troca a vida pela luta, longos anos de trabalho. Cresce em força e ilusões trilhando por um caminho de sonhos e de pedra. Depois de velho, socega e enfurna. Fica sistemático, antigo e opinioso: sorumbático. Acaba numa existencia de esperança silenciosa e conformada. Pois o Homem fica velho, mas é por amor de suas próprias opiniões dele. Mas, quem vai dar fé em opinião velho? aí então ele fica triste e apaixonado de num ver suas regras acatadas. Mais velho fica. Não significa mais nada: um zero a esquerda. Vira num incômodo pra familia, jogado num canto esquecido, um traste velho sem serventia pra nada. O Homem velho, se ele fala: o povo não escuta, eles acha o assunto desbotado. Então ele acha melhor se calar. E se encolhe: vira carta fora do baralho. O Homem se apaixona, se afasta prum canto triste. Fica velho e repetitivo. Autoritario, pelo amor se suas próprias opiniões dele. E quem vai dar acordo em conversa de velho? Aí é que emburra. a vida dum velho é só dor e sofrimento. todos candidatos a sofrer.

Comida. nos coxos,igual animal


Pois agora gentes, vossas senhorias podem ir se preparando pro pior. Afora as circunstancias desagradaveis da viagem longa, agora vai ser diferente: Agora é diferente : a comida é coletiva, um horror. nos coxos,igual animal, conquanto de inox,higiênica, cheia de remedios. O formol pro corpo vem aos poucos, em rações diarias de doses de pequenas mortes consecutivas. A comida, constantemente reaquecida, oxidada, caldo de bacterias mortas, semivivas, remontada de acrescimos, remexida, pasteurizada, pelos contínuos quentes-frios. Nos coxos, é servida aos jorros, sem o nenhum respeito, desmontada, remontada, liquidificada. Arrasada, os sabores indefinidos, multiplos, inaturais, sem predominancia, muito socializada, igual pra todos, uma lavagem pra porcos de confinamento. A morte lenta, veneno programado, o conservante da morte. Nos panelões, coletiva, remexida, reaproveitada, econômica; líquida, que nem dos porcos, sensaborona, retornada daquele mesmo reservatorio comum, sempre bulida fuçada pelas mesmas conchas e espumadeira, revolvida para aflorar as melhores partes, escolhidas, restando apenas um caldo indefinido, sem origem clara, composto, não individual: "Num pesca não meu irmão, vai pela sorte, senão me deixa só o caldo". Que coisa horrível meu Deus! Comemos feito animais domésticos, os restos, ruidosamente, aos nacos, engolidos mecanicamente e automaticos sem o nenhum respeito pela hora sagrada, sem oração de precedimento, sem rezas, como uzdo antigamente nas casas de familia, a hora de comer um acontecimento impolgante cheio de significado. Um ato solene, cheio de circunstancias do momento de encontro e respeito: um ato de vida. Comia-se? ... não! muito mais que isso, um momento sublime de repasto do espírito, de contrição e respeito pela vida. Fazia-se a refeição com respeito ao ato solene de comer e gostar do que estava se fazendo, com rezas e agradecimentos. Lembro meu velho pai, imperial e majestoso na cabeceira da mesa: levava horas, naquele prazer dispendioso, macetando, espremendo e compondo aquilo do gosto, aos pequenos goles e sorvos, uma demora planejada.

"Se eu como serraia, se eu num como ocê ralha."


As comidas. De primeiro, a gente tinha ainda uma certa dignidade no ato de comer: um ato individual, muito solene, intransferível, ainda que fosse o indevectível prato feito, de mudo, aquela montanha escarpada de arros e feijão, ajeitada com extremo cuidado pra não ruir as beiradas, não desmoronar numa avalanche perigosa. Ao l ado arroz, a lagoa substanciosa de feijão, grosso e caudaloso, os grãos submersos pela calda brilhante. Comido vagarosamente pelas beiras, desocupando o lugar para criar uma praça de manobra das misturas que iam chegando aos bocados, ou ao tombo dalguma abobrinha ou torresmo. Coroando toda aquela arquitetura inabalavel, o ovo frito chapado, equilibrado por cima da couve rasgada, a farinha molhada pelo suor do frango e do lombo. O garfo cheio, equilibrando aquela tentação, a boca cheia, a prosa pouca, os silencios:-do que mesmo, morreu teu pai? ...de repente! Nenhum ninguem num fala um a, a barriga quentinha, o rubor subindo as faces. Garfadas consecutivas e no rítmo certo, pra evitar o embuchamento e o soluço inevitavel nestas condições, sempre o risco de algum novo desmoronamento. Por fim a saciedade, a plenitude. Um pouco dos escombros daquela magnifica estrutura ficando pra volta do dia. O café, sorvido aos goles na boca da garrafa e o ritual de fazer o cigarro de palha, a plenitude o escarrapachamento, o lado bom da vida: as prosas, os causos, a satisfação da vida simples. Um pouco da agua da cabaça entornada, a limpeza dos dentes, os últimos retoques. O repouso merecido pra ganhar folego pro resto da labuta. Vidas simples, produtiva, o suor refrescando o pescoço e o peito. O subaco. O caldeirão profundo cheio até as bordas, a pesca silenciosa da serraia, o margume medicinal, agora reduzido ao restolho e escombros da investida. "Se eu como serraia, se eu num como ocê ralha."

