Magnifica rainha.
Suprema e majestosa , quase que pretendendo a soberba. Orgulhosa de seus préstimos. Na face calma, um ar de brandura, um olhar de menina. Traços de uma grande beleza, lembrança perdida de uma juventude distante, mas beleza, que teima em aparecer nas linhas restantes. Só lembranças. O ar triste, de ironia pra si, no se julgar. Velha triste senhora jovem. Até hoje não usa óculos pra tecer seus arabescos indescritiveis. os dedos ageis, manobram com destreza, a agulha e o crochê, fiando labirintos de magnífica simetria: belos, irreprodutíveis.
Amou seu homem e amo com extrema dedicação: paciente, subserviente, se lhe fazia as vontades. O café e o leite com farinha, com angu, na cama servido, por décadas. Hoje, vive de curtir suas lembranças. Os gestos, os fatos políticos, as histórias de familia, contadas com minucia, igualzinho ao marido. Magnífica rainha. Rainha do carnaval de 1932. O Clube dos Argonautas tinha tinha orgulho de sua beleza, hoje não mais que sombras do passado distante. Homens se rendendo aos seus pés. Mulheres respeitando seus dotes e encantos, por muitas imitada. Senhora generosa: cria outras muitas mulheres: mãe, da mãe, da mãe, de uma outra mãe de todas as mulheres perdidas por este mundão perdido de Deus. O amor ela tinha em excesso: transbordava. Quase madrinha: magnífica rainha. O que se esconde por trás desses olhos pensativos?
Fonte inesgotavel, caudalosa, geradora matriz de outras mulheres generosas, impolutas, incorruptíveis. Puras. Velhas senhoras, de santa virtude, santuarios de grandeza indestrutível.