PARLAROSPIROSE
O Chedasvinto, ele era um homem prosa : todo mundo gostava dele pelo seu jeito placiano de prosear. Ele não era ruim nem nada, mas um defeito ele tinha: era lerdo de tudo.
—O Chedasvinto?!...êta caboclo bom, o povo falam, mas difícil para pagar conta. Não é que ele faça de caso pensado, para levar vantagem, mas tem vez que ele esquece até as conta que era credor. Dizem que foi atingido de raio em criança, por isso que as vezes fugia a idéia dos pensamentos da cabeça.
Gostava era de arrear o burrinho e fazer visitas demoradas, assuntando pequenos negócios, mas no decorrer do tempo acabava perdendo o fio da meada: um causo difícil de lidar, quando o povo perdiam a paciência com ele.
Lá ia estrada fora, o burrinho de tão mestre que ia abrindo as porteiras em rumo incerto, o objetivo nenhum: ia pra onde o vento leva, os pensamentos avoando longe. Chegar, chegava, não se sabe onde. Portava uma folhinha surradas, se perdia em datas e retratos de santos. Decerto de lá foi a mãe tirou o nome estrangolado que chamava ele: custoso de acreditar mas, as famílias muito grandes, vocês faça uma idéia: assim era o costume.
Duma vez, ele estava na casa do compadre dele, o tempo passando, se fazia tarde e nada do Chedasvinto tomar a iniciativa de se ir s' ímbora. E não é que lá pelas tantas, depois de já ter jantado fazia tempo, pensou, ele mesmo,de advertir o compadre:
—Não é por nada não compadre, mas não acha que vai chover?
O tempo azangado de tudo, os trovões e coriscos fazendo prever tribuzana das brabas.
—Óia compadre, se quiser pode bater pouso, faço questã, mas se tem compromisso, melhor ir se apressando que já está chuviscando, a distancia não é perto, emendou o Chedasvinto.
—Quem tem de apressar é você compadre, pois saiba que você é que está na minha casa: eu estou belo e folgado, daqui a pouco estou roncando, que preciso levantar cedo para tirar o leite. agora você,... se quiser que apresse se não quiser pegar constipação: um defluxo nessa tua idade não é brinquedo, você bem está ao par.
—Uai compadre! e não é que é mesmo, o burrinho arreado, cansado de esperar, coitado, fino de fome e sede na fiúza do Chedasvinto. Despediu e foi. No caminho foi que alembrou de mijar: bem que podia fazer o serviço lá no compadre mesmo, como sempre até disso esquecia. Foi aí que pensou: ara! bobagem, sô: vai chover mesmo, que precisão eu tenho de apear só para urinar, deixa molhar que a chuva lava. E num é que a chuva num veio: que papelão!
Distraído de tudo foi que começou a perceber que o burrinho encurtava, estava quase pegando as orelhas do animal. Parou para apertar os zarreios, mas aí já estava dentro do corguinho, o burro fazendo bochecho e batendo a pata dianteira, brincando com a água.
Molhou até as virilhas, apertou o burro e montou. Mas aí, já estava virado pro lado da casa do compadre.
—Que jeito esse compadre? esqueceu o chapéu? molhado desse jeito o melhor é levar a minha capa ideal. Mas vê se presta mais atenção: já dava pra você ter chegado em casa, está perdendo o juízo da idéia?
Chegar, chegou: mas aí já eram altas da madrugada, a mulher com pensão do paradeiro do Chedasvinto. Dormiu de roupa mesmo que já estava na hora de tirar o leite das vacas.