uma familiagem muito grande de gente dos Figueiredo da Divisa. Tinha o Joaquim Iquita,
de nome Joaquim dos Santos , o João Marcolino ou Paulino e o Simeão e o resto dumas
mulher solteira, muito antigas.
Não era velho nem moço: miseravel de passar mal de boca, desses que comem
bastante no almoço, pra se esquecer do jantar. Nem se podia dizer que era velho de tudo:
no dizer de todo mundo, uma pessoa entrada em anos, de meia idade, com muitos janeiros as
costas e um ar de poucos amigos. Na feição magra, um ar de tristeza permanente, mas não
reclamista da vida. Na cara magra, um papo insolente, inconfundivel, impossivel de um não
não perceber o corpo estranho no primeiro relance: depois disfarça. Mas desses de bolinha,
semovente, que sacode quando a pessoa proseia.
Solteirão inveterado, embirrado, tirava leite dumas vaquinhas magricelas, os bezerros
tambem magruços, tal e qual, do pouco leite deixado, mais por misereza do dono,
um unha de fome. Do leite, fazia queijo pra vender na cidade: só que nos fins de semana,
quase não aparecia, de tão sistemático. A restea, vivia reclamando das despezas: umas
mingueras, constando até, que passava mal de boca. As roupas surradas e vestida sem passar
a ferra de brasa, lavava num quarador com tabua de batedor num corguinho do fundo de casa
perto duma mina d´agua. O sabão de pedra, preto de bola enrolada em palha de milho, ele mesmo
fazia de dequadra de cinza de fogão e gordura rançosa de porco e os restos de pacuera, miudos e tripas de porco,
sobrados da espremeção de toicinho. As carnes, conservava por semanas na gordura talhada, fritas e costuradas com linha. Fazia linguiça e chouriços de sangue de porco. Do leite desnatado em desnatadeira Alfa-Laval, extraia o creme para o fornecimento semanal a fabica do Bergander, das sobras, a manteiga batida em corote de madeira. O soro corria por uma bica, direto pro chiqueiro, onde chafurdavam uns poucos porcos tratados a lavagem e bosta dele próprio, de tão miseravel. Uma cordinha de gatos, bebia o soro até se fartar, os quatro pés apoiados nos dois lados da bica. De tarde apartava as vacas e depois ia pro paiol descascar milho. Fazia o fubá no moinho rustico de setilha e pedra de mó, misturarava ao soro pra tratar dos por porcos. Os porcos de mangueiro, viviam chorando de fome. Tratava com milho em espiga mesmo, sem descascar.