O que doe nele, não é nada disso, até que suporta bem os calos antigos, o esporão, a dor ciática imprevisivel, a gota serena, o lumbago e o cheiro ruim de peles ressequidas: tudo, macacoas de velho, doenças incuraveis e a tosse companheira de muitos anos.
O que mais lhe cala o âmago do ser é se sentir oculto, que nem tem mais nada pra dizer, de interessante pra ninguem. Fica desesperado quando tenta mostrar algo de novo, de grande, uma grande descoberta de problema dificultoso, um livro.
Não existe mais assistencia pra o julgar, pra ficar impressionado com sua criação, com sua sentença judiciosa. Como diz o velho amigo Zé Muniz: fica que nem velho a-toa, que só tem serventia pra informar. Ouvem educadamente, com atenção, mas procuram de não chegar perto, se afastar de sua velhice contaminosa. Qualquer coisa que faça, é julgada como natural, que é assim mesmo, proprio dum velho: o que se podia esperar. Pouco importa pra eles. Logo deixam a cena, fica o velho com sua ranhetice e a sua esclerose cansativa, a enfisema, o alzeimer, a tosse repetitiva: isto sim cala fundo. Uma fina lembrança, um travo na boca, um gosto amargo, um nó na garganta: o recolhimento, a entrega do seu eu, próprio e intransferível.
O que sente mais é quando vira um chato, quando o que diz parece grego, só entendido por meia duzia de gatos pingados. Quando já não faz mais sucesso, a não ser pelas virtudes negativas. O que doe fundo é quando começa ser revenrenciado, consultor de problemas academicos, pra fazer outros jovens brilharem. Quando perde a audiência, ou quando a vós soa autoritaria e estridente e vira vulto histórico. Quando começa a ser analizado julgado e denunciado pelo que não tem de juventude: a pele lisa e cheirosa, o riso franco dos inocentes, a falta da ironia, da malicia e mordacidade.
Quando ajornado aos tempos novos, fica ridículo, como um palhaço, vestido de roupa berrante e o tenis extemporaneo. Se principia de contar uma historia, logo acham a conversa desbotada e aí que ele fica apaixonado.