Magnifica rainha.


Magnifica rainha. Suprema e majestosa , quase que pretendendo a soberba. Orgulhosa de seus préstimos. Na face calma, um ar de brandura, um olhar de menina. Traços de uma grande beleza, lembrança perdida de uma juventude distante, mas beleza, que teima em aparecer nas linhas restantes. Só lembranças. O ar triste, de ironia pra si, no se julgar. Velha triste senhora jovem. Até hoje não usa óculos pra tecer seus arabescos indescritiveis. os dedos ageis, manobram com destreza, a agulha e o crochê, fiando labirintos de magnífica simetria: belos, irreprodutíveis. Amou seu homem e amo com extrema dedicação: paciente, subserviente, se lhe fazia as vontades. O café e o leite com farinha, com angu, na cama servido, por décadas. Hoje, vive de curtir suas lembranças. Os gestos, os fatos políticos, as histórias de familia, contadas com minucia, igualzinho ao marido. Magnífica rainha. Rainha do carnaval de 1932. O Clube dos Argonautas tinha tinha orgulho de sua beleza, hoje não mais que sombras do passado distante. Homens se rendendo aos seus pés. Mulheres respeitando seus dotes e encantos, por muitas imitada. Senhora generosa: cria outras muitas mulheres: mãe, da mãe, da mãe, de uma outra mãe de todas as mulheres perdidas por este mundão perdido de Deus. O amor ela tinha em excesso: transbordava. Quase madrinha: magnífica rainha. O que se esconde por trás desses olhos pensativos? Fonte inesgotavel, caudalosa, geradora matriz de outras mulheres generosas, impolutas, incorruptíveis. Puras. Velhas senhoras, de santa virtude, santuarios de grandeza indestrutível.

O asceta, disacursuado da vida.


O asceta Um gosto estranho pela vida dos santos e uma queda para a provação e a privação de tudo: o simples de num ter nada de seu: simples, simplório. Vida sem premios, sem nada pra se gabar. A mulher: só matris criadeira de rebentos descendentes, produtora. Uma escadinha de filhos, de todas as idades consecutivas, até dois no mesmo ano. Aprontaram um frégi danado, mas ninguem deu parte. levaram o povo pro xadrez e os animal pro curral de conselho. Só. Ele aproveitava da ocasião porque tem capa. Quem que é o capa dele. Você duvida? pois então ouça. Pois é o prefeito o capa dele. quantos crimes que ele cometeu na vida e passou encoberto? quantos num tem nas costas? um sujeito estrambólico, bem psicodélico. um fulano escalafobético, disacursuado da vida. Eles dois vivia encasquetados com a vida. Um, louco, a idéia dissolvida. O outro mais lúcido, mas sambanga. E num é que o sambanga viveu muito, acabando por assistir a morte do outro, dependurado do tronco de arve, por um cipó de embira?! ...coisas da vida. A vida acaba sem explicação plausível, a morte vindo de ser o remédio. O que num tem remédio, remediado está.

tudo é vaidade, nada mais que vaidade


Tudo que a gente faz, ou que fez, foi o criador que pôs na nossa frente pra gente se entusiasmar e se afadigar. Eu mesmo, já fiz muita coisa, por querer deu mesmo, as veses por mando de outros, por industriação. No fim acaba chegando a conclusão que tanto faz como tanto fez, as coisas feitas por desperdicio de num ter o que fazer, que o mundo num gasta nenhuma energia preciosa. No fim, tudo é vaidade, nada mais que vaidade, com que dizia o Zé Louquinho: nada vale nada, a vida num vale uma cabaça dágua furada. A vida, se lerdiar, é só dor e sofrimento e acaba sempre com terra na cabeça do bicho. Falei, tá falado e tenho dito. Se lerdiar, num átimo, a vida vai pro beleléu. Os zoios remelento, cutia e ranho pelo nariz, em bolhas semoventes, persistidas. Uma tosse denunciadora de muitos anos de bronquite. É quando chega o ânimo quais que esgotado, esperado, que gente sente os olhos embaciados, o olhar longe no vazio distante do infinito de tristeza, o sem assunto nenhum pra falar de nenhum nada: só cismando as coisas da vida inútil.

Traste velho, sem serventia pra nada


O Homem, ele cresce em força e em sonhos, trilhando por um caminho de dor e de pedras: enfrenta o perigo e desafia a morte, pra depois, o tempo dele vencendo, virar num traste velho, sem serventia pra nada. Tudo que a gente faz, ou que fez, foi o criador que pôs na nossa frente pra gente se entusiasmar e se afadigar. Eu mesmo, já fiz muita coisa, por querer deu mesmo, as veses por mando de outros, por industriação. No fim acaba chegando a conclusão que tanto faz como tanto fez, as coisas feitas por desperdicio de num ter o que fazer, que o mundo num gasta nenhuma energia preciosa. No fim, tudo é vaidade, nada mais que vaidade, com que dizia o Zé Louquinho: nada vale nada, a vida num vale uma cabaça dágua furada. A vida, se lerdiar, é só dor e sofrimento e acaba sempre com terra na cabeça do bicho. Falei, tá falado e tenho dito. Se lerdiar, num átimo, a vida vai pro beleléu. Os zoios remelento, cutia e ranho pelo nariz, em bolhas semoventes, persistidas. Uma tosse denunciadora de muitos anos de bronquite. É quando chega o ânimo quais que esgotado, esperado, que gente sente os olhos embaciados, o olhar longe no vazio distante do infinito de tristeza, o sem assunto nenhum pra falar de nenhum nada: só cismando as coisas da vida inútil.

Um caminho de dor e de pedras:


O MENINO -Esse menino é mesmo que coisa ruim. -Você não tormente a idéia da cabeça, não, creatura de Deus! desse jeito você está caçando um jeito é de eu rumar esta manguara no alto desprovido de seu bestunto da tua pinha, feito pau de dar em doido. tenho dito: Prudenciana froes de albuquerque calazans. E foi, que se deu de acontecer um causo muito estranho da morte do casal de fazendeiro, sem o nenhum aviso prévio, consoante os registros dos anais do cartório do crime. Como que um alguem ia de imaginar um vivente daquelas matas, pasando só de vento e banana, de casca e só, como um bugiu. Só mesmo um Valdevino e Isaltino: Dorico e Doclideo. Se deu na foi na Cana do Reino, no encantado da Serra Escura, a Serra do Bugiu, de como que um era pra morrer e ficou vivo pra assistir a morte do outro enforcado no cipó de embira. "Como que as coisas são engraçadas e o destino caprichoso! a gente, o Homem passa o tempo da vida buscando uma explicação pro significado das coisas, tentando distinguir o certo do errado. Mas tem hora que desitende, acaba fazendo besteiras, meio por rumo, sem saber direito o que se passa em roda. Chega uma hora que até dá vontade de morrer e a gente nem sabe se estora os miolos como que muita gente já fez na vida e a gente não tem nada que dizer. Hoje, a gente não sabe se fizeram a coisa certa. A vida do Homem, ela é mesmo cheia de peripécias. Tem horas que a vida está por um fio de navalha. O mundo é muito grande, e o Homem está num cantinho muito longe, escondido, sem importancia nem motivos nenhuns pra ninguem botar pensão dum nada. Dizia o velho na sua simplidade: Eu sou de lá do sertão, por isso mesmo, eu quase num tenho amigos, vou vivendo a esmo, eu quase não saio, vivo só nesse mundo de meu Deus. O Homem, ele cresce em força e em sonhos, trilhando por um caminho de dor e de pedras: enfrenta o perigo e desafia a morte, pra depois, o tempo dele vencendo, virar num traste velho, sem serventia pra nada.

A dor ciática. A gota serena.


O que doe nele, não é nada disso, até que suporta bem os calos antigos, o esporão, a dor ciática imprevisivel, a gota serena, o lumbago e o cheiro ruim de peles ressequidas: tudo, macacoas de velho, doenças incuraveis e a tosse companheira de muitos anos. O que mais lhe cala o âmago do ser é se sentir oculto, que nem tem mais nada pra dizer, de interessante pra ninguem. Fica desesperado quando tenta mostrar algo de novo, de grande, uma grande descoberta de problema dificultoso, um livro. Não existe mais assistencia pra o julgar, pra ficar impressionado com sua criação, com sua sentença judiciosa. Como diz o velho amigo Zé Muniz: fica que nem velho a-toa, que só tem serventia pra informar. Ouvem educadamente, com atenção, mas procuram de não chegar perto, se afastar de sua velhice contaminosa. Qualquer coisa que faça, é julgada como natural, que é assim mesmo, proprio dum velho: o que se podia esperar. Pouco importa pra eles. Logo deixam a cena, fica o velho com sua ranhetice e a sua esclerose cansativa, a enfisema, o alzeimer, a tosse repetitiva: isto sim cala fundo. Uma fina lembrança, um travo na boca, um gosto amargo, um nó na garganta: o recolhimento, a entrega do seu eu, próprio e intransferível. O que sente mais é quando vira um chato, quando o que diz parece grego, só entendido por meia duzia de gatos pingados. Quando já não faz mais sucesso, a não ser pelas virtudes negativas. O que doe fundo é quando começa ser revenrenciado, consultor de problemas academicos, pra fazer outros jovens brilharem. Quando perde a audiência, ou quando a vós soa autoritaria e estridente e vira vulto histórico. Quando começa a ser analizado julgado e denunciado pelo que não tem de juventude: a pele lisa e cheirosa, o riso franco dos inocentes, a falta da ironia, da malicia e mordacidade. Quando ajornado aos tempos novos, fica ridículo, como um palhaço, vestido de roupa berrante e o tenis extemporaneo. Se principia de contar uma historia, logo acham a conversa desbotada e aí que ele fica apaixonado.

vasculhando reservatorios profundos da lembrança


Ele sempre fazia isso: o recolhimento por uns dias no hospital, por ordem médica, pra recompor. O efeito dos medicamentos o distanciava do mundo. Principiou de gostar da brincadeira, começou de amiudar, passaram a tres, quatro dias, o retorno à normalidade do dia a dia, foi se tornando penoso. A perda do interesse pelo contato com as pessoas, cada vez mais mergulhado dentro de si mesmo. Os negocios, paralizou alguns. um passo a frente, dois atraz. Desmobilizou. A esclerose multipla, o gosto pelo afastamento, natural. Aquilo, um flagelo, um sanapismo. Aquele era um sertão, um lugar triste, um ermo, um fim de mundo esconso, sem fim, perdido no meio do vazio petrificado. Do que ele fica triste e disacursuado, não é com a velhice física, o entrevamento, a falta de mobilidade, quando os menores gestos ficam custosos, como levantar dum banco: por isso não sai pra fora de casa, fica só, só fica quentando fogo, em noites que não tem nunca fim. Nem com a surdez, a perda dos dentes, a careca, o mau halito, o cheiro de velho, das feridas, as recorrencias, nada disso: ..., isto até que passa. Começa até a encontrar prazer no descansar os ossos, cismar silencioso, podendo ficar isolado, só e seus pensamentos, a cabeça livre de vagar por territorios longínquos, vasculhando reservatorios profundos da lembrança. Buscar fatos antiquíssimos, de muita vangloria, uma lembrança fina de coisas gostosas da infancia distante, da remota mocidade.

só, na multidão, boiada: caminhando a esmo.


A nenhuma rompancia, pacífico que só: palavras boas, a presença quase que desapercebida. Gosta de contar historias e nisso era mestre.Mas fala de coisas ancestrais, eles logo acham sua prosa dele desbotada. Então ele fica apaixonado: se retira e cala, prum canto sombrio, um ermo, encostado num fundo de grota, num vazio desprovido. Recolhe-se a sua casca de caramujo. Não se mostra pra nada, nem pra o nenhum ninguem. E acaba numa vida sem brilhos, longe da cidade, um nada de aparencia: só simplidade. Alí fica como ave reclusa, esperando o tempo vencer, olhando o passado, resmoendo estomagos. Redundante, recorrente, volta e meia as coisas sempre voltando à tona. Antes era um bisca de ruim, um íngua. Depois que ficou velho amansou. Adotou uma prosa pausada, um proseado rouco, grosso e autoritario: deu pra ficar solene. O alheiamento, o autismo. eu sou de lá do sertão, por isso mesmo: eu quase não tenho amigo, eu quase que não consigo ficar na cidade sem viver contrariado sou como rês desgarrada, só, na multidão, boiada: caminhando a esmo.

>Nenhum ninguem


Nenhum ninguem num tinha que num ia de dar ouvidos pelas prosas sonsas dum velho imprestavel, ancestrais. Alguns velhos mineiros fazem isso sempre. um recolhimento profundo, o olhar pra dentro, trespassado da lembrança toda do tempo feliz da vida. Um olhar de bondade, esperançoso. O gesto pequeno, sem exagero de rompancia nenhuma nada, maneiro de nenhuma agressividade, ar superior mas tímido, na desimportancia de enorme grandeza. Está sempre pensando na gente sua e nos seus trens. Uma imensa bondade, nos seus olhos tristes de velho. Nunca que brigou. Jamais bateu em ninguem, muito menos num passarinho que seje. Sempre bom, a prosa muito mansa, esperando a vez com paciencia. De seu, o que tem é nada: só trapos, bugigangas. Guarda só lembranças. E no entanto, seu ar é sombranceiro, majestoso até. O terninho de brim, digno e limpo, solene e aprumadinho todo todo, de chapéu. As mãos asseadas, unhas aparadas a canivete, com cuidado e lento.