-Aquilo, nem num eram modos de falar com gente de cidade.
-Ele não era opilado nem nada, mas podia que sofresse de forgo curto:
sempre afadigado, uma ansiedade constante de estar sempre fazendo as coisas.
Armava mundéu pra paca e tatu, construia chiqueirinho de estranha arquitetura,
heia de labirintos pra caçar os nhambus xeretas e dava tudo por um dia inteiro
passado na espera de um estaleiro, girau de paca. Capivara ele matava no carreiro
com armadilha de canhão. Podia que tivesse bichas que arvoroçava de vez em quando,
quando comia semente de abobora. Era chegadinho num parí pra pegar peixe, entancando
o rio, que terminava numa esteira de carro de boi ladeada por caniços. Raro o dia que
não encontrava uma piaba ou tabarana pro almoço, o mais era peixe pequeno, curimba,
campineiro e tambiú. A noitinha era a hora dos bagres e mandís, nos poções fundos dum
sumidouro numa volta de rio. A traira, pescava nas vazantes ou nos remansos de rio largo.
Ali, passava horas escogitando os misterios da vida. Os pensamentos avoava longe.