quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Os culhões pro Padre Antonio


"Entrego minh'alma à Deus, meu corpo à terra fria Os culhões pro Padre Antonio e a pica pra tia Maria." Aí, o velho foi falando a prosa dele, sem a pressa nenhuma nada, até que a historia chegou no deserto: não estava nem podendo com a gata pro rabo. Mas a sua vós dele se dissolvia como que tragada pela areia do deserto da sua juventude: a imagem de catingueiras, cactos e cascavéis. Os olhos semi-cerrados, trespassando a gente, como um imenso largato, a papada suspensa, longe no tempo, o olhar travesso, engraçado e pasmo, parado, congelada a imagem, os seus meneios de cabeça: ridículos. A pequena praça da corrutela, vazia de vivalmas. O tempo parado nos ponteiros imóveis do relogio do velho campanario. Despertou solerte, como se tivesse herdado subitamente a velhice do velho sem a sua juventude dele. Depois de uma eternidade, como fazia o Zeca Zico, no seu ar soronho, disse para ninguem: -Ó, o peso imenso desta vida de viver por rumo! Retornava ao caminho de volta, com a minuciosidade implacavel das coisas gravadas pelo destino. Disacursuado da vida, fez que sim com a cabeça e disse: -Não